Francesc Petit, o P da DPZ
A Espanha foi palco de um golpe de Estado, em 1923,
liderado pelo general Miguel Primo de Rivera e com as bênçãos do rei Afonso
III. A crise mundial provocada pela quebra da Bolsa de Valores de Nova York,
ocorrida em 1929, fragilizou os detentores do poder e o rei retirou o apoio ao
ditador. Dois anos mais tarde, com a vitória de socialistas, nacionalistas e
republicanos nas principais cidades, Afonso III foi para o exílio. Os
conservadores voltaram ao poder em 1933 e, em outubro no ano seguinte, eclodiu
uma revolta nas regiões da Catalunha e das Astúrias, em seguida debelada pelo
governo. Em 1935, derrotados nas urnas, os conservadores, apoiados pelo
Exército e pela Igreja, planejaram novo golpe. Começou então a Guerra Civil
Espanhola, que em três anos deixou saldo de 350 mil mortos. O conflito acabou
em 1939 com a vitória dos militares e a instalação de uma ditadura fascista comandada
pelo general Francisco Franco. Com a oposição sufocada, Franco ficou no poder
até sua morte, em 1975, quando o rei Juan Carlos I – que recentemente abdicou
em favor do filho, Felipe VI – tornou-se chefe de Estado. Um parlamento eleito
democraticamente aprovou a nova Constituição e a Espanha passou a ser governada
de fato por um primeiro-ministro. O atual é o conservador Mariano Rajoy.
Francesc Petit Reig nasceu em
Barcelona, na Catalunha, em 1934, ano da rebelião, e cresceu no contexto da
Guerra Civil Espanhola, que arrasou o país, e, na sequência, da Segunda Guerra
Mundial. Desde cedo começou a aprender o ofício do pai e, aos 10 anos, já o
ajudava em sua pequena serralheria. Eram tempos duros, de miséria quase
absoluta, em que faltavam itens básicos, até mesmo água, para a maioria da
população, e de violentíssima repressão. O pai de Francesc em duas ocasiões
esteve a ponto de ser fuzilado, tendo sido arrastado de casa no meio da noite
na frente da impotente família, enquanto os soldados quebravam tudo dentro da
residência. Ele mesmo, ainda adolescente, voltava para casa com um pão dentro
da mochila quando foi ameaçado de prisão porque acharam que o pão era produto
de roubo ou contrabando.
Passado o conflito
na Europa, em 1946, aos 12 anos, o menino começou a correr de bicicleta, uma
das paixões que o acompanhariam por toda a vida. Acordava às 4h para treinar e
chegou a ser bicampeão catalão e campeão espanhol. Também naquela época passou a
estudar artes. No final da década, a família decidiu procurar novos ares em
busca de oportunidades. Como a mãe do garoto era natural de Honduras, aquele
foi o país escolhido. As passagens já estavam compradas quando um amigo médico,
que viajara ao Brasil para participar de um congresso, jantou na casa deles e
falou muitas coisas boas a respeito de São Paulo. Empolgado com as palavras do
amigo, o pai de Francesc foi à agência de viagens e trocou as passagens: o
destino da família seria o Brasil, onde desembarcaram em 1952. Os pais jamais
haveriam de se adaptar totalmente à nova terra, mas, para o menino, que já
partiu da Espanha tendo se iniciado no ramo da propaganda, foi mais fácil e
definiu seu futuro. Francesc Petit estudara pintura na Escola de Belas-Artes de
Barcelona, entre 1945 a 1951, e no Studio de Joaquim Girbau de arte e
propaganda. Em 1947, trabalhou na Gráfica Secx & Barral como retocador de
fotolito. (Leia a continuação clicando no link abaixo).