PUBLICADO EM VEJA.COM
(Meu texto na coluna de Augusto Nunes em 1º de julho de 2018)
CONCERTO PARA ESFERA E PAPEL
Enquanto verifico no celular a programação do dia seguinte na Copa da Rússia, meu pensamento retorna a meados de 1970. A casa de madeira com seus rangeres noturnos e móveis desgastados hospedou uma instigante novidade tecnológica em um fim de semana de frio intenso, suavizado pelo fogareiro a carvão. Meu pai levara serviço para casa e, com ele, uma IBM elétrica de esfera. Aos olhos de um menino de dez anos sem muito contato com as novidades do mundo, a Ferrari das máquinas de escrever, com seu largo e sólido corpo de ferro, sua batida ágil, silenciosa e veloz como nenhuma outra jamais conseguira ser, assemelhava-se a um instrumento dos deuses. Além disso, pensava o menino, o pai devia ser importante na firma se podia levá-la para casa.