sexta-feira, 31 de outubro de 2014


CARTA DE GRAMADO

Em 2009, um grupo de voluntários de diversas áreas constituiu o Fórum Saúde Mulher, do qual orgulhosamente faço parte. Na ocasião, elaboramos um documento que se tornou conhecido como Carta de Gramado, com proposições objetivas e viáveis para melhorar o atendimento às pacientes com câncer de mama em questões como o acesso ao diagnóstico precoce e preciso por meio de mamografias de qualidade, o tratamento num prazo mínimo a partir do diagnóstico e o direito à reconstrução mamária no mesmo procedimento da retirada, entre outros aspectos.

Por iniciativa e com coordenação de José Luiz Pedrini, chefe do Serviço de Mastologia do Hospital Conceição, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia e, na ocasião, presidente do Congresso Brasileiro da especialidade, realizado na serra gaúcha, o documento foi lançado no âmbito do congresso e incluiu caminhada pelas ruas de Gramado, além do lançamento do livro Uma História da Mama, escrito e editado em sistema de co-criação por ele e por mim, e primeiro título de meu próprio selo editorial.

As recomendações da Carta de Gramado foram adotadas como políticas de saúde pública pelo Instituto Nacional do Câncer (INCA) e pelo Ministério da Saúde.

Neste 31 de outubro, no fechamento do Outubro Rosa, foi realizado um encontro do Fórum na sede da Associação Médica do RS (AMRIGS) a fim de avaliar os avanços da Carta e propor novos desafios. Por todas as razões acima, sinto-mo feliz por fazer parte desta iniciativa, pela companhia dos parceiros, em especial das queridíssimas do Grupo da Mama do Hospital Conceição, e do Pedrini, mastologista da maior qualidade e um de meus melhores amigos.

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

GRANDES NOMES
Washington Olivetto: este a gente nunca esquece

A primeira reação de encantamento se deu não à frente de uma TV, mas ainda na sala de edição da agência de propaganda W/GGK, junto à moviola, e não partiu de um espectador, mas do próprio criador. Ao encerrar a pós-produção de um comercial para a Valisère, em meados de 1987, o publicitário Washington Olivetto virou-se para o diretor Júlio Xavier da Silveira e profetizou: “Olha, Julinho, esse talvez seja um dos melhores filmes que a publicidade brasileira já conseguiu fazer”.

            A segunda reação de encantamento se deu na sala da vice-presidência de Operações da Rede Globo. Ao terminar de assistir ao comercial da Valisère, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, concordou em aceitar, pela primeira vez, uma peça de 90 segundos – em vez dos 30 ou 60 segundos convencionais – no intervalo do Jornal Nacional, que, também pela primeira vez, exibiria um único comercial durante um de seus intervalos. Diante do pedido inusitado da agência, o departamento comercial vira por bem não tomar sozinho tal decisão e a levara ao homem mais poderoso da companhia, depois do próprio Roberto Marinho.

            Somente a terceira reação de encantamento se deu simultaneamente nos lares de milhões de brasileiros. O comercial intitulado O Primeiro Valisère a Gente Nunca Esquece era uma peça de rara sensibilidade, sem texto, embalado apenas por som ambiente e acordes da ópera La Boheme, de Giacomo Puccini, e retratava a experiência única na vida de uma menina. Estrelado por Patrícia Lucchesi, de apenas 11 anos – a apresentadora Eliana, então com 14 anos, perdera a vaga para ela –, o comercial emocionou plateias, ganhou todos os prêmios possíveis, virou cult e catapultou de vez Washington Olivetto ao panteão da publicidade mundial.

Nascido em 29 de setembro de 1951 – Dia de São Miguel Arcanjo, o “anjo anunciador”, celebrado mundialmente como Dia do Anunciante – , o paulistano Washington Olivetto começou a carreira como estagiário da Harding Gimenez Propaganda (HGP), aos 18 anos de idade. A vaga foi obtida graças a um lance ousado: Olivetto estava a caminho da faculdade – que não chegou a concluir – quando o pneu de seu Karmann-Ghia furou bem em frente à sede da HGP. Ele não titubeou, entrou na agência e pediu emprego com uma frase que revelava tremenda autoconfiança: “Estou aqui por causa do pneu furado e isso é uma grande oportunidade para você, porque o pneu não fura duas vezes na mesma rua”.

Depois de passar pela Lince e pela Casabranca, tendo ganhado seu primeiro Leão de Bronze do Festival de Cannes aos 20 anos, chegou à DPZ, onde permaneceria por 13 anos. Ali, fez dupla de criação com o lendário Francesc Petit, parceria que rendeu, entre outros trabalhos, a criação do personagem que celebrizou o ator Carlos Moreno como garoto-propaganda da Bombril. Em 1986, aos 35 anos, saiu da DPZ para montar seu próprio negócio, a W/GGK, que três anos mais tarde viraria W/Brasil e, atualmente, é WMcCann.

Portanto, apenas um ano depois de se aventurar a conduzir a agência própria, Olivetto emplacou o comercial da Valisère, que conquistou naquela temporada o Leão de Ouro do Festival de Cannes, o Clio de Nova York, o Festival Ibero-Americano de Publicidade e foi considerado pela Tokyo Television Network o melhor comercial do mundo. No Brasil também levou todas as premiações possíveis, sendo que no ano seguinte ganhou o Profissionais do Ano e foi veiculado outra vez pela Globo, agora de graça (o vídeo está disponível no YouTube). Possivelmente, se fosse produzido hoje, em tempos chatesimamente corretos, o comercial fosse vetado por conter cenas de relativa sensualidade envolvendo uma menina de 11 anos, e Olivetto acusado de pedofilia. Assim teríamos sido privados desta obra-prima da publicidade.