A desconstrução de J. M. Coetzee
Vincent, um jovem biógrafo inglês, baseia-se em anotações inéditas de seu biografado e em depoimentos de pessoas que conviveram com ele antes da fama – especialmente mulheres – para montar um surpreendente retrato do escritor sul-africano J. M. Coetzee. Romancista de talento invulgar, dono de uma prosa simples e elegante, capaz de conceder ao cotidiano um caráter envolvente e engajado, Coetzee sempre foi reconhecido também pela força de suas convicções políticas, suas críticas ácidas a questões que perpassam a formação da África do Sul como nação, sua autocrítica em relação às próprias fragilidades e uma visão sistêmica e lúcida da sociedade moderna.
Em Verão, que acaba de sair no Brasil pela Cia. Das Letras, o jovem Vincent nos revela que Coetzee, ganhador do Prêmio Nobel e morto em 2005, jamais soube conduzir sua própria vida com a mesma desenvoltura exibida nas páginas de seus incontáveis livros de sucesso. Os fragmentos e relatos reunidos pelo biógrafo acabam por moldar a imagem de um homem tímido, de poucas ambições e iniciativas, dotado de um conformismo ancestral, de uma absoluta inabilidade no trato com as mulheres e quase assexuado.