sábado, 7 de dezembro de 2013

O batom na cueca e o preservativo clandestino

Segundo o velho dito popular, “tudo tem explicação, menos batom na cueca”.  Sempre acreditei que, de fato, não havia justificativa possível para tal, digamos, evidência, até que um dia...

Na época eu jogava (mal, mas jogava) tênis regularmente, hábito que tento retomar. Certa vez, depois de praticar um pouco pela manhã, cheguei e fui direto para o chuveiro. Quando já me vestia para almoçar e em seguida ir para o trabalho, minha mulher entrou no quarto e, segundos depois, começou a gritar e me xingar, mas não dizia por quê. Quando eu tentava perguntar o motivo da confusão, ela respondia com o clássico “e ainda se faz de desentendido, seu cara de pau!” Deve ter dito coisa pior, mas vamos manter a elegância do texto.
Como eu insistia em afirmar que não sabia do que se tratava, ela enfim disse: “Este batom na tua cueca! Não te faz de bobo, calhorda”, ou algo assim. Olhei para minha cueca, de fato havia na barra algo ínfimo, mas que parecia mesmo uma marca de batom. “E tem a coragem de mentir que estava jogando tênis.” A bronca persistiu por alguns segundos. Como sempre acontece com quem se descontrola emocionalmente, ela estava “cega” demais para perceber algo evidente e que eu tentava, em vão, explicar: aquela cueca eu acabara de retirar da gaveta, a que eu usava antes ficara no cesto de roupas do banheiro. Então, ainda que fosse uma marca de batom, não seria daquele momento. E como ela costumava administrar a lavagem, além de dobrar e guardar as minhas roupas, certamente teria visto antes, se fosse o caso.
O mistério e a bronca persistiram até a mãe dela chegar para o almoço. Ocorre que nossa máquina de lavar estava no conserto. Como a mãe morava perto, ela levara as roupas para lavar lá. Depois, minha então sogra fizera a gentileza de secar, passar e já trazer tudo pronto. Ao verificar a roupa no varal, seguindo um hábito de gerações, encostava as peças de roupa na bochecha para ver se estavam de fato secas. Muito vi minha avó fazer isso quando eu era garoto. Num descuido, esbarrou no batom o suficiente para deixar uma marca bem pequena, mas gigantesca aos olhos de uma esposa enfurecida.
Passada a bronca, vieram as risadas e, por fim, a constatação de que daquele dia em diante já não valia mais o dito popular, pois tudo tem explicação, até batom na cueca.

Mas pode um preservativo surgir do nada em uma sacola de compras? Pode.

Esta aconteceu há poucos dias. Eu havia feito compras em um shopping e carregava uma sacola da loja quando entrei na farmácia em busca de analgésicos. Comprei, paguei e, já na saída, resolvi me pesar. Pendurei a sacola naquele gancho na lateral da balança, pesei-me e fui embora. Depois de dar uns poucos passos olhei para a sacola para ver se havia ajeitado de modo adequado o pequeno saco plástico da farmácia para que ele não caísse no caminho. Foi quando vi, solta dentro da sacola, a embalagem bastante chamativa de um preservativo com os seguintes “dizeres”:

Prudence Cores e Sabores
Morangão
58mm – XXG
Enorme e com sabor.

Meu primeiro pensamento foi de voltar à farmácia e devolvê-lo. Em seguida, pensei no que iria dizer. “Olha, eu não sei como este preservativo foi parar dentro de minha sacola...” Mas logo concluí que eu provavelmente me incomodaria de alguma forma, achariam que roubei e me arrependi, por exemplo. Imaginei dizer: “Pensem bem, é claro que eu não roubaria isso, por que diabos eu iria querer tamanho XXG, sou um cara realista...” Mesmo assim, concluí que daria trabalho explicar, e como não era algo de muito valor, melhor deixar pra lá.
A dúvida, no entanto, persistia: como aquilo fora parar dentro da sacola de compras? Dias depois encontrei um amigo, contei o que havia ocorrido e ele decifrou o enigma. “Tem um totem de venda de preservativos ao lado da balança, bem próximo mesmo, sempre esbarro nele quando vou me pesar, você deve ter batido com a sacola e uma embalagem foi parar lá dentro.” Pelo que o conheço, ele provavelmente costuma é esbarrar na balança quando vai comprar preservativos, mas isso não é da minha conta. O importante é que o pequeno mistério estava esclarecido. E a embalagem repousa em uma gaveta de minha mesa de trabalho. Fechada, é claro, e assim permanecerá até que eu a ponha no lixo, afinal, é “morangão XXG”.