BOM FIM DE SEMANA
Fiquem com Ella Fitzgerald ao vivo em Londres, 1965, interpretando Manhattan e Every Time We Say Goodbye. Tenham um ótimo final de semana. Até segunda.
sexta-feira, 11 de julho de 2008
O eterno retorno
O fim de tarde aproxima-se a passos acelerados. Os dias são curtos nesta época do ano. Moro num país tropical, mas em sua porção mais meridional, o que significa menos sol ao longo do ano inteiro, embora com anoiteceres mais tardios. Ainda assim, o dia é curto neste inverno que recém se iniciou. Acelero meus passos. Caminhei por quase meia hora para chegar até aqui e ainda quero correr meia-dúzia de voltas na praça antes de retornar. A cada passada, a cada golfada de ar expelido contra a temperatura baixa, avanço não apenas em direção aos próximos quatrocentos metros. Avanço em direção ao passado.
A praça redescoberta fica em frente à escola na qual cursei da quinta à oitava série. A igreja de tantos momentos importantes também está ali. Os ônibus que muito utilizei, e que partiam de um local que então parecia distante, fazem agora ali seu fim de linha. Os referenciais são fortes, mas a praça parece bem diferente.
Apresso o passo. Nos últimos meses emagreci dezessete quilos, havia prometido emagrecer vinte, mas agora quero vinte e cinco. Dos noventa e cinco aos setenta. Quilos? Anos? Tanto faz. Faltam oito, portanto, que terei de queimar até setembro, para entrar no mês da Primavera, a Primavera de crespas chuvas, odores incomparáveis, cores e texturas indizíveis e aquele brilho arrebatador da vida, com a certeza do dever cumprido, ao menos no que me é possível cumprir apenas com a força de vontade.
As divagações cessam quando avisto um cão enorme com aparência de leão, mas serenidade de cordeiro, a descansar à sombra de uma grande árvore à frente do armazém inverossímil, fruto de uma página passada, insistentemente ainda ali, de portas abertas, a servir aguardente, quem sabe pastéis e paçocas a minguados clientes errantes de final de tarde.
O fôlego começa a escassear, mas o percurso ainda será longo. Retomo o ritmo ao observar o jogo de bocha no centro da praça, destinado a homens aos quais o prazer hoje se resume ao encontro com os velhos camaradas para competições sem perdedores, apostas nunca pagas e a esperança de ainda estar ali no dia seguinte.
Da fileira de ônibus estacionados não espero qualquer cena significativa, mas eis que ela surge na forma de uma rede pendurada entre os bancos, amarrada nos altos corrimões que servem de apoio aos passageiros na hora do rush, e onde agora um motorista dorme de boca aberta à espera do chamado para assumir a pole position da estação.
A praça antes parecia ameaçadora em certos horários, com seu matagal descuidado, seus recantos escuros, e acolhedora em outros, em seu lúdico abandono. Hoje já não parece assustadora, mas está tão bem cuidada que perdeu a poesia. Tanto quanto começo a perder as energias. Uma hora de caminhada e corrida, e ainda tenho de voltar. Melhor esquecer as recordações e poupar o fôlego para a caminhada de retorno. Esqueço que todo retorno possível está apenas nas lembranças.
O fim de tarde aproxima-se a passos acelerados. Os dias são curtos nesta época do ano. Moro num país tropical, mas em sua porção mais meridional, o que significa menos sol ao longo do ano inteiro, embora com anoiteceres mais tardios. Ainda assim, o dia é curto neste inverno que recém se iniciou. Acelero meus passos. Caminhei por quase meia hora para chegar até aqui e ainda quero correr meia-dúzia de voltas na praça antes de retornar. A cada passada, a cada golfada de ar expelido contra a temperatura baixa, avanço não apenas em direção aos próximos quatrocentos metros. Avanço em direção ao passado.
A praça redescoberta fica em frente à escola na qual cursei da quinta à oitava série. A igreja de tantos momentos importantes também está ali. Os ônibus que muito utilizei, e que partiam de um local que então parecia distante, fazem agora ali seu fim de linha. Os referenciais são fortes, mas a praça parece bem diferente.
Apresso o passo. Nos últimos meses emagreci dezessete quilos, havia prometido emagrecer vinte, mas agora quero vinte e cinco. Dos noventa e cinco aos setenta. Quilos? Anos? Tanto faz. Faltam oito, portanto, que terei de queimar até setembro, para entrar no mês da Primavera, a Primavera de crespas chuvas, odores incomparáveis, cores e texturas indizíveis e aquele brilho arrebatador da vida, com a certeza do dever cumprido, ao menos no que me é possível cumprir apenas com a força de vontade.
As divagações cessam quando avisto um cão enorme com aparência de leão, mas serenidade de cordeiro, a descansar à sombra de uma grande árvore à frente do armazém inverossímil, fruto de uma página passada, insistentemente ainda ali, de portas abertas, a servir aguardente, quem sabe pastéis e paçocas a minguados clientes errantes de final de tarde.
O fôlego começa a escassear, mas o percurso ainda será longo. Retomo o ritmo ao observar o jogo de bocha no centro da praça, destinado a homens aos quais o prazer hoje se resume ao encontro com os velhos camaradas para competições sem perdedores, apostas nunca pagas e a esperança de ainda estar ali no dia seguinte.
Da fileira de ônibus estacionados não espero qualquer cena significativa, mas eis que ela surge na forma de uma rede pendurada entre os bancos, amarrada nos altos corrimões que servem de apoio aos passageiros na hora do rush, e onde agora um motorista dorme de boca aberta à espera do chamado para assumir a pole position da estação.
A praça antes parecia ameaçadora em certos horários, com seu matagal descuidado, seus recantos escuros, e acolhedora em outros, em seu lúdico abandono. Hoje já não parece assustadora, mas está tão bem cuidada que perdeu a poesia. Tanto quanto começo a perder as energias. Uma hora de caminhada e corrida, e ainda tenho de voltar. Melhor esquecer as recordações e poupar o fôlego para a caminhada de retorno. Esqueço que todo retorno possível está apenas nas lembranças.
terça-feira, 8 de julho de 2008
Vendeta tropical
O presidente Lula foi dormir feliz no Japão. A operação Satiagraha (expressão celebrizada por Mahatma Gandhi e que significa “resistência pacífica e silenciosa”) da Polícia Federal deflagrada nesta manhã envolveu 300 agentes, 24 mandatos de prisão e 56 ordens de busca e apreensão, e levou para a cadeia, entre outros, o especulador Naji Nahas, o ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta e o banqueiro Daniel Dantas. Tudo normal. Tudo merecido. Nahas é velho conhecido no submundo das altas finanças e o ex-pupilo de Paulo Maluf igualmente dispensa apresentações, mas foi o encarceramento de Dantas que fez Lula adormecer contente.
Membro graduado do clube dos capitalistas ferozes, Dantas há muito é figurinha carimbada em operações empresariais obscuras, negociatas e farras com dinheiro suspeito em paraísos fiscais. Capaz de transitar com invulgar desenvoltura nos bastidores dos grandes negócios, Dantas ganha inimigos com a mesma velocidade com que fecha contratos milionários. Um destes inimigos é o presidente Lula.
À frente de um grupo de investidores, Dantas, dono do Grupo Opportunity detinha o controle da Brasil Telecom quando lhe sussurraram, durante a campanha presidencial de 2002, que o presidente da Oi (“simples assim”) Telemar, Carlos Jereissati, teria fechado acordo com o PT. Jereissati contribuiria com uma bolada para a campanha de Lula que, uma vez eleito, daria um jeito de arrancar a BR Telecom das mãos de Dantas e atirá-la nos braços do dono da Telemar (e da rede de shoppings Iguatemi, entre outros empreendimentos).
Dantas contra-atacou oferecendo outra bolada, que teria sido repassada por meio de Delúbio Soares e Antônio Palocci. Tentou com um considerável mimo de US$ 2 milhões enternecer o coração do poder. Não adiantou. Lula lá, o Citigroup, maior investidor do fundo controlador da Brasil Telecom foi pressionado por representantes do governo brasileiro a tirar Dantas do comando.
Jereissati ganhou o que queria, junto com seu sócio, Sérgio Andrade, da empreiteira Andrade Gutierrez, amigo de Lula. A Telemar injetou R$ 15 milhões na inexpressiva Gamecorp, de Fábio Luís da Silva, o Lulinha, filho do presidente Lula, cujo governo tratou de alterar a lei para permitir a realização do negócio envolvendo a Telemar e a Brasil Telecom. Simples assim. Lula, é claro, não sabia de nada disso. Como não sabia do mensalão, cujas investigações – que até agora não pegaram seus principais protagonistas – acabam de levar Dantas para a cadeia.
O presidente Lula foi dormir feliz no Japão. A operação Satiagraha (expressão celebrizada por Mahatma Gandhi e que significa “resistência pacífica e silenciosa”) da Polícia Federal deflagrada nesta manhã envolveu 300 agentes, 24 mandatos de prisão e 56 ordens de busca e apreensão, e levou para a cadeia, entre outros, o especulador Naji Nahas, o ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta e o banqueiro Daniel Dantas. Tudo normal. Tudo merecido. Nahas é velho conhecido no submundo das altas finanças e o ex-pupilo de Paulo Maluf igualmente dispensa apresentações, mas foi o encarceramento de Dantas que fez Lula adormecer contente.
Membro graduado do clube dos capitalistas ferozes, Dantas há muito é figurinha carimbada em operações empresariais obscuras, negociatas e farras com dinheiro suspeito em paraísos fiscais. Capaz de transitar com invulgar desenvoltura nos bastidores dos grandes negócios, Dantas ganha inimigos com a mesma velocidade com que fecha contratos milionários. Um destes inimigos é o presidente Lula.
À frente de um grupo de investidores, Dantas, dono do Grupo Opportunity detinha o controle da Brasil Telecom quando lhe sussurraram, durante a campanha presidencial de 2002, que o presidente da Oi (“simples assim”) Telemar, Carlos Jereissati, teria fechado acordo com o PT. Jereissati contribuiria com uma bolada para a campanha de Lula que, uma vez eleito, daria um jeito de arrancar a BR Telecom das mãos de Dantas e atirá-la nos braços do dono da Telemar (e da rede de shoppings Iguatemi, entre outros empreendimentos).
Dantas contra-atacou oferecendo outra bolada, que teria sido repassada por meio de Delúbio Soares e Antônio Palocci. Tentou com um considerável mimo de US$ 2 milhões enternecer o coração do poder. Não adiantou. Lula lá, o Citigroup, maior investidor do fundo controlador da Brasil Telecom foi pressionado por representantes do governo brasileiro a tirar Dantas do comando.
Jereissati ganhou o que queria, junto com seu sócio, Sérgio Andrade, da empreiteira Andrade Gutierrez, amigo de Lula. A Telemar injetou R$ 15 milhões na inexpressiva Gamecorp, de Fábio Luís da Silva, o Lulinha, filho do presidente Lula, cujo governo tratou de alterar a lei para permitir a realização do negócio envolvendo a Telemar e a Brasil Telecom. Simples assim. Lula, é claro, não sabia de nada disso. Como não sabia do mensalão, cujas investigações – que até agora não pegaram seus principais protagonistas – acabam de levar Dantas para a cadeia.
JORNALISMO
A Editora Letras Brasileiras lança Laowai, Histórias de uma Repórter Brasileira na China. Laowai significa "estrangeiro". Escrito pela correspondente internacional da Rede Globo Sônia Bridi, com fotos de Paulo Zero, o livro conta com as experiências profissionais e pessoais do casal Sônia e Zero, que foi para a China com um filho pequeno e encarou o desafio de montar a primeira base da Globo naquele lado do mundo.
CRÉDITO DAS FOTOS
A China na visão de Sônia Bridi
A Editora Letras Brasileiras lança Laowai, Histórias de uma Repórter Brasileira na China. Laowai significa "estrangeiro". Escrito pela correspondente internacional da Rede Globo Sônia Bridi, com fotos de Paulo Zero, o livro conta com as experiências profissionais e pessoais do casal Sônia e Zero, que foi para a China com um filho pequeno e encarou o desafio de montar a primeira base da Globo naquele lado do mundo.
A obra terá lançamentos em São Paulo (nesta quinta, dia 10, na Cultura do Conjunto Nacional), no Rio (terça, dia 15, na Livraria da Travessa, em Ipanema) e em Florianópolis (quinta, dia 17, na Saraiva do Iguatemi).
CRÉDITO DAS FOTOS
Divulgação
Assinar:
Postagens (Atom)