Gay Talese é sempre
uma ótima notícia
(Texto publicado originalmente na revista Aplauso)
Depois de me engalfinhar por alguns minutos com a conexão do fone de ouvido e de aceitar o fato de que mais um equipamento novo, e caro, não funciona adequadamente, e de maldizer os fabricantes de tudo que não funciona adequadamente, olhei para o relógio e pensei no meu editor chegando à sua mesa de trabalho, pela manhã, e esbravejando ainda mais ao não encontrar o meu texto em seu e-mail. Flávio Ilha é um homem experimentado, inclusive nos círculos do poder, tendo sido repórter na capital federal por muitos anos e, após passar por tão variadas e ricas experiências, tolerar alguns atrasos de um resenhista veterano talvez não seja assim tão exasperante. Ele tem sido compreensivo, quem sabe porque eu tenha crédito, e um raro atraso em função de compromissos profissionais de conhecimento público seja mesmo aceitável.
O fato é que deixei para o último minuto, pensei em escrever a mão e depois pedir para alguém transcrever enquanto eu dormia por um período decente, só para quebrar a rotina dos últimos dias. Valer-me da caneta teria sido uma bela homenagem ao autor do livro que me dispus a comentar – como o foi abrir o texto desse modo –, ainda que qualquer comparação esteja a anos-luz de todos nós, uma vez que se trata de um dos maiores jornalistas de que se tem notícia, um ícone, alguém capaz de fazer jovens enveredarem pelo caminho tortuoso da cobertura dos fatos, tanto quanto de devolver aos mais experientes um genuíno orgulho pelo ofício.