Concerto para esfera e papel
A velha casa de madeira com seus rangeres noturnos, móveis desgastados e pátio mal cuidado hospedaria uma alvissareira novidade tecnológica naquele ano de 1970. Num final de semana frio, suavizado pelo fogareiro a carvão, meu pai levara serviço para casa e, com ele, uma reluzente IBM elétrica de esfera, dos primeiros modelos, ainda com bordas arredondadas. Aos olhos de um menino de dez anos sem muito contato com as novidades do mundo, a Ferrari das máquinas de escrever, com seu largo e sólido corpo de ferro, sua batida ágil, silenciosa e veloz como nenhuma outra jamais conseguira ser, assemelhava-se a um instrumento dos deuses. Além disso, meu pai devia ser importante na firma, para poder colocá-la embaixo do baixo e se mandar para casa ao final do expediente.
Tão magnífico equipamento era acompanhado de caixinhas com uma fina base de plástico e uma tampa de acrílico em forma de redoma que permitia vislumbrar o instigante conteúdo: em seu interior jaziam, brilhando de novas, uma meia-dúzia de esferas sobressalentes. Ao contrário das outras máquinas de escrever, meros invólucros de plástico recheados de gravetos vacilantes, barulhentos e desencaixantes, com fitas sujas, frágeis e desenroscantes, aquela maravilha permitia a troca da esfera que ia e vinha, vinha e ia sem que nem bem lhe pudéssemos registrar os movimentos.
Pela primeira vez, e muito antes de o computador doméstico entrar em cena, podia-se variar a tipologia de um texto sem recorrer a uma gráfica. Era possível datilografar em itálico, negrito, letra cursiva, corpo maior que o usual, sublinhar, bater de novo por cima para reforçar, traçar fios, cercaduras e, com alguma imaginação, até alguns desenhos primitivos, e tudo de maneira limpa, sem borrões, sem dedos sujos, pois mesmo a fita, encaixotada como uma VHS, era de natureza superior.
sábado, 10 de agosto de 2013
quarta-feira, 7 de agosto de 2013
É Primavera em Pinellas
O texto a seguir, sobre o drama envolvendo Mary Schindler, foi publicado originalmente no site Coletiva.net em 29 de março de 2005. Dois dias depois, os aparelhos que a mantinham viva foram desligados.
O texto a seguir, sobre o drama envolvendo Mary Schindler, foi publicado originalmente no site Coletiva.net em 29 de março de 2005. Dois dias depois, os aparelhos que a mantinham viva foram desligados.
Os cidadãos do condado de Pinellas, na Florida, cujo emblema em vermelho, amarelo e azul mescla o sol e uma flor, têm ocupado os últimos dias discutindo a alta taxa de obesidade infantil. A cultura do hamburguer cobra seu preço. É preciso fazer algo urgente pelas crianças de Pinellas.
Enquanto o museu internacional da Florida exibe uma celebração à Princesa Diana, a liga de beisebol prepara-se para a pré-temporada que se inicia em 3 de maio e reina grande expectativa em torno da mostra Londres de Monet. Ocupam-se ainda, os moradores do condado de Pinellas, em combater os transtornos causados por quem estaciona trailers e motorhomes nas entradas dos pátios. Como tais veículos excedem em muito o comprimento de um carro, eles acabam invadindo o passeio público. Nos Estados Unidos, ninguém tem dúvidas de que as calçadas são de todos.
Como o 911 não dá atenção a pendências do gênero, a não ser que os vizinhos partam para as vias de fato, em situações mais comedidas os moradores podem recorrer ao Departamento de Disputa entre Cidadãos, pelo fone 582-7250. O setor de Pequenas Reivindicações pode ser acionado pelo 464-3267, o Direitos Humanos pelo 464-4880 e o Controle de Mosquitos pelo 464-7503. Há ainda o 464-7565 para Denúncias de Desperdícios, e o 464-8210 do Desenvolvimento da Comunidade (a propósito, o código de área é 727). Tudo muito rápido, simples e americano.
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