GRANDES
NOMES
Washington Olivetto: este a gente nunca
esquece
A
primeira reação de encantamento se deu não à frente de uma TV, mas ainda na
sala de edição da agência de propaganda W/GGK, junto à moviola, e não
partiu de um espectador, mas do próprio criador. Ao encerrar a pós-produção de
um comercial para a Valisère, em meados de 1987, o publicitário Washington
Olivetto virou-se para o diretor Júlio Xavier da Silveira e profetizou: “Olha,
Julinho, esse talvez seja um dos melhores filmes que a publicidade brasileira
já conseguiu fazer”.
A segunda reação de encantamento se deu na sala da
vice-presidência de Operações da Rede Globo. Ao terminar de assistir ao
comercial da Valisère, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, concordou
em aceitar, pela primeira vez, uma peça de 90 segundos – em vez dos 30 ou 60
segundos convencionais – no intervalo do Jornal Nacional, que, também pela primeira vez, exibiria um
único comercial durante um de seus intervalos. Diante do pedido inusitado da
agência, o departamento comercial vira por bem não tomar sozinho tal decisão e
a levara ao homem mais poderoso da companhia, depois do próprio Roberto
Marinho.
Somente a terceira reação de encantamento se deu
simultaneamente nos lares de milhões de brasileiros. O comercial intitulado O
Primeiro Valisère a Gente Nunca Esquece era uma peça de rara sensibilidade, sem texto,
embalado apenas por som ambiente e acordes da ópera La Boheme, de Giacomo
Puccini, e retratava a experiência única na vida de uma menina. Estrelado por
Patrícia Lucchesi, de apenas 11 anos – a apresentadora Eliana, então com 14
anos, perdera a vaga para ela –, o comercial emocionou plateias, ganhou todos
os prêmios possíveis, virou cult e
catapultou de vez Washington Olivetto ao panteão da publicidade mundial.
Nascido em 29 de setembro de 1951 – Dia
de São Miguel Arcanjo, o “anjo anunciador”, celebrado mundialmente como Dia do Anunciante
– , o paulistano Washington Olivetto começou a carreira como estagiário da
Harding Gimenez Propaganda (HGP), aos 18 anos de idade. A vaga foi obtida
graças a um lance ousado: Olivetto estava a caminho da faculdade – que não
chegou a concluir – quando o pneu de seu Karmann-Ghia furou bem em frente à
sede da HGP. Ele não titubeou, entrou na agência e pediu emprego com uma frase
que revelava tremenda autoconfiança: “Estou aqui por causa do pneu furado e
isso é uma grande oportunidade para você, porque o pneu não fura duas vezes na
mesma rua”.
Depois de passar pela Lince e pela
Casabranca, tendo ganhado seu primeiro Leão de Bronze do Festival de Cannes aos
20 anos, chegou à DPZ, onde permaneceria por 13 anos. Ali, fez dupla de criação
com o lendário Francesc Petit, parceria que rendeu, entre outros trabalhos, a
criação do personagem que celebrizou o ator Carlos Moreno como
garoto-propaganda da Bombril. Em 1986, aos 35 anos, saiu da DPZ para montar seu
próprio negócio, a W/GGK, que três anos mais tarde viraria W/Brasil e,
atualmente, é WMcCann.
Portanto, apenas um ano depois de se
aventurar a conduzir a agência própria, Olivetto emplacou o comercial da
Valisère, que conquistou naquela temporada o Leão de Ouro do Festival de
Cannes, o Clio de Nova York, o Festival Ibero-Americano de Publicidade e foi
considerado pela Tokyo Television Network o melhor comercial do mundo. No
Brasil também levou todas as premiações possíveis, sendo que no ano seguinte
ganhou o Profissionais do Ano e foi veiculado outra vez pela Globo, agora de
graça (o vídeo está disponível no YouTube). Possivelmente, se fosse produzido
hoje, em tempos chatesimamente corretos, o comercial fosse vetado por conter
cenas de relativa sensualidade envolvendo uma menina de 11 anos, e Olivetto
acusado de pedofilia. Assim teríamos sido privados desta obra-prima da
publicidade.