sexta-feira, 20 de maio de 2011

LIVROS

A revolução de 1989

“Esta é uma história com um final feliz”, informa o autor na primeira linha de A Revolução de 1989 - A Queda do Império Soviético. "Ninguém que tenha testemunhado a alegria nas ruas de Berlim, Praga ou Budapeste no final de 1989 conseguirá esquecer aquelas extraordinárias cenas de celebração", segue Victor Sebestyen a respeito do tsuname libertário que encontrou seu ícone maior na queda do Muro de Berlim, em 9 de novembro de 1989. O final feliz, no caso a derrocada do comunismo patrocinado pela União Soviética que dominara a Europa Oriental desde o final da Segunda Guerra Mundial, foi especialmente feliz para o autor, jornalista húngaro obrigado a deixar sua terra natal após a invasão soviética. Nas décadas seguintes, Sebestyen acompanhou as transformações ocorridas na região a partir do privilegiado posto de correspondente internacional de publicações britânicas. A abordagem e a linguagem jornalísticas são, por sinal, uma das virtudes do livro. A narrativa direta e simples - prejudicada por uma revisão algo descuidada da edição brasileira - aproxima-se do didatismo. Embora pouco acrescente a quem acompanhou com atenção o desenrolar da história na segunda metade do século 20, traz detalhes que ajudam a iluminar um período sombrio da trajetória europeia e mundial.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

LITERATURA

Suicídios exemplares


         Se o pensamento é o único território realmente livre de que dispomos, uma vez que os sonhos abarcam doses de desejos, temores e outras sensações obscuras despejadas pelo inconsciente – embora bem possa ser o contrário –, o suicídio é a última fronteira da capacidade humana de se rebelar contra as circunstâncias de vida, considere isso destino ou mera sequência aleatória de acontecimentos. A criatura, num ato de extrema rebeldia, desafia o poder de vida e morte do criador, ou simplesmente abre mão da própria vida na tentativa vã de provar algo a si mesmo ou, invariavelmente, a alguém, mesmo sabendo que, ainda que a mensagem chegue ao destinatário, o sacrifício já não lhe servirá de nada.
         Muitas vezes, a abordagem é menos romântica, transformando o ato em simples e rápida forma de se livrar de dificuldades cotidianas, sejam elas dívidas, excesso de responsabilidades ou prosaicos problemas de baixa auto-estima. Na interpretação de Albert Camus – a despeito de eventuais rancores ideológicos, figura de proa na literatura e na filosofia do século 20 –, o suicídio é a questão filosófica primordial. Trata-se de decidir se a vida vale ou não a pena ser vivida, sendo o resto consequência de tal reflexão. Segundo Sêneca, nas Epístolas Morais a Lucílio, “nada melhor a lei interna fez do que nos dar uma entrada para a vida e muitas saídas”.