sexta-feira, 30 de maio de 2008


A volta de Pantanal

Pantanal, a obra que revolucionou o universo das telenovelas no Brasil, pode ser reexibida em breve pelo SBT. Sílvio Santos teria comprado os direitos e as fitas de um empresário que as arrematou em leilão cinco anos atrás. A Globo pretende impedir, alegando ter adquirido os direitos diretamente do autor, Benedito Ruy Barbosa. Oficialmente, Pantanal foi considera pela Justiça parte da massa falida da TV Manchete.


Os fãs torcem pelo SBT, uma vez que a Globo dificilmente reprisaria a novela. A emissora costuma se comportar como ex-namorado que não quer mais a mulher, mas também não quer que ninguém a tenha (vale o mesmo para a ex). Pantanal virou cult. Cópias são vendidas pela internet, mas sem a qualidade das originais, por mais que o tempo desgaste um VHS.

Escrita por Barbosa e dirigida por Jayme Monjardim, Pantanal foi ao ar em 1990 com Cristiana Oliveira e Marcos Winter, de química perfeita, nos papéis principais. O ótimo elenco incluía nomes como Cláudio Marzo, Jussara Freire, Marcos Palmeira, Nathália Timberg, Paulo Gorgulho, Ítala Nandi, Sérgio Reis, Marcos Caruso, Ângela Leal, Luciane Adami, Rosamaria Murtinho, Tarcísio Filho e José de Abreu, entre outros.

Gravada no deslumbrante cenário do Pantanal, a novela teve na fotografia outro ponto alto, com tomadas cinematográficas muito bem dirigidas por Monjardim. A reconstituição da rotina do lugar, onde a vida passa lenta, no ritmo do ciclo das águas, encantou o público brasileiro. Enquanto as novelas da Globo têm cenas curtas e cortes rápidos, Pantanal se desenrolava devagar, quase como um filme de Bergman, e as cenas podiam se estender bastante, próximo do tempo real, um relaxamento para o espectador depois de mais um dia de correria nas grandes cidades.

A trilha sonora, com Almir Sater, Robertinho do Recife, o grupo Sagrado Coração da Terra, entre outros, transmitia simplicidade, sentimentos sinceros e uma boa dose de candura.

Com tudo isso, a Manchete conseguiu bater a Globo em audiência. Infelizmente, nove anos depois a Manchete faliu e virou RedeTV! Pantanal chegou a ser reprisada no final dos anos 90. Como o tempo não diminuiu sua beleza e profundidade, merece nova exibição. Quando foi lançada, emocionou variados públicos, de homens sessentões a meninas de 13 anos de idade, hoje recém passadas dos 30.

Fiquemos na torcida. Vai nessa, SBT.

quinta-feira, 29 de maio de 2008

FRASE DO DIA

"O governo fez isso para esconder os problemas que estão acontecendo no País".
Alexandre Nardoni, acusado de matar a filha Isabella, de 5 anos, sobre a repercussão do caso.


EXPLICAÇÃO DO DIA

"O autor Aguinaldo Silva encaminhou os últimos capítulos à TV Globo com a sugestão de uma cena de beijo entre Carlão e Bernardinho, reconhecendo a prerrogativa da emissora de avaliar a conveniência da gravação da cena, não prevista na sinopse da novela. A TV Globo concluiu que a cena não é apropriada."
Central Globo de Comunicação, sobre cena vetada da novela Duas Caras.

terça-feira, 27 de maio de 2008

Mata Atlântica

Hoje é o Dia da Mata Atlântica. Nada a ser celebrado, mas lamentado e refletido. Restam 7% da área original de Mata Atlântica no Brasil. O número é por demais assustador e auto-explicativo.

Este blog não tratará "apenas" de natureza, mas coincidiu de termos Amazônia ontem, Mata Atlântica hoje.

Aproveitando o embalo, segue um vídeo da National Geographic, apresentado pelo ator Edward Norton, sobre pequenas atitudes que podem ajudar a salvar a vida no Planeta.


segunda-feira, 26 de maio de 2008

Seres da Floresta

Marina Silva já conseguiu, nestes poucos dias fora do governo, chamar mais a atenção para a questão da Amazônia do que em cinco anos como inquilina do Ministério do Meio Ambiente. No cargo, transitou no limbo entre as boas intenções e os vacilos de quem sabia o que não fazer, mas nem sempre dava idéia de saber o que fazer. Mulher de convicções firmes, mas cuja voz, tão suave quanto estridente, não se fazia ouvir em meio ao alarido demagógico, irresponsável e criminoso do debate sobre preservação ambiental x desenvolvimento, em especial quando o tema é a Amazônia, a ex-ministra virara peça decorativa. Preferiu jogar a toalha. Numa versão menos trágica de Getúlio Vargas, Marina saiu do cargo e entrou para a história. Tal qual o Pai dos Pobres, a Mãe da Floresta explicou em uma carta as razões de seu gesto. Numa ironia final, o presidente Lula, que nunca sabe de nada, desta vez foi mesmo o último a saber.

A mais célebre discípula de Chico Mendes concedia ao governo Lula uma cara ecologicamente correta. Sem uma política ambientalista clara e conseqüente, o Brasil ainda assim podia se exibir para o mundo com as feições límpidas de Marina, caso raro em meio a semblantes sulcados pela corrupção. Até na hora de partir Marina foi uma exceção: ao contrário da maioria dos ministros caídos nos dois mandatos, saiu pela porta da frente, com a cabeça erguida, o currículo intocado, sem a Polícia Federal ou integrantes de CPIs em seu encalço.


Carlos Minc, cujo sobrenome-sigla parece torná-lo mais próximo de um cargo no Ministério da Cultura, ao menos não deverá enfrentar problemas de falta de diálogo com os pares. O ex-guerrilheiro refere-se à Dilma e ao Lula assim mesmo, pelo prenome, com a intimidade somente permitida a velhos companheiros, dando a entender que terá livre acesso aos gabinetes palacianos de primeiríssimo escalão. Tampouco deixará de ser ouvido, com sua voz de bom timbre, pausas bem colocadas acentuadas pelo sotaque carioca, a capacidade de mirar a câmera e falar de modo coloquial, meio que dispensando o entrevistador, e o apreço por tiradas cômicas e declarações polêmicas.

A primeira frase de impacto pronunciada por Minc ao ser indicado para o cargo soou emblemática: “O Rio de Janeiro eu conheço muito bem, mas o Brasil eu conheço muito mal”, disse o homem encarregado, entre outras coisas, de salvar a Amazônia. Talvez não seja afinal um problema, uma vez que dificilmente um potencial candidato ao cargo conhecesse a Floresta melhor do que Marina, e isso não representou qualquer avanço. De todo modo, o novo ministro terá de mostrar ao mundo que tem bem mais do que uma boa voz, figurinos espalhafatosos e cabelos à espera de uma tesoura. Marina era um ícone, uma garantia de que o Brasil mantinha no comando da pasta do Meio Ambiente – ou ao menos simulava fazê-lo – alguém de fato engajado na defesa da Floresta, disposta a desagradar interesses poderosos do capitalismo. Minc, para o bem e para o mal, é apenas um ministro.

A notícia da queda de Marina na imprensa internacional foi em muitos casos acompanhada de textos editorializados cujo conteúdo acende bem mais do que a luz amarela. O britânico The Independent, depois de se referir a ela como “anjo da guarda da Amazônia” e à sua saída como um “duro golpe para o Planeta”, falou com clareza o que muitas autoridades, ONGs e ativistas europeus e americanos pensam: “Esta parte do Brasil é muito importante para deixar para os brasileiros”.

The New York Times não foi mais sutil, ao lembrar declaração antiga de Al Gore, ex-vice-presidente americano na era Clinton e que só não foi o titular depois porque Bush levou a melhor numa eleição no mínimo suspeita, e que hoje é um celebrado militante da luta contra o aquecimento global: “A Amazônia não é propriedade dos brasileiros, e sim de todos nós”, disse certa vez Al Gore, sem o refinamento de texto do primo Gore Vidal.

Minc reagiu: “Os brasileiros também deveriam ser consultados sobre o patrimônio ameaçado dos Estados Unidos”, replicou, além de sugerir que Paris e Nova York poderiam ser internacionalizadas. Nacionalistas, ecologistas, patriotas, antiimperialistas e militantes de variadas espécies vibraram com a pronta e debochada resposta. Minc deu seu show, como parece ser de seu perfil. O problema é que o assunto é sério demais para se brincar. O NYT e o Independent não expressaram a opinião apenas do autor do texto, mas um pensamento corrente no mundo há bastante tempo. Bravatas ficam bem no You Tube, mas podem se tornar perigosas. Ao recorrer a elas, Minc manda o recado de que não se pode levar a sério tais pretensões.

Ao contrário, ministro, deve-se levar a sério, sim. Eles não são de brincadeira, o mundo inteiro sabe disso. Os países invadidos sob pretextos esdrúxulos, os povos subjugados e os territórios tomados por interesses bem menores do que a Amazônia são provas de que é melhor não dar muita risada. Mas isto é irrelevante, no fundo. Mais do que a soberania nacional vale a vida no Planeta. Se fosse para resolver o problema ambiental, unir os povos da Terra e proteger todas as espécies animais e vegetais, que viessem os ianques, mas sabemos que a civilização se move pela cobiça.

A Amazônia tem 6,5 milhões de quilômetros quadrados, dos quais 5,2 milhões ficam no Brasil, o que representa 60% do território nacional. A Amazônia brasileira abrange nove Estados e corresponde, por exemplo, a sete vezes o território da França. Vejamos outros números:


16,5 milhões de habitantes
12% da população do país
Densidade demográfica de 3,2 habitantes/km²
Maior bacia de água doce do Planeta
Mais de 200 espécies diferentes de árvores por hectare
1.400 tipos de peixes
1.300 espécies de pássaros
Mais de 300 espécies de mamíferos
Maior fonte natural no mundo para produtos farmacêuticos e bioquímicos
1/3 das Florestas tropicais do Planeta (US$ 1,7 trilhão em reservas de madeiras de lei)
Mais de 30% da biodiversidade da Terra
Jazidas de metais nobres estimadas em US$ 1,6 trilhão
Último espaço inexplorado agriculturável do Planeta (pode aumentar em 80% a produção do País)
(FONTE: SIVAM)

Decididamente, não se pode brincar com tudo isso. É simplesmente a vida do Planeta que está em jogo. O Plano Amazônia Sustentável (PAS) é o principal embate hoje entre ambientalistas e fazendeiros, usineiros, madeireiros e outros. Marina caiu pela intransigência na manutenção de certos paradigmas, pela falta de autoridade dentro do governo, pela intromissão de pares mais bem posicionados no Planalto, entre outras coisas.

Minc é o homem certo para Lula. Como secretário de Meio Ambiente do governador Sérgio Cabral, no Rio, Minc, um dos fundadores do Partido Verde, revelou-se tão empenhado nas causas ambientais quanto ágil em acelerar liberações de novos empreendimentos. Sem isso, o PAC – e não apenas o PAS – emperra e a candidatura Dilma fica prejudicada. Atender ao chamado das urnas é a questão mais urgente para o governo e para alguns de seus amigos, como Mauro Blaggi, governador do Mato Grosso e maior plantador de soja do mundo, cujas lavouras ajudaram a devastar a Amazônia nos últimos anos. As ameaças vêm de todos os lados. Tramita na Câmara o projeto de lei 1278/07, do deputado Osvaldo Reis (PMDB-TO) propondo a exclusão do Estado do Tocantins da Amazônia Legal, liberando para a agricultura e a pecuária áreas de preservação da cobertura florestal.

São detalhes de um jogo complicado, com desmatamento permanente para a extração clandestina de madeira, queimadas para plantio, limpeza de terreno para aterrissagem de narcotraficantes, mas também de extensas áreas entregues a um punhado de índios que não precisam cumprir a lei do homem branco, embora se beneficiem dela, do drama de milhões de pessoas que precisam garantir a subsistência, enfim, e ainda vêm os americanos e ingleses propor a jurisdição internacional da área e a confusão só aumenta.

A humanidade hoje sabe como se desenvolver sem agredir o ambiente. Milhares de empresas ao redor do mundo, nas florestas ou fora delas, ganham muito dinheiro preservando, ou mesmo com a própria preservação. Temos idéias, recursos, tecnologia. Falta o de sempre: bom senso, responsabilidade, seriedade, honestidade, ética. Mas aí já é pedir demais.



Créditos das fotos:
Amazônia - Divulgação MMA
Marina Silva com o presidente Lula - Divulgação MMA
Al Gore - Divulgação Al Gore
Amazônia - Jefferson Rudy/Divulgação MMA
Carlos Minc - Ignácio Ferreira/Divulgação