sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Todas as notícias que merecem ser vividas

Tudo acerca do New York Times, historicamente o melhor jornal do mundo, reveste-se de ancestralidade. Seu lema, o norte da redação, “todas as notícias que merecem ser publicadas”, tem inspirado gerações de jornalistas. Difícil criar mote mais emblemático, e por certo é presunçoso tentar, mas um dia imaginei um jornal dotado de uma bússola precisa como a do Times, embora com foco em outro modo de entender o que é importante no mundo. Isso foi bem antes da explosão da internet e da aparente sentença de morte dos jornais impressos. E, convenhamos, certas coisas só emplacam no papel, ainda que solte tinta, cheire mal e esteja destinado a embrulhar peixes no dia seguinte.

Neste despretensioso exercício, como todo presunçoso, não fui original, apenas pensei em adaptar o slogan do NYT a um modo de enxergar a vida do homem comum por meio de lentes um tanto quanto hedonistas: “Todas as notícias que merecem ser vividas”. Os jornais se ocupavam mais, e seguem se ocupando, dos assuntos considerados importantes, e bem menos daqueles que poderíamos classificar como “interessantes”. Todo jornalista que se preza sabe disso, bem como sabe que as chamadas informações “macro” são inescapáveis. A morte do líder do Talibã, a previsível quebradeira do castelo de cartas trucadas de Eike Batista ou um tiroteio no aeroporto de LA são importantes porque, queiramos ou não, o mundo é um só, a economia e a política, internas e externas, inevitavelmente se interligam, e mesmo informações de face remota e árida poderão impactar nossa vida em algum tempo, e irão.

Meios de comunicação convencionais descobriram, há apenas uns 20 anos, por aí, e muito tardiamente, que a vida do “leitor comum” passava ao largo de 90% do conteúdo que publicavam todos os dias. O esforço para recuperar o tempo perdido tem, a partir de então, produzido prodígios patéticos, incontáveis chavões e algumas simples tolices. Desde que as redações descobriram a pólvora de que a morte de um jovem deveria ser abordada não pelo que aconteceu, mas pelo que deixou de acontecer, a expressão “vida interrompida” é utilizada à exaustão. É só um exemplo. O bafo na nuca emitido pela internet e, concedamos, pelo “clamor das ruas”, acuaram os produtores de notícias. A informação tornou-se propriedade de todos e, portanto, de nenhum. Conceitualmente, ótimo. Mas, é óbvio, a qualidade, a profundidade e a seriedade dos noticiosos virtuais é, de modo geral, lastimável, para dizer o mínimo, mas aí já se trata de outra e longa discussão.

                Voltando à presunção, “todas as notícias que merecem ser vividas” é muito mais do que ampliar os espaços de cultura, lazer, gastronomia e etc. Isso qualquer um faz. Sintonizar-se aos tempos atuais, ao “leitor comum” sem afetações ou excessos que beiram o infantil é um desafio e tanto. Ninguém tem a fórmula, a julgar pelas publicações tolinhas que pululam por aí sob uma fachada de seriedade e consistência que não se sustenta, considerando-se seu declínio cada vez mais acelerado. É claro que eu não conheço o ingrediente mágico, apenas tive um pensamento presunçoso.