quinta-feira, 6 de julho de 2017

PUBLICADO EM ZERO HORA
(1º de junho de 2016)


JORNALISTAS TORCEM PARA O EU F. C.

Como postou outro dia o talentoso e gente fina Leonardo Oliveira, colunista de Zero Hora e editor de esportes do Diário Gaúcho, “futebol, para nós, jornalistas esportivos, é trabalho. Será que é tão complicado entender?” Infelizmente, Leo, é. Primeiro porque o torcedor pensa com o coração, e é esta paixão que torna o futebol tão encantador; segundo, porque o público nem sempre faz a devida distinção entre comentaristas pagos somente para dar opinião e jornalistas remunerados para cobrir os fatos.

Temos de admitir ainda que o jornalismo atual embaralhou tudo. Os profissionais manifestam-se também em blogs, páginas no Facebook, Twitter, Instagram, vídeos no YouTube e por aí vai. Assim, a informação se confunde cada vez mais com a opinião e, essa, com a suposta parcialidade. Evidentemente, sempre haverá mal-intencionados em qualquer profissão, mas eles são poucos, podem ter certeza. O fato é que anos de convívio profissional com o futebol reduzem em razoável medida as passionalidades, embora não as eliminem totalmente. A prioridade é o próprio desempenho, a própria carreira. Acima de tudo, cada um torce pelo Eu Futebol Clube, afinal, trata-se de seu ganha-pão.

Como sou gremista, em meus tempos de ZH, sempre que fechava uma manchete, como editor de capa ou de esportes, e a notícia dizia respeito ao Inter, eu convidada o Seu Wilson a dar uma opinião. Quando ele aprovava, a página era liberada. Quando ele fazia qualquer objeção, recomeçava a busca pelo título mais preciso, ou a legenda, o olho e etc. Coloradíssimo, ele sabia ser bastante crítico com o time do coração, em caso de algum revés, e empolgado na medida certa nas vitórias. Era meu termômetro. Se passasse pelo crivo dele, eu estaria livre dos telefonemas de leitores paranoicos no dia seguinte – a internet ainda não havia dominado a cena naquele tempo.

O mais antigo dos auxiliares de redação de Zero Hora, ele era das raras pessoas a serem chamadas de senhor mesmo pelos ocupantes dos cargos mais elevados. Tornou-se um ícone. Chegava-se a perguntar: “Tem algum Seu Wilson por aí?” Os tempos são outros, é óbvio, e nem o Seu Wilson impediria que chovessem críticas, sempre em quantidade muito maior do que elogios, pois é da natureza humana. Cabe a nós, jornalistas, seguir exercendo nosso papel da forma mais profissional e ética possível. E manter a serenidade no convívio com os exageros que se permitem pessoas protegidas atrás do teclado.


(Foto de Diego Vara/Agência RBS)

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