BOM FIM DE SEMANA
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sexta-feira, 12 de setembro de 2008
FRAGMENTOS
Vendo chover em Macondo
Setembro promete boas-novas. Ao menos costumava prometer. A iminência do fim do Inverno, não o Inverno do frio elegante, do vinho, do sobretudo e da lareira, mas o Inverno das sombras, dos temores de que o mundo por fim se converta nas eternas trevas a que parece condenado. A cada prenúncio de Primavera, acredita-se, que diabos, no ocaso das dores da vida, das dores de ser, de estar, de insistir em permanecer, do eterno suplício que é viver.
O solstício do Inverno, instante mais triste do ano, com seu escurecer absurdamente precoce, já vai longe agora. Os dias alongam-se, devagar ainda, como se acordando da grande ressaca da hibernação, mas enfim se esticam, espicham seus incertos e sinuosos braços, dispostos a alcançar o breu que se move em direção à linha de chegada da noite primaveril. Qual vestal empedernida, a linha recua, afasta-se, negaceia.
A boa-nova em breve andará nos campos, fazendo brotar o pendão recitado em velhas canções desbotadas por pulsações inúteis. Talvez viçosas rosas colombianas vermelhas sejam obrigadas a ceder lugar a roxas e emblemáticas orquídeas. Não faz diferença para um beija-flor, talvez faça para a vida ao redor. Na verdade faz para ele também, mas alguém tem de espalhar o pólen.
Tudo vale a pena, ainda que almas aturdidas acabem por esvaziar a intenção do poeta. Mas o que é poesia se não uma forma disfarçada de covardia emocional? Na impossibilidade de se viver, filosofa-se. Na ausência da completitude real, imaginação. O virtual alivia, mas só a vida sacia.
Em meio a chuvas impertinentes, na breve estiagem de meio de tarde, um casal de pombos pousa no parapeito da janela semi-aberta. Parecem felizes. Arrulham em cumplicidade. Observam, miram-se, dirigem ao redor um olhar de indisfarçável condescendência e então alçam vôo em direção ao infinito vazio camuflado de felicidade.
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Vendo chover em Macondo
Setembro promete boas-novas. Ao menos costumava prometer. A iminência do fim do Inverno, não o Inverno do frio elegante, do vinho, do sobretudo e da lareira, mas o Inverno das sombras, dos temores de que o mundo por fim se converta nas eternas trevas a que parece condenado. A cada prenúncio de Primavera, acredita-se, que diabos, no ocaso das dores da vida, das dores de ser, de estar, de insistir em permanecer, do eterno suplício que é viver.
O solstício do Inverno, instante mais triste do ano, com seu escurecer absurdamente precoce, já vai longe agora. Os dias alongam-se, devagar ainda, como se acordando da grande ressaca da hibernação, mas enfim se esticam, espicham seus incertos e sinuosos braços, dispostos a alcançar o breu que se move em direção à linha de chegada da noite primaveril. Qual vestal empedernida, a linha recua, afasta-se, negaceia.
A boa-nova em breve andará nos campos, fazendo brotar o pendão recitado em velhas canções desbotadas por pulsações inúteis. Talvez viçosas rosas colombianas vermelhas sejam obrigadas a ceder lugar a roxas e emblemáticas orquídeas. Não faz diferença para um beija-flor, talvez faça para a vida ao redor. Na verdade faz para ele também, mas alguém tem de espalhar o pólen.
Tudo vale a pena, ainda que almas aturdidas acabem por esvaziar a intenção do poeta. Mas o que é poesia se não uma forma disfarçada de covardia emocional? Na impossibilidade de se viver, filosofa-se. Na ausência da completitude real, imaginação. O virtual alivia, mas só a vida sacia.
Em meio a chuvas impertinentes, na breve estiagem de meio de tarde, um casal de pombos pousa no parapeito da janela semi-aberta. Parecem felizes. Arrulham em cumplicidade. Observam, miram-se, dirigem ao redor um olhar de indisfarçável condescendência e então alçam vôo em direção ao infinito vazio camuflado de felicidade.
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GENTE
A estrela Belém
Alguns dias atrás publiquei um texto de Maria Belém Adams sobre seus contratempos na Escócia. Está aí abaixo, logo depois do vídeo da deliciosa Natalie Wood. Augusto Nunes a descreveu, na introdução, com “rosto de fada e sorriso de primeira comunhão”. Para quem não a conhece, esta é a Belém.
Sendo filha de Eduardo Bueno, é natural que se imaginasse que ele escreveu ou, no mínimo, editou o texto. Surpreendi-me, pela qualidade, ao saber que a autoria era integralmente dela. Ele não mudou uma vírgula sequer.
Diante de minhas dúvidas, o Peninha jurou pela mãe. Embora eu saiba o quanto ela amava a dona Beatriz Bueno, ainda assim cismei. Ele jurou pelo Grêmio. Mesmo conhecendo seu fanatismo religioso pelo imortal tricolor, mostrei-me cético. Então, golpe final, ele jurou por Bob Dylan. Aí tive de acreditar. E não pude deixar passar: a Belém escreve melhor do que ele. Concordamos quanto a isso.
Crédito da foto: Arquivo Pessoal
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A estrela Belém
Alguns dias atrás publiquei um texto de Maria Belém Adams sobre seus contratempos na Escócia. Está aí abaixo, logo depois do vídeo da deliciosa Natalie Wood. Augusto Nunes a descreveu, na introdução, com “rosto de fada e sorriso de primeira comunhão”. Para quem não a conhece, esta é a Belém.
Sendo filha de Eduardo Bueno, é natural que se imaginasse que ele escreveu ou, no mínimo, editou o texto. Surpreendi-me, pela qualidade, ao saber que a autoria era integralmente dela. Ele não mudou uma vírgula sequer.
Diante de minhas dúvidas, o Peninha jurou pela mãe. Embora eu saiba o quanto ela amava a dona Beatriz Bueno, ainda assim cismei. Ele jurou pelo Grêmio. Mesmo conhecendo seu fanatismo religioso pelo imortal tricolor, mostrei-me cético. Então, golpe final, ele jurou por Bob Dylan. Aí tive de acreditar. E não pude deixar passar: a Belém escreve melhor do que ele. Concordamos quanto a isso.
Crédito da foto: Arquivo Pessoal
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