sexta-feira, 28 de novembro de 2014

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

GRANDES NOMES
Ben Bradlee, o editor por excelência

A galeria dos grandes nomes do jornalismo costuma destinar os espaços mais nobres a homens que converteram reportagem em arte. O culto ao texto Frank Sinatra Está Resfriado, por exemplo, celebra, merecidamente, o genial Gay Talese, mas revela-se injusto ao relegar a uma quase obscuridade Harold Hayes, editor da Esquire que o escalou para a empreitada, bancou os altos custos, teve paciência para esperar e aceitar seus métodos e por fim publicou o perfil com todas as honras. O mesmo se dá em relação a Hiroshima, obra inaugural do new journalism, que elevou ao panteão dos mestres do ofício, com toda honra e justiça, o autor, John Hersey, mas não concedeu o reconhecimento devido ao editores Harold Ross e William Shawn, que dedicaram uma edição inteira da New Yorker àquele trabalho esplendoroso.

A cobertura do Caso Wategate consagrou mundialmente os repórteres Carl Bernstein e Bob Woodward, do Washington Post, história contada no livro Todos os Homens do Presidente, de autoria deles, e que deu origem ao filme homônimo (leia mais na reportagem de capa desta edição). Neste caso, felizmente, o editor não foi esquecido. Ainda que seu nome não soe tão popular para quem não é do ramo, Ben Bradlee obteve o devido reconhecimento.

A última homenagem ocorreu no ano passado, quando ele recebeu a medalha da liberdade das mãos do presidente Barack Obama, na Casa Branca, com direito a discursos emocionados de Bernstein e Woodward. Bradlee morreu em 21 de outubro último em Washington, aos 93 anos. Em nota oficial, Obama declarou: “Para Benjamin Bradlee, o jornalismo foi mais que uma profissão. Era um bem público e vital para a democracia. Bradlee transformou o Washington Post em um dos melhores jornais do país (...) e contou histórias que precisavam ser contadas”.

Nascido em Boston, Estado de Massachusetts, em 26 de agosto de 1921, Benjamin Crowninshield Bradlee ingressou no Washington Post, que viria a se tornar um dos jornais mais importantes dos Estados Unidos – e do mundo – somente aos 44 anos, em 1965. Se fosse no Brasil, possivelmente seria tarde demais para começar uma nova trajetória e assumir papel de relevo na história. Aqui, jornalistas nesta idade se encaminham rapidamente para a condição de velhos que devem ser descartados para dar lugar às novas gerações, mas, nos EUA, onde talvez os executivos da mídia não sejam tão inteligentes quanto os daqui, é uma idade em que os profissionais estão apenas começando sua escalada rumo a postos de chefia nas redações. Assim, Bradlee, que começara como jornaleiro em sua cidade natal, permaneceu no Post por 26 anos, até os 70 de idade, na condição de editor executivo. Aposentou-se em 1991. Enquanto esteve lá, o Post conquistou 17 prêmios Pulitzer, o Oscar do jornalismo.