terça-feira, 21 de outubro de 2008

NAS BANCAS


Paul Auster é um dos melhores autores em língua inglesa da atualidade. Na revista Aplauso que acaba de ir às bancas, publico uma resenha de seu mais recente livro. Clique sobre a imagem para ver a página em PDF, ou leia abaixo.


LITERATURA


Auster dá um passo no escuro

A prosa simples e escorreita de Paul Auster lançou-o ao panteão dos grandes autores contemporâneos em língua inglesa, ao lado de nomes como Don DeLillo, John Updike, Phillip Roth, Ian MacEwan e J. M. Coetzee. Nascido em 1947 na cidade de Newark, em New Jersey, Auster conta histórias com a naturalidade dos escritores vocacionais, e seu estoque de sortilégios lingüísticos costuma ser tão básico – e eficaz – quanto o de um avô entretendo os netos.

Obras como A Invenção da Solidão, A Trilogia de Nova York ou Leviatã são credenciais indiscutíveis de um tremendo escritor. Em seu mais recente romance, Homem no Escuro (Cia. Das Letras), Auster dá, literalmente, um passo no escuro, ao retomar fórmulas desgastadas – ainda que possam funcionar lindamente –, com as quais ele próprio já enfrentou dificuldades em lidar em ocasiões anteriores. O resultado é um livro sem foco, destinado mais a expor as idéias de vida e as opiniões políticas do autor do que a contar uma bela história.

O narrador, Augusto Brill, é um homem passado dos setenta anos, viúvo recente, inválido também recente devido a um acidente de carro, que vai morar com a filha, abandonada pelo marido, e com a neta, cujo ex-namorado morreu em circunstâncias trágicas. Para lidar com seus próprios fantasmas e os fantasmas das que o rodeiam, Brill tenta driblar a insônia inventando histórias fantásticas.

Mais uma vez, o personagem tem um ofício semelhante ao do autor. Brill é um resenhista respeitado, ganhador do Pullitzer, a filha está escrevendo um livro e a neta quer ser cineasta. Tudo em casa. Numa casa sombria, repleta de lembranças insuportáveis.

O livro se divide entre a história desta família pouco afortunada e um universo paralelo no qual o 11 de Setembro nunca aconteceu, mas a fraudulenta eleição americana de 2000, que elegeu George W. Bush pela primeira vez, levou a uma nova Guerra Civil. Em vez de matar em terra alheia, os americanos resolvem matarem-se uns aos outros. Vale como crítica social, embora prejudicada pelo maniqueísmo. O personagem central desta subtrama tem de matar o criador, no caso, Brill. Trata-se de Pirandello sem a humanidade alcançada pelo dramaturgo italiano.

Uma das passagens mais brilhantes do livro ocorre quando o autor fala sobre a presença de objetos inanimados a expressar as emoções dos personagens em filmes clássicos como Ladrões de Bicicleta, de Vittorio De Sica. Mas logo retoma seu muro das lamentações particular, depois de a história paralela se encerrar sem dizer a que veio.

O velho e bom Auster da metalinguagem, do subtexto, das histórias dentro de histórias, da obsessão por Kafka, Proust e Beckett, desta vez se perdeu em seu próprio labirinto. Mesmo trabalhos menos expressivos de Auster, no entanto, exibem algum vigor formal, uma prosa deliciosa e momentos pungentes. O problema é que ele já nos deu muito mais. E, depois que se experimenta o melhor...


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UMA FRASE


"O amor é um cão dos diabos: me dê uma mulher verdadeiramente viva nesta noite (...) e o senhor pode ficar com todos os poemas."

Charles Bukowski (1920-1994)


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COFFEE BREAK


TOCO Y ME VOY


Os vincos no rosto e as rugas na alma


Augusto Nunes

Um é novo, outro é velho, decreta a primeira linha de uma reportagemque confronta os perfis dos candidatos Eduardo Paes, 38 anos, eFernando Gabeira, 67. Se a frase estivesse incorporada ao editorial queformaliza a escolha feita por um jornal, nada a objetar. Se incluída em algumtexto assinado por colunistas ou colaboradores, formalmente liberados paraemitir opiniões, tudo bem. Se abre uma reportagem destinada a tratar as coisascomo as coisas são, a isenção é assassinada no início do filme – e oscapítulos restantes são condenados à morte por parcialidade. Não há esperança desalvação para matérias jornalísticas que, amparadas em duas certidões denascimento, decretam em seis palavras quem é o novo e quem é o velho.

Se a diferença de idade é o quesito mais relevante no desfile decomparações, a sensatez e a ética recomendam enunciados que rimem comneutralidade. Por exemplo: um tem 29 anos menos que outro. Ou, então, um tem29 anos mais que o outro. Ou, ainda, um é mais novo que o outro. A escolha deuma quarta opção fez de Paes a encarnação da novidade, da inovação, damudança – e comunicou aos cariocas que o candidato do PV é apenas velho.

Quase 34 anos distante de Oscar Niemeyer, dez atrás de FernandoHenrique Cardoso, quatro à frente de Lula, apenas um à frente deJosé Serra, Gabeira só se encaixaria nessa simplificação se fosseportador de senilidade precoce (e aguda). Como o candidato sessentãochegou ao ponto final da reportagem com boa saúde, deduz-se que odecreto se apoiou exclusivamente no calendário gregoriano.

Juventude é uma expressão associada a entusiasmo, energia,dinamismo, vitalidade. No Brasil, pode ser o outro nome do perigo. Os maisvelhos sabem disso desde o começo da década de 60. Os ainda novos ficaramsabendo na década de 90. Jânio Quadros tinha 44 anos ao tornar-se presidenteem 1961. Renunciou depois de sete meses, sem explicar por quê. O vice JoãoGoulart tinha 43 quando herdou a vaga. Perdeu-a 36 meses mais tarde, depostopelo golpe militar de 1964.

Como a era dos generais revogou a eleição direta, o últimopresidente escolhido nas urnas seria também o mais jovem da históriarepublicana até 1989. Foi superado por Fernando Collor, eleito com 40 anos. Orecordista em idade se tornaria também o único a escapar do impeachment peloatalho da renúncia. Os presidentes quarentões não deixaram saudade.

No começo da campanha, Eduardo Paes parecia moço demais para cuidardo Rio. A poucos dias da decisão, está claro que o corpo de menor de40 tem uma cabeça perturbadoramente envelhecida por excesso de pressa ecarência de princípios. Gabeira foi desde sempre um contemporâneo do mundo aoredor. Paes é a versão remoçada dos políticos do século passado. Um seorienta por idéias. Outro é conduzido por interesses, circunstâncias econveniências. Embarca no trem que lhe parece mais veloz, abandona o vagão quandoa velocidade diminui. Começou no PV, fez uma demorada escala no cordão dosagregados de Cesar Maia, elegeu-se deputado federal pelo PFL, filiou-se aoPSDB, caprichou no papel de inquisidor enquanto durou a CPI dos Correios,foi promovido a secretário nacional do partido, candidatou-se a governadorpara garantir a tribuna indispensável para desancar o padrinho Cesar Maia e oadversário Sérgio Cabral, rendeu-se ao PMDB de olho em alguma vaga nosecretariado estadual. Para quem viveu tão pouco, não é pouca coisa.

Decidido a alojar-se no gabinete do prefeito, topa qualquernegócio, faz tudo o que for preciso. Insulta o tutor Cesar Maia,rasteja diante de Lula, presta vassalagem à primeira-dama, ordenaagressões a cabos eleitorais adversários, mobiliza entidadesfantasmas em passeatas instruídas para gritar que Gabeira odeiasuburbanos, renega os companheiros de combate na CPI, acariciamensaleiros juramentados, absolve de todos os pecados a bandidagemdos partidos que o apóiam. Cesar Maia? Só esse não pode. Babu, overeador de estimação dos moradores dos presídios, esse pode.Delúbio Soares? Pode.

Os vincos no rosto de Fernando Gabeira reafirmam a idade que tem.As rugas na alma de Eduardo Paes informam que a idade mental é muito maiorque a oficial.

Um é antigo. Outro é moderno.



Publicado originalmente no Jornal do Brasil e republicado aqui com a anuência do autor.


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PLANETA TERRA


Retirei o banner do wecansolveit.org ali da direita porque, apesar de admirar a causa comandada por Al Gore, eu esperava uma atuação mais global. Nos últimos meses, no entanto, a ONG tem se dirigido exclusivamente ao povo americano. Por mais respeitável que seja sua bandeira, não tenho como empunhá-la no momento e, por menos representativo que seja este espaço, pretendo usá-lo apenas para promover causas às quais eu me sinta de fato engajado. Agradeço a todos pela compreensão.


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segunda-feira, 20 de outubro de 2008

PLANETA TERRA (2)


O banner do Instituto Carijós Pró-Conservação da Natureza, por sua vez, passa a ocupar o topo da coluna. Quem quiser conhecer melhor o trabalho do IC basta clicar ali. Neste espaço, em vez de falar sobre ele, coloco algumas fotos auto-explicativas. É isto o que tentamos salvar todos os que o apoiamos. As fotos são de Anselmo Malagoli, que foi um dos fundadores do Instituto, há mais de 9 anos.