sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Trancado no banheiro com Renato Portaluppi
 
Quando o Grêmio voltou de Tóquio com o título mundial, em dezembro de 1983, eu, repórter novato (leia mais no texto anterior), fui novamente escalado para uma pauta de “ambiente”. A delegação foi recebida por milhares de torcedores no aeroporto, deslocou-se em carro de bombeiros até o Olímpico, com multidões a saudá-la em todo o trajeto e outros milhares a sua espera no estádio. Era um dia muito quente e abafado. Eu, que não estava em carro aberto e tampouco abastecido pela adrenalina que só os campeões mundiais poderiam experimentar naquele momento, acompanhei o percurso numa Kombi do jornal, uma espécie de sauna a se mover pelo calorão do início de tarde.
Já no Olímpico, fui atrás de mais informações ou entrevistas, para não ficar apenas no texto descritivo ou nos depoimentos de torcedores, embora esse fosse mesmo o foco principal de minha missão. Evidentemente, conversar com o Renato, herói do título, era o que todos ali queriam, e os jornalistas ainda mais. Não sendo de TV ou rádio, e tendo nas mãos uma pauta secundária, minhas chances seriam mínimas. Resolvi sair um pouco do sufoco em meio à multidão e foi até um banheiro passar uma água no rosto para me refrescar.
Poucos segundos depois, vejo entrarem no vestiário Renato e sua mãe, seguidos por seguranças que em seguida fecharam a porta e bloquearam o acesso. O cansaço da longa viagem e do desfile em carro aberto sob um sol escaldante, somados ao calor de uma massa querendo demonstrar sua gratidão de modo um tanto desmedido, como costuma ser com as massas, fizeram com que o jovem herói do título se sentisse mal, por isso fora parar ali a fim de respirar um pouco.

Não recordo bem, talvez tenham entrado outras poucas pessoas, assessores e quem sabe repórteres. De todo modo, para quem precisava descrever o ambiente da chegada dos campeões do mundo, com os melhores detalhes e opiniões, ficar trancado no banheiro com o Renato veio bem a calhar. Foi o meu lance de sorte naquele dia e uma justa recompensa por ter passado horas torrando dentro de uma Kombi.

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

A inesquecível noite de 11 de dezembro de 1983

Depois de três anos na revisão do jornal Zero Hora, dois dos quais numa precoce chefia, e tendo me formado em jornalismo no final de 1982, em meados do ano seguinte recebi uma oportunidade de passar para a redação. As portas foram-me abertas por Emanuel Mattos, grande editor de uma grande (nos dois sentidos) equipe de esportes. Comecei no “Esporte Amador”, como à época se rotulava tudo que não fosse futebol ou competições automobilísticas. Em seguida tornei-me subeditor de “amador”, sob a liderança competente e gentil do saudoso Evaldo Gonçalves, e logo virei responsável pela pré-cobertura dos Jogos Olímpicos de Los Angeles, que seriam realizados no ano seguinte.
Era nessa condição que eu me encontrava no final de 1983, quando o Grêmio foi para Tóquio decidir o título mundial contra o Hamburgo. Mesmo não sendo “do futebol”, em ocasiões assim especialíssimas toda a equipe era mobilizada. Como novato da equipe, fui escalado para aquilo que chamávamos de pauta “ambiental”. Nada a ver com meio ambiente, mas com descrever o ambiente, ou seja, o comportamento das pessoas diante de um fato.
Saí da redação antes do início do jogo, já próximo da meia-noite, na companhia do fotógrafo Arivaldo Chaves, com a missão de percorrer os principais bares e casas noturnas de Porto Alegre e registrar a emoção dos torcedores assistindo à partida em TVs e telões. Passamos por muitos lugares e, em cada um deles, fomos “intimados” a beber ao menos um copo, uma latinha, uma dose. Estávamos a trabalho, e eu era bem conservador, mas, depois de alguma insistência, quando pareceria soberba não aceitar a gentileza, bem, o que fazer, eu acabava aceitando.
Voltei para a redação um tantinho bêbado, e a tempo de assistir à prorrogação e ao gol decisivo do Renato. A equipe, na maioria gremista, deixou extravar a emoção. O grupo era, digamos, pouco convencional, mas funcionava. Garantido o título, Grêmio campeão do mundo, era hora de esquecer a tonteira e a empolgação, tínhamos um jornal para fechar, lá pelas três de madrugada. Não apenas um jornal, mas uma edição histórica. Por todas as razões, como jornalista e como torcedor do Grêmio, foi uma noite inesquecível.