terça-feira, 11 de março de 2014

Qual o seu clube?
Uma rede social não é como a casa da gente, e sim como um clube ao qual as pessoas vão para conhecer outras pessoas, revê-las ou conhecê-las melhor, contar as novidades, mostrar suas fotos, trocar receitas, falar de seus bichinhos de estimação, de dietas, de esportes, de religião, de política e de todo tipo de assunto. Também vão para fazer negócios, receber e dar oportunidades.

Como em qualquer clube "presencial", a educação e o respeito se fazem necessários ao bom convívio. Pode-se escolher mesas, rodinhas de conversas ou salas temáticas nas quais se reúnem pessoas com pontos de vista e interesses comuns.
Quem quiser falar em particular, a fim de não incomodar os demais com questões privadas ou expor sua intimidade, tem a chance de convidar discretamente alguém a acompanhá-lo a uma sala reservada ao lado do salão principal, ao bar, ao jardim ou às instalações íntimas no segundo andar, ou seja, ao chat.
A vantagem deste cube é que não precisamos conviver com alguém de quem não se gosta, ou com gente mal educada, grossa, desrespeitosa, tóxica. Tampouco precisamos circular entre pessoas que nunca nos dão atenção, que estão ali apenas para serem vistas e elogiadas, jamais criticadas, e que costumam ser a maioria em qualquer clube, virtual ou real.
Não precisamos conviver com tais pessoas porque este clube, embora coletivo por definição, é customizado. Só vemos quem queremos, só somos vistos por quem queremos.
Podemos encará-lo como salão de festas, palco de debates, ponto de encontro de voluntariado, sala de reuniões, vitrina, passarela, entre tantas outras funções. Trata-se de um espaço multiuso. Seja qual for o utilidade que se dê a ele, as regras básicas de convivência seguem valendo.
Em qualquer dos casos, é tudo bem simples: podemos convidar só quem queremos, expulsar os penetras, mandar embora os convidados que se revelem inconvenientes e depois voltarmos a flanar tranquilos pelos salões.
Não precisamos restringir os convites somente a quem poderia frequentar nossa casa, neste clube é possível sermos menos seletivos, mas nem tanto. Que sejam pessoas que convidaríamos para uma mesa de bar ou, no mínimo, para um evento.
É claro, como em qualquer reunião social, muitos estão ali por interesses menos nobres do que a mera amizade. Interesses deles ou nossos, geralmente de ambos, de natureza profissional, política, afetiva, sexual, tem de tudo. Neste caso, em nome destes interesses, "todos são bem-vindos" e o jeito é sermos pacientes e segurarmos a onda.
Mas aí o clube, que era um lugar gostoso de frequentar, torna-se apenas um local público qualquer, sem garantia de conforto, aconchego e sequer segurança.
Então, a customização de um espaço público, o pulo do gato das redes sociais, deixa de existir, e voltamos a nos sentir perdidos e amedrontados em meio à multidão.
Somos os donos do clube, podemos definir seu perfil, quem entra, quem é barrado, a música a ser tocada, a comida e a bebida a serem servidas, a decoração, tudo depende das relações sociais virtuais que desejamos estabelecer.
Só não esperemos que os convidados chatos, os que falam demais, os agressivos, os que beberam além da conta e já estão passando cantada em nossa vovozinha de 98 anos se toquem espontaneamente de sua inconveniência e se retirem, isso não ocorrerá, do contrário, não seriam inconvenientes. Mas não nos esqueçamos, o clube é nosso.
Fico imaginando o que diria sobre isso Groucho Marx, autor da célebre frase: "Eu não entraria para nenhum clube que me aceitasse como sócio."