sexta-feira, 13 de junho de 2008

Bom fim de semana

Amigas e amigos, obrigado pela companhia. Tenham todos um ótimo final de semana. Até segunda.

Fiquem com Frank Sinatra interpretando Night and Day, em 1943.

Livros? Ára!

No Jornal da Band de ontem foi divulgada uma pesquisa sobre os presentes mais vendidos no Dia dos Namorados. Os celulares, outra vez, foram os campeões, com mais da metade da preferência, enquanto os livros ocuparam a última posição, com 0,5%.
Pantanal ainda rende audiência

O SBT colocou Pantanal no ar a partir de segunda-feira e tem obtido índices de audiência na faixa dos 10 pontos, o que não é pouco para os padrões da emissora nos últimos tempos. Ainda mais que muita gente nem sabia. Raramente assisto ao SBT e desconheço se fizeram muitas chamadas, mas não creio. Pantanal começa depois das 22h, ou seja, quando acaba a novela das 21h da Globo, e isso ajuda, mas a verdade é que a inovadora obra de Benedito Ruy Barbosa mantém o fôlego. O autor pretende processar a TV de Sílvio Santos e jura que isso nada tem a ver com a Globo, que reivindica os direitos não para reexibir o original, mas para fazer uma nova versão. Tomara que não consiga. Em outra ocasião abordarei a questão das releituras.

No vídeo a seguir, a nova abertura feita pelo SBT.


quinta-feira, 12 de junho de 2008



ESPECIAL

Aproveito o Dia dos Namorados para resgatar um texto no qual conto a história de um jovem negro e pobre que sonhava em se tornar o novo grande pugilista da América. Antes e depois, vídeos de canções inesquecíveis.









Desencanto na cidade do amor fraternal
Philadelphia abriga parte significativa da história dos Estados Unidos. Capital da Pennsylvania, ergue-se sobre antigo território dos índios Delaware. Foi o rio batizado em homenagem à tribo que as tropas comandadas pelo general George Washington cruzaram para derrotar os britânicos em Trento, no Natal de 1776, feito decisivo para a consolidação da Independência, declarada em 4 de julho daquele ano. A certidão de nascimento dos Estados Unidos da América foi tornada pública no prédio hoje integrante no Parque Histórico Nacional da Independência, ocasião em que se fez ouvir o badalo do célebre Sino da Independência. A cidade foi a capital americana entre 1790 e 1800.

O Rio Delaware separa a Pennsylvania do estado de Delaware. Para cruzá-lo, utiliza-se uma ponte azul cujo nome homenageia um ícone da história mundial. Foi na Philadelphia que viveu Benjamin Franklin (nascido em Boston, em 1706). Franklin foi emissário diplomático de várias províncias junto ao parlamento do Reino Unido. Depois de ver fracassarem seus esforços de unir as colônias sem romper com a Coroa, ajudou a escrever a Declaração da Independência e a Constituição dos EUA. Mas Franklin foi muito além das novas fronteiras da América. Foi editor, dono de jornal, escreveu sobre terremotos, provou que os raios são descargas elétricas, inventou o pára-raios e os óculos bifocais, aperfeiçoou o sistema de aquecimento doméstico, entre outras proezas. Sua fisionomia, das mais conhecidas, estampa a cédula de US$ 100 dólares, a nota de dinheiro mais cobiçada do mundo.

Philadelphia, palavra de origem grega que significa “amor fraternal”, é a quinta cidade mais populosa dos Estados Unidos, com mais de 1,5 milhão de habitantes, de acordo com o censo realizado em 2000, sendo que a região metropolitana acolhe mais de seis milhões de almas. Foi entre elas, um entre seis milhões, que veio ao mundo Najai Turpin, em 19 de dezembro de 1981. Nascido e criado em bairro de extrema pobreza, aos 18 anos perdeu a mãe e passou a cuidar do irmão, da irmã e dos sobrinhos. Sonhava em lutar boxe profissional, mas vivia de subempregos, em obras de manutenção das ruas pelas quais havia circulado Benjamin Franklin e marchado triunfante o general Washington, ou limpando mariscos em um restaurante, tarefa à qual subtraía algumas horas todas as tardes para treinar boxe, e à qual retornava para num novo turno que só acabava à meia-noite.

Com um cartel amador de 13 lutas e 11 vitórias, oito das quais por nocaute, detentor apenas de um título no âmbito municipal, Najai “Nitro” Turpin foi um dos selecionados para participar do reallity-show The Contender, o Desafiante, criado pelo mesmo Mark Burnett que transformou Donald Trump em celebridade mundial com O Aprendiz. Apresentado por Sylvester Stallone, intérprete do clássico Rocky, um Lutador e por Sugar Ray Leonard, um dos pugilistas mais técnicos da história, The Contender, exibido no Brasil pelo canal de TV a cabo People + Arts, oferecia ao vencedor o prêmio de um milhão de dólares, e aos 16 participantes a possibilidade de se tornar conhecido e ver a carreira decolar. Às vésperas de completar 23 anos, Turpin viu no programa a chance de largar de vez as ferramentas e os mariscos, tornar-se profissional e dar uma vida decente à família, incluindo a filha Anyae, de dois anos, cuja custódia era alvo de uma disputa judicial com a ex-namorada Angela Chapple.

Turpin havia sido eliminado na fase classificatória do programa, mas não dera adeus ao prêmio. Poderia voltar no final, como um dos dois eleitos pelo público. Considerado o mais simpático da turma, sua escolha era tida como certa. Enquanto isso, não podia lutar, mas recebia US$ 1,5 mil por semana para se manter em forma, treinando no ginásio do centro turístico de Poconos. Ali, dentro do carro estacionado ao lado do ginásio, às quatro horas da madrugada de 14 de fevereiro, o Valentine Day, Dia dos Namorados no Hemisfério Norte, depois de passar a noite conversando com a ex-namorada Angela, Najai Turpin se matou com um tiro na cabeça.

Crédito da foto
NBC Television




quarta-feira, 11 de junho de 2008

TOCO Y ME VOY

A expressão "toco y me voy", utilizada em referência ao futebol argentino, descreve o lance no qual o jogador passa a bola a um companheiro e se desloca rapidamente, tornando-se uma opção para recebê-la mais adiante. Tal jogada implica alguns requisitos. Primeiro, a objetividade. O futebol brasileiro, tão afeito a dribles desnecessários, nem sempre permite um eficiente "toco y me voy". Segundo, para que a jogada funcione é preciso que quem recebe a bola tenha talento para dominá-la, raciocinar com rapidez, vislumbrar a melhor opção e entregá-la redondinha logo ali na frente. Claro, pode também, prerrogativa dos grandes craques, não devolver a bola e sair driblando meio time para fazer o gol.
Craque de primeiríssima linha, Augusto Nunes dispensa apresentações. Um dos maiores nomes do jornalismo brasileiro, é também um velho e querido amigo. Esta crônica, escrita há alguns anos, é um de seus mais belos textos.
Toco y me voy.



A VOZ DOS OLHARES

Augusto Nunes


Na primeira noite do ano, estou de novo no quarto que ainda é meu na casa de minha mãe. Lá estão os quatro avós, alojados em retratos nas paredes. Percorreram distintas trajetórias, mas todos se assemelham nos olhares. São sisudos, severos, solenes. Parecem quase tristes de tão graves. Faz pouco que nos juntamos para o convívio negado pelas trapaças da vida. Antônio, Honória e Emílio sequer me viram nascer. E eu nem tinha 12 anos quando Amabile me deixou órfão dos pais de meus pais.

Não têm sido tão freqüentes essas reuniões entre um neto e os avós que não pôde conhecer. Então nos tornamos passageiros de noturnas travessias que confirmam, nos muitos diálogos mudos, a eloqüência do silêncio. Nenhuma contradição: vozes de almas e olhares não são coisa para os tímpanos. Emitem ondas, não sons. E só o coração sabe ouvi-las.

Antônio Nunes da Silva, catarinense bonito, foi o primeiro a chegar. Era pouco mais velho que o neto. Como o tempo não existe para quem vive em retrato, o avô de 40 anos com 40 continua. Hoje o mais velho sou eu. Os olhos claros de Antônio são tão claramente verdes que é possível ver-se o verde no retrato em preto e branco. A expressão confirma o raro equilíbrio dos que preferem a paz sem jamais fugir à guerra, dos que mantêm a mão estendida mas adivinham a hora de fechá-la para o soco ou levá-la ao gatilho.

Honória Gonçalves veio em seguida, para o demorado reencontro. Não é bela. Tem só vinte e poucos anos (e não verá muitos mais, murmura a demasia do branco que lhe envolve as pupilas). Os sertanejos sabiam que gente assim morre moça, como cedo morreria a sertaneja paulista: com trinta anos de vida e mil de melancolia. A fisionomia exprime a coragem dos que aprendem a suportar quaisquer dores, mesmo a iminência do fim, com a altivez sem bravatas e a bravura sem rompantes das mulheres do sertão.

Cedo também morreria o plácido austríaco Emílio Menon. No retrato que o aprisiona, parece recém-saído de alguma cervejaria dos grotões da Baviera. O rosto gordo e rosado lembra cara de dono. O olhar afirma o contrário. É o olhar guloso de quem prepara o ataque, com a contrição do devoto, a procissões inteiras de copos. Do homem que sempre ergue, quando o crepúsculo chega, um brinde a todas as noites.

É o mais recente dos hóspedes. Chegou logo atrás de Amabile Zamarioli, que nunca foi só retrato. Morta, seguiu vivendo na memória de quem pôde, graças a ela, saber como é ter avó. As maçãs salientes realçam o desenho perfeito do rosto. Suave como o prenome, muito antes de Guevara aprendeu a endurecer sem renunciar à ternura, como os tantos órfãos da Itália que souberam resistir ao exílio decretado pela fome incontornável. Os que empreenderam a viagem indesejada e sem volta sem revogar o sorriso.

O verde azulado dos olhos dessa avó italianíssima convida a idéias eugenicamente adúlteras. Se ela tivesse trocado Emílio pelo outro avô, como seria o azul-verde dos olhos de algum menino fruto de Antônio e Amabile? Já tratamos desse assunto em nossas conversas na madrugada. E de tantos outros.

Gosto de ouvi-los contar como encontraram caminhos onde nem trilhas havia, e cruzar montanhas, matas e mares na dura perseguição a Eldorados camuflados nos confins do imaginário. Falamos do Brasil, da cidade, de assuntos de família. Tratamos de virtualmente tudo, ficamos bastante loquazes. Não foi assim na noite do último reencontro.

“Boa noite”, murmuro ao chegar. “Não será”, responde em coro a voz dos olhares. Todos me contemplam estranhamente calados. Então me dou conta da profunda mudança que impõe quietude. Como em tantos janeiros, estamos no mesmo quarto na casa da minha mãe. Mas desta vez a mãe já não há.


Publicado originalmente no Jornal do Brasil em 25 de janeiro de 2004.

terça-feira, 10 de junho de 2008


Nada sei

Eu não sei o que eu penso do tempo, que é, a um só tempo, velho aliado e inimigo mortal. A não ser, é claro, que ele é o senhor da razão. E se você ainda não está convencido disso, ah, não faz mal, ele espera.

Eu não sei se tudo vale a pena, apesar de isso ter sido dito pelo poeta em pessoa, mas sei que ficar parado não leva a lugar algum.
Quando não sei que caminho trilhar, tomo a segunda estrela à direita e dali sigo até o amanhecer.

Sei que vale a pena correr o risco, principalmente quando a meta parece inatingível.
No final das contas, a única coisa que importa é morrer tentando. Kamikaze bom é kamikaze morto.


Sei que quem fala demais acaba tendo de engolir suas palavras, mas ao menos se alimenta delas.

Eu não sei o que penso da vida, ou se penso “que vida”, que pode ser uma vida de cão, mas também pode ser um vidão. Mais do que o rumo, o importante é não perder a rima.

Eu sei o que penso da morte e, creia-me, é melhor ela não saber o que penso dela, embora possa me arrancar uma confissão a qualquer momento.
Mas nem ela não me faria confessar meus segredos, ora bolas, inconfessáveis.

O que eu sei mesmo é que confissão é pra bandido. Quem tem amor no coração não confessa, recita.

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Ecobravatas

Carlos Minc é hilário. Fosse apenas um careca cabeludo temporão com coletes de mau gosto, comprados em algum brechó com nome do gênero “Ao Palhaço Elegante”, talvez representasse boa companhia para um chopes num pé-sujo de Copacabana. Investido dos poderes da República, torna-se uma ameaça. Meio Ambiente é coisa séria. A Amazônia não é território a ser conquistado numa rodada de War. Ou de chopes.

Marina Silva tinha todo o conteúdo do mundo, mas não se fazia ouvir. Minc apenas se faz ouvir. O tempo todo, e das piores maneiras possíveis. Verborrágico vocacional, faz a alegria dos editores das seções de “frases da semana” ao cunhar asneiras antológicas. “Não adianta chorar a seiva derramada”, derrama-se o ministro. “Preciso controlar a ecoansiedade”, descontrola-se Minc.

Como nunca na história desse País, a Amazônia tomba ao som das motosserras. O verdugo genuíno, no entanto, encontra-se a distância segura da Floresta. Nos gabinetes do Planalto engendra-se a verdadeira matança, não pela ação, mas pela omissão. Na melhor das hipóteses, o homicídio doloso se converte em culposo. O governo Lula é perito em encarnar a máxima shakespeareana: muito barulho por nada, mais do que uma estratégia, parece ser uma vocação. O ministro ladra, as motosserras avançam.

Travestido de homem providencial, para Lula o ministro Minc é o personagem certo no lugar certo. Enquanto, com uma mão, empunha a aspada acusatória contra os desmatadores, com a outra desembainha a caneta que assina decretos inócuos, pacotes pirotécnicos e letras tão mortas quanto as árvores seculares convertidas em lucro fácil para empresários, especuladores e espertalhões de variados matizes. A Amazônia nunca esteve tão à deriva.



Crédito da foto
Jefferson Rudy/MMA

O lado negro de Camelot

Barack Obama ganhou a indicação democrata por ser negro ou apesar de ser negro? A discussão é irrelevante a estas alturas. Numa sociedade historicamente segregadora como a americana, passar da Klu Klux Klan para Barack Obama representa bem mais do que flexionar novos vocábulos invulgares. Um negro disputar para valer – e não por partidos nanicos e patéticos – a presidência dos Estados Unidos não é pouca coisa. No mínimo, os americanos sinalizam uma disposição para rever seus conceitos. Em tempos não tão remotos, Obama seria convidado a usar a outra calçada ou a desocupar assentos destinados aos brancos, isso se desse sorte de escapar dos archotes insandecidos.

Em tempos politicamente corretos, um negro com nome árabe soa melhor a ouvidos sedentos de renovação, exauridos de esperança pelo conservadorismo da Era Bush, do que uma loira com pinta de durona e ascendência decididamente anglo-saxônica (pensando bem, “pinta” lembra o análogo masculino de triste memória para Hillary). Mas o essencial não é isso.

A predileção por Obama vai muito além da cor da pele. Há cinco décadas os americanos esperam pela ressurreição de John Fitzgerald Kennedy. Enquanto Bob Kennedy, John-John e membros menos graduados do clã morriam de forma trágica, a América se conformava com os anódinos Lindon Johnson e Gerald Ford, o vigarista Richard Nixon, o canastrão Ronald Reagan e os belicistas Bush Pai e Bush Filho.
Bill Clinton interrompeu esta série de inexpressivos e perigosos, foi um dos melhores presidentes americanos de todos os tempos, mas, inserido num sistema reacionário, acabou entrando para a história mais em função de um caso com uma estagiária do pelo belo governo, caso, diga-se, realçado muito mais pela imprensa e por promotores de segunda linha em busca de notoriedade do que pelo povo, que pouco se importou com o episódio.

Obama não é JFK, para o bem e para o mal. Não possui o indiscreto charme da burguesia kennediana, tampouco parece afeito à devassidão dos subsolos da Casa Branca naquele início dos anos 60, muito bem retratados em O Lado Negro de Camelot, de Seymour Hersh, um dos maiores jornalistas da história. Obama só é o lado negro na cor da pele, mas está longe de freqüentar a corte de Camelot. Para o bem e para o mal.


Crédito da foto
Comitê Barack Obama