Trancado no banheiro com Renato
Portaluppi
Quando o Grêmio voltou de Tóquio
com o título mundial, em dezembro de 1983, eu, repórter novato (leia mais no
texto anterior), fui novamente escalado para uma pauta de “ambiente”. A
delegação foi recebida por milhares de torcedores no aeroporto, deslocou-se em
carro de bombeiros até o Olímpico, com multidões a saudá-la em todo o trajeto e
outros milhares a sua espera no estádio. Era um dia muito quente e abafado. Eu,
que não estava em carro aberto e tampouco abastecido pela adrenalina que só os
campeões mundiais poderiam experimentar naquele momento, acompanhei o percurso
numa Kombi do jornal, uma espécie de sauna a se mover pelo calorão do início de
tarde.
Já no Olímpico, fui atrás de mais
informações ou entrevistas, para não ficar apenas no texto descritivo ou nos
depoimentos de torcedores, embora esse fosse mesmo o foco principal de minha
missão. Evidentemente, conversar com o Renato, herói do título, era o que todos
ali queriam, e os jornalistas ainda mais. Não sendo de TV ou rádio, e tendo nas
mãos uma pauta secundária, minhas chances seriam mínimas. Resolvi sair um pouco
do sufoco em meio à multidão e foi até um banheiro passar uma água no rosto
para me refrescar.
Poucos segundos depois, vejo
entrarem no vestiário Renato e sua mãe, seguidos por seguranças que em seguida fecharam
a porta e bloquearam o acesso. O cansaço da longa viagem e do desfile em carro
aberto sob um sol escaldante, somados ao calor de uma massa querendo demonstrar
sua gratidão de modo um tanto desmedido, como costuma ser com as massas,
fizeram com que o jovem herói do título se sentisse mal, por isso fora parar
ali a fim de respirar um pouco.
Não recordo bem, talvez tenham
entrado outras poucas pessoas, assessores e quem sabe repórteres. De todo modo,
para quem precisava descrever o ambiente da chegada dos campeões do mundo, com
os melhores detalhes e opiniões, ficar trancado no banheiro com o Renato veio
bem a calhar. Foi o meu lance de sorte naquele dia e uma justa recompensa por
ter passado horas torrando dentro de uma Kombi.