segunda-feira, 31 de março de 2014

Por gentileza, leia este post! Obrigado!

O mundo precisa de mais delicadeza. Você me daria a honra de ler um pequeno artigo de minha autoria sobre o assunto? Muito grato pela atenção.

Vivemos tempos insanos, violentos, rudes, talvez além do que nosso emocional possa suportar, ainda que a resiliência cresça junto com a crueza. O medo está nas ruas, e delas não podemos escapar, precisamos seguir vivendo. O perigo pode surgir no próximo cruzamento, no próximo sinal, nesta calçada ou lá na esquina. Chegamos ao ponto de suspirar: “bons tempos em que ladrões apenas roubavam”. Crimes de morte sempre existiram, mas o atual nível de banalização da vida é por demais assustador.

Ladrões roubavam, depois ladrões roubavam e matavam se a vítima reagisse, em seguida matavam se a pobre alma indefesa se mexesse mais bruscamente ou espirrasse, fazendo detonar o mecanismo interno de ódio e medo do agressor, manifestado pelo dedo no gatilho, a mão na faca. Agora o assassinato virou a primeira opção. Pela facilidade, pelo ressentimento, pelo prazer hediondo, pela impunidade.

Sobreviver tornou-se um desafio e tanto. E quem dera fosse só esse o perigo. Ele está também nas ruas, avenidas e estradas, onde pessoas aparentemente normais se convertem em potenciais psicopatas pelo efeito obscuro provocado por um volante e um acelerador. Onde motoristas não respeitam motociclistas que não respeitam ciclistas que não respeitam pedestres que não respeitam ninguém.

Nas filas de bancos e repartições públicas, nas briga por vagas de estacionamento, para entrar primeiro no elevador, os carrinhos largados a esmo nos corredores dos supermercados, em toda parte a ocupação do espaço tornou-se uma guerra, cada um a garantir seus poucos metros ou centímetros de cidadela, assim, por nada, só para se sentir por instantes pseudodono de um pseudoterritório, não importa o quanto prejudique o próximo, ou, talvez, importa sim, e quanto maior o prejuízo, maior o regozijo.

O momento de relaxar é cada vez mais raro. Estar cercado de amigos, em bares e restaurantes, não nos livra do risco de um arrastão, de uma bala perdida, de um tiro dado por dar. Mesmo em casa, a sensação de medo não desaparece. Os noticiários nos alertam, mas eles não têm culpa, refletem o que acontece nas ruas. E não adianta desligar a TV e vir para o computador. As redes sociais, por mais que selecionemos os amigos do modo mais criterioso, nunca estarão livres de invasores, amigos de amigos, miríades de potenciais agressores.

Mas, pior do isso, é ver os amigos, os tais selecionados tão criteriosamente, muitas vezes se comportando de um modo a não os reconhecermos. Pessoas boas, íntegras, generosas – ou que assim se supunha –, transformam-se diante da exposição fácil, como num Big Brother virtual, agredindo para ganhar espaço e curtidas destinadas a alimentar a frágil autoestima. Outros mantêm a boa postura, mas, diante de tudo que acontece no mundo real e agora também no virtual, revelam pouquíssima paciência.

Estamos ficando cada vez mais intolerantes. Estamos deixando que o cotidiano ameaçador nos torne mais e mais rudes. Vamos utilizar o “mais” de outros jeitos. O mundo precisa de mais gentileza. Precisa manifestar sem pudor e o tempo todo o imbatível trio “com licença, por favor, obrigado”. Precisamos abrir portas, oferecer flores, falar de natureza, animais e livros. Precisamos amar e respeitar mais as pessoas. Mas talvez, antes, precisemos de algo mais difícil: amar e respeitar mais a nós mesmos.