quarta-feira, 26 de novembro de 2014
GRANDES NOMES
Ben Bradlee, o editor por excelência
Ben Bradlee, o editor por excelência
A galeria dos grandes nomes do jornalismo costuma destinar os espaços mais nobres a homens que converteram reportagem em arte. O culto ao texto Frank Sinatra Está Resfriado, por exemplo, celebra, merecidamente, o genial Gay Talese, mas revela-se injusto ao relegar a uma quase obscuridade Harold Hayes, editor da Esquire que o escalou para a empreitada, bancou os altos custos, teve paciência para esperar e aceitar seus métodos e por fim publicou o perfil com todas as honras. O mesmo se dá em relação a Hiroshima, obra inaugural do new journalism, que elevou ao panteão dos mestres do ofício, com toda honra e justiça, o autor, John Hersey, mas não concedeu o reconhecimento devido ao editores Harold Ross e William Shawn, que dedicaram uma edição inteira da New Yorker àquele trabalho esplendoroso.
A cobertura do Caso Wategate consagrou mundialmente os repórteres Carl Bernstein e Bob Woodward, do Washington Post, história contada no livro Todos os Homens do Presidente, de autoria deles, e que deu origem ao filme homônimo (leia mais na reportagem de capa desta edição). Neste caso, felizmente, o editor não foi esquecido. Ainda que seu nome não soe tão popular para quem não é do ramo, Ben Bradlee obteve o devido reconhecimento.
A última homenagem ocorreu no ano passado, quando ele recebeu a medalha da liberdade das mãos do presidente Barack Obama, na Casa Branca, com direito a discursos emocionados de Bernstein e Woodward. Bradlee morreu em 21 de outubro último em Washington, aos 93 anos. Em nota oficial, Obama declarou: “Para Benjamin Bradlee, o jornalismo foi mais que uma profissão. Era um bem público e vital para a democracia. Bradlee transformou o Washington Post em um dos melhores jornais do país (...) e contou histórias que precisavam ser contadas”.
Nascido em Boston, Estado de Massachusetts, em 26 de agosto de 1921, Benjamin Crowninshield Bradlee ingressou no Washington Post, que viria a se tornar um dos jornais mais importantes dos Estados Unidos – e do mundo – somente aos 44 anos, em 1965. Se fosse no Brasil, possivelmente seria tarde demais para começar uma nova trajetória e assumir papel de relevo na história. Aqui, jornalistas nesta idade se encaminham rapidamente para a condição de velhos que devem ser descartados para dar lugar às novas gerações, mas, nos EUA, onde talvez os executivos da mídia não sejam tão inteligentes quanto os daqui, é uma idade em que os profissionais estão apenas começando sua escalada rumo a postos de chefia nas redações. Assim, Bradlee, que começara como jornaleiro em sua cidade natal, permaneceu no Post por 26 anos, até os 70 de idade, na condição de editor executivo. Aposentou-se em 1991. Enquanto esteve lá, o Post conquistou 17 prêmios Pulitzer, o Oscar do jornalismo.
A cobertura do Caso Wategate consagrou mundialmente os repórteres Carl Bernstein e Bob Woodward, do Washington Post, história contada no livro Todos os Homens do Presidente, de autoria deles, e que deu origem ao filme homônimo (leia mais na reportagem de capa desta edição). Neste caso, felizmente, o editor não foi esquecido. Ainda que seu nome não soe tão popular para quem não é do ramo, Ben Bradlee obteve o devido reconhecimento.
A última homenagem ocorreu no ano passado, quando ele recebeu a medalha da liberdade das mãos do presidente Barack Obama, na Casa Branca, com direito a discursos emocionados de Bernstein e Woodward. Bradlee morreu em 21 de outubro último em Washington, aos 93 anos. Em nota oficial, Obama declarou: “Para Benjamin Bradlee, o jornalismo foi mais que uma profissão. Era um bem público e vital para a democracia. Bradlee transformou o Washington Post em um dos melhores jornais do país (...) e contou histórias que precisavam ser contadas”.
Nascido em Boston, Estado de Massachusetts, em 26 de agosto de 1921, Benjamin Crowninshield Bradlee ingressou no Washington Post, que viria a se tornar um dos jornais mais importantes dos Estados Unidos – e do mundo – somente aos 44 anos, em 1965. Se fosse no Brasil, possivelmente seria tarde demais para começar uma nova trajetória e assumir papel de relevo na história. Aqui, jornalistas nesta idade se encaminham rapidamente para a condição de velhos que devem ser descartados para dar lugar às novas gerações, mas, nos EUA, onde talvez os executivos da mídia não sejam tão inteligentes quanto os daqui, é uma idade em que os profissionais estão apenas começando sua escalada rumo a postos de chefia nas redações. Assim, Bradlee, que começara como jornaleiro em sua cidade natal, permaneceu no Post por 26 anos, até os 70 de idade, na condição de editor executivo. Aposentou-se em 1991. Enquanto esteve lá, o Post conquistou 17 prêmios Pulitzer, o Oscar do jornalismo.
quarta-feira, 19 de novembro de 2014
segunda-feira, 17 de novembro de 2014
O cemitério de crianças
Há uma fábula que é mais ou menos como vou contar.
Preservei a ideia, mas criei meu próprio roteiro:
Certa vez, um peregrino cansado das muitas andanças
chegou a um lugarejo que, à distância, pareceu-lhe aprazível, acolhedor. Certo
de que encontraria ali repouso e alimento, já ia apressar o passo quando viu, próximo
da estradinha de chão, um cemitério tão bem cuidado quanto lhe parecera a vila
adiante. Mais do que isso, parecia mesmo bonito, se é possível ver beleza num
lugar ligado à morte, pegou-se pensando o viajante. Algo naquele local o atraía,
ele não resistiu e caminhou até lá.
De perto a sensação
de ordem e capricho era ainda mais forte. As lápides todas branquinhas, limpas
e bem cuidadas, flores viçosas ao pé de cada uma delas, tudo muito perfeito e
estranhamente belo. Foi então que estacou defronte uma delas, chocado diante
de algo tão evidente, mas que ele levara vários minutos para perceber. As lápides
tinham o nome e a idade de cada pessoa enterrada ali. Roberto, 7 anos. Paula, 5
anos. Camila, 6 anos. Elias, 9 anos. Pedro, 4 anos. Rosa, 8 anos. E assim por
diante. O andarilho sentiu-se um pouco tonto, tendo de se escorar na lápide de
Joana, 5 anos.
O que teria
acontecido? Uma praga, talvez, uma doença contagiosa que atacara
especialmente crianças? Ou seria a verdade ainda mais chocante? Um assassino
psicopata? Um grave acidente natural? Não, estas duas últimas hipóteses teriam
de ser descartadas, pois, só agora percebia, havia centenas de túmulos, e
todos de crianças. Seria uma prática local enterrar os inocentes em lugar
diferente do destinado aos adultos? Um ideia terrível gelou-lhe os ossos: e se o povo dali matasse as crianças em alguma espécie de
sacrifício macabro? Ele logo tratou de afastar essa ideia. Não, seria
doentio demais e, afinal de contas, a cidade parecia tão acolhedora, e o
próprio cemitério tão bem cuidado que isso não faria o menor sentido. A fome e
o cansaço começavam a afetar suas ideias, pensou.
O viajante saiu de seu
devaneio ao perceber a aproximação de um homem já em idade avançada que acabara
de depositar flores no túmulo de Vanessa, 6 anos. Poucos segundos de temor foram
sucedidos por um instante de alívio ao perceber no semblante vincado daquele
homem um sorriso que só poderia ser de bondade. Refeito do susto, respondeu ao
aceno do homem, encheu-se de coragem e perguntou:
– Por que só tem
crianças neste cemitério? Alguma epidemia? Um desastre natural? Ou vocês
enterram as crianças em local separado dos adultos? O que está acontecendo
aqui?
O homem não pareceu
surpreso com sua perplexidade, como se esperasse por uma pergunta assim. Com
voz calma e paciente, começou a falar:
– Aqui, quando
nascemos, ganhamos de nossos pais uma espécie de caderneta na qual, tão logo
crescemos o bastante para termos consciência das coisas, passamos a anotar cada
momento memorável de nossas vidas, e quanto tempo ele durou. O primeiro dia de
escola, o primeiro beijo, a formatura, a vitória na gincana, a medalha de honra
ao mérito, o primeiro emprego, o nascimento dos filhos, os encontros com os
amigos, as conversas com os pais ao redor do fogo nas noites de inverno, uma
noite de amor, anotamos tudo de que vale a pena nos lembrarmos. E assim
fazemos por toda nossa vida. Pode ser algo grande, como a compra de uma casa
ou a viagem dos sonhos, mas pode ser algo singelo e precioso, como um abraço
bem sentido, ou a mera troca de olhares com uma pessoa muito especial. Fica
tudo registrado na caderneta, o momento e quanto tempo durou. Quando morremos,
esse tempo é somado e então é determinada nossa verdadeira idade, a soma dos
momentos memoráveis, o tempo que realmente vivemos, e não apenas sobrevivemos
neste mundo.
O viajante não sabia
o que dizer, baixara os olhos para a lápide de José, 4 anos, e começara a
chorar. O homem perguntou-lhe então?
– Quanto tempo você
viveu?
Ele virou-se para
responder, mas já não havia ninguém ali.
ESCRIBAS E BOLEIROS
Jornalistas, escritores, enfim, quem não trabalha, só escreve, tem algo em comum com jogador de futebol, que também não trabalha, só joga. Quem ganha a vida jogando futebol se queixa da rotina dura de treinos e jogos mas, quando está de folga ou em férias, corre para bater uma bolinha com os amigos. Quem ganha a vida escrevendo se queixa da dura rotina de escrever feito doido para garantir o sustento mas, quando tem alguns minutos de folga faz o que para relaxar? Escreve.
sexta-feira, 14 de novembro de 2014
34 ANOS SEM TRABALHAR
Em 14 de novembro de 1980 eu comecei como revisor do jornal Zero Hora. Embora ainda não fosse na redação e ainda cursasse jornalismo na Famecos/PUC, considero a data o início de minha carreira. Obrigado a todos com quem tenho convivido nesta jornada. Não vou me estender no comentário, deixarei textos maiores e comemorações para 2015, quando fecha data redonda. Por enquanto, são apenas 34 anos durante os quais eu não trabalhei, só escrevi.
ALL YOU NEED IS LOVE
Desradicalize-se! Distensione-se. Permita-se.
Odeie menos! Ame mais!
A vida é curta, é uma só e passa rápido.
Todos queremos salvar o mundo, Ok, mas no fundo, no fundo mesmo, só queremos experimentar a força de um grande amor. Aquele único, sabe?
E que pareça piegas, pois sempre parecerá quando for dos outros.
E que pareça divino, pois sempre será divino quando nos tocar.
E abençoados os que o vivenciarem.
Discursamos demais, brigamos demais, quando, às vezes, tudo que queremos é aquele abraço, sabe? Aquele!
Os Beatles pareciam querer transgredir tudo, mas, mesmo assim, cantavam:
All You Need is Love!
Laralaiá!
Afinal, não há transgressão maior do que o amor.
Aquele, sabe?
Odeie menos! Ame mais!
A vida é curta, é uma só e passa rápido.
Todos queremos salvar o mundo, Ok, mas no fundo, no fundo mesmo, só queremos experimentar a força de um grande amor. Aquele único, sabe?
E que pareça piegas, pois sempre parecerá quando for dos outros.
E que pareça divino, pois sempre será divino quando nos tocar.
E abençoados os que o vivenciarem.
Discursamos demais, brigamos demais, quando, às vezes, tudo que queremos é aquele abraço, sabe? Aquele!
Os Beatles pareciam querer transgredir tudo, mas, mesmo assim, cantavam:
All You Need is Love!
Laralaiá!
Afinal, não há transgressão maior do que o amor.
Aquele, sabe?
sexta-feira, 31 de outubro de 2014
CARTA DE GRAMADO
Em 2009, um grupo de voluntários de diversas áreas constituiu o Fórum Saúde Mulher, do qual orgulhosamente faço parte. Na ocasião, elaboramos um documento que se tornou conhecido como Carta de Gramado, com proposições objetivas e viáveis para melhorar o atendimento às pacientes com câncer de mama em questões como o acesso ao diagnóstico precoce e preciso por meio de mamografias de qualidade, o tratamento num prazo mínimo a partir do diagnóstico e o direito à reconstrução mamária no mesmo procedimento da retirada, entre outros aspectos.
Por iniciativa e com coordenação de José Luiz Pedrini, chefe do Serviço de Mastologia do Hospital Conceição, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia e, na ocasião, presidente do Congresso Brasileiro da especialidade, realizado na serra gaúcha, o documento foi lançado no âmbito do congresso e incluiu caminhada pelas ruas de Gramado, além do lançamento do livro Uma História da Mama, escrito e editado em sistema de co-criação por ele e por mim, e primeiro título de meu próprio selo editorial.
As recomendações da Carta de Gramado foram adotadas como políticas de saúde pública pelo Instituto Nacional do Câncer (INCA) e pelo Ministério da Saúde.
Neste 31 de outubro, no fechamento do Outubro Rosa, foi realizado um encontro do Fórum na sede da Associação Médica do RS (AMRIGS) a fim de avaliar os avanços da Carta e propor novos desafios. Por todas as razões acima, sinto-mo feliz por fazer parte desta iniciativa, pela companhia dos parceiros, em especial das queridíssimas do Grupo da Mama do Hospital Conceição, e do Pedrini, mastologista da maior qualidade e um de meus melhores amigos.
quarta-feira, 29 de outubro de 2014
GRANDES
NOMES
Washington Olivetto: este a gente nunca
esquece
A
primeira reação de encantamento se deu não à frente de uma TV, mas ainda na
sala de edição da agência de propaganda W/GGK, junto à moviola, e não
partiu de um espectador, mas do próprio criador. Ao encerrar a pós-produção de
um comercial para a Valisère, em meados de 1987, o publicitário Washington
Olivetto virou-se para o diretor Júlio Xavier da Silveira e profetizou: “Olha,
Julinho, esse talvez seja um dos melhores filmes que a publicidade brasileira
já conseguiu fazer”.
A segunda reação de encantamento se deu na sala da
vice-presidência de Operações da Rede Globo. Ao terminar de assistir ao
comercial da Valisère, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, concordou
em aceitar, pela primeira vez, uma peça de 90 segundos – em vez dos 30 ou 60
segundos convencionais – no intervalo do Jornal Nacional, que, também pela primeira vez, exibiria um
único comercial durante um de seus intervalos. Diante do pedido inusitado da
agência, o departamento comercial vira por bem não tomar sozinho tal decisão e
a levara ao homem mais poderoso da companhia, depois do próprio Roberto
Marinho.
Nascido em 29 de setembro de 1951 – Dia de São Miguel Arcanjo, o “anjo anunciador”, celebrado mundialmente como Dia do Anunciante – , o paulistano Washington Olivetto começou a carreira como estagiário da Harding Gimenez Propaganda (HGP), aos 18 anos de idade. A vaga foi obtida graças a um lance ousado: Olivetto estava a caminho da faculdade – que não chegou a concluir – quando o pneu de seu Karmann-Ghia furou bem em frente à sede da HGP. Ele não titubeou, entrou na agência e pediu emprego com uma frase que revelava tremenda autoconfiança: “Estou aqui por causa do pneu furado e isso é uma grande oportunidade para você, porque o pneu não fura duas vezes na mesma rua”.
Depois de passar pela Lince e pela
Casabranca, tendo ganhado seu primeiro Leão de Bronze do Festival de Cannes aos
20 anos, chegou à DPZ, onde permaneceria por 13 anos. Ali, fez dupla de criação
com o lendário Francesc Petit, parceria que rendeu, entre outros trabalhos, a
criação do personagem que celebrizou o ator Carlos Moreno como
garoto-propaganda da Bombril. Em 1986, aos 35 anos, saiu da DPZ para montar seu
próprio negócio, a W/GGK, que três anos mais tarde viraria W/Brasil e,
atualmente, é WMcCann.
Portanto, apenas um ano depois de se
aventurar a conduzir a agência própria, Olivetto emplacou o comercial da
Valisère, que conquistou naquela temporada o Leão de Ouro do Festival de
Cannes, o Clio de Nova York, o Festival Ibero-Americano de Publicidade e foi
considerado pela Tokyo Television Network o melhor comercial do mundo. No
Brasil também levou todas as premiações possíveis, sendo que no ano seguinte
ganhou o Profissionais do Ano e foi veiculado outra vez pela Globo, agora de
graça (o vídeo está disponível no YouTube). Possivelmente, se fosse produzido
hoje, em tempos chatesimamente corretos, o comercial fosse vetado por conter
cenas de relativa sensualidade envolvendo uma menina de 11 anos, e Olivetto
acusado de pedofilia. Assim teríamos sido privados desta obra-prima da
publicidade.
quinta-feira, 23 de outubro de 2014
GRANDES NOMES
Tom Wolfe, radicalmente chique e afiado
Tom Wolfe, radicalmente chique e afiado
Embora esteja longe de
ser a maior virtude de quem se dedica à literatura, ao jornalismo, à propaganda
ou às artes – ou mesmo à política –, um grande talento também se define pela
capacidade de cunhar ou consagrar expressões que ingressam definitivamente no
imaginário e no vocabulário cotidiano de milhões de pessoas. O escritor
americano Tom Wolfe, um dos ícones do new journalism, ou jornalismo literário, como alguns preferem, celebrizou ao menos duas
expressões: “fogueira das vaidades” e “radical chique”. De fato, o termo
“fogueira das vaidades” não é criação de Wolfe, tem origens que remontam ao
Carnaval de 1497 em Florença, na Itália, quando os fanáticos seguidores do
padre Girolamo Savonarola (retratado em A Regra de Quatro, de Ian Caldwell), queimaram milhares de
objetos como livros, obras de arte, mesas de jogos, espelhos, pelas de
vestuário e artigos de toucador, todos supostamente objetos de vaidade e,
portanto, pecaminosos. Até livros de Bocaccio e Ovídio e quadros de Boticelli
teriam ardido nas purificantes chamas.
Mas foi Tom Wolfe quem
resgatou o termo e ajustou como metáfora de uma sociedade de consumo permeada
de disputas de ego e de extremo apreço pelas aparências. A partir de seu
romance homônimo, publicado em 1987, e levado às telas três anos depois por
Brian de Palma com Tom Hanks e Bruce Willis – o que não livrou o diretor de pesadas
críticas na fogueira das vaidades de Hollywood –, a expressão ganhou o mundo e
vem sendo proferida milhares de vezes por dia até hoje.
Já “radical chique” foi
criado mesmo por Wolfe em ensaio publicado em 1970 para ironizar a pretensão, a
afetação, a hipocrisia e o modismo de celebridades e integrantes das altas
rodas que assumiam posturas pretensamente radicais. Atualmente, no Brasil,
usa-se também uma expressão similar, a “esquerda caviar”.
Thomas Kennerly Wolfe nasceu em 2 de março de 1931 em uma
família abastada de Richmond, no Estado americano da Virginia. Seu pai, também
chamado Thomas, embora fosse Ph.D em agronomia, professor universitário e
fazendeiro, atuou também como jornalista e escritor. A mãe, Helen, além de
incentivá-lo a ler desde cedo, matriculou-o em aulas de balé e sapateado. Desde
cedo, portanto, seu destino estava traçado. Começou a escrever ainda criança.
Foi editor de esportes do jornal da faculdade, quando fazia graduação na
Washington and Lee – recusara a prestigiada Princeton –, onde também ajudou a
fundar uma revista literária e jogava beisebol, tendo chegado a fazer testes como
arremessador no New York Giants, mas foi considerado lento e dispensado. Depois
de cumprir doutorado em Estudos Americanos na Universidade de Yale, poderia ter
seguido carreira acadêmica, mas, felizmente para os leitores, optou pelo
jornalismo. Começou no Springfield Union,
passou pelo Washington Post e depois
foi para o New York Herald Tribune.
O ponto de inflexão na carreira de Wolfe ocorreu em 1963.
Estando os jornais de Nova York em greve, ele aproveitou para sugerir à Esquire uma pauta sobre a moda dos
carros customizados então em voga na Califórnia. Byron Dobell, editor da
revista, propôs que ele enviasse suas anotações para que trabalhassem juntos na
produção de um artigo. Wolfe escreveu uma carta para Dobell falando tudo que
queria dizer a respeito, sem se preocupar em fazer um texto jornalístico. O
editor simplesmente cortou a saudação “Caro sr. Byron” e publicou o texto na
íntegra em 1964.
terça-feira, 21 de outubro de 2014
Respeitemo-nos!
Só não é chocante o desrespeito a grassar nas ruas, botecos
e timelines nesta campanha eleitoral porque o tempo nos ensina a não esperar
muito das pessoas. Como diz aquela frase magistral, cuja autoria desconheço,
mas que ouvi pela primeira vez da amiga Françoise Techio, o ser humano é o pior
tipo de gente. Mas eu não quero falar de política aqui, não é o caso, tampouco
a paciência permite no momento. Quero falar de coisas, digamos, comezinhas.
Quem me acompanha com alguma atenção nas redes sociais
– sei lá por que alguém o faria – sabe o quanto, a despeito de ser rude
ocasionalmente – às vezes é conveniente manter a fama de mau –, jamais posei de
árbitro da moral alheia, mediador de gostos ou opiniões e, muito menos, julguei
alguém por suas opções ou orientações. Sempre fui assim na vida, e redes
sociais são que nem bebida alcoólica, somente dão vazão ao que no fundo sempre
se quis dizer ou fazer, são supostas justificativas para palavras e atitudes
que olho no olho, e sóbrios, jamais assumiríamos. Orgulho-me de poder afirmar
que nunca fiz ou falei algo que tivesse de desdizer no dia seguinte usando o
manjadíssimo pretexto do “eu havia bebido”. Não por não beber, mas por saber
administrar. Sim, eu havia bebido, mas fi-lo porque qui-lo, como diria o
tresloucado Jânio Quadros.
Custa-me, portanto, aceitar qualquer forma de
bullying, declarado ou disfarçado de outra coisa socialmente mais aceitável.
Por exemplo: há cerca de um ano e meio, talvez menos, tornei-me vegetariano, opção
motivada por variadas razões. Apenas mudei meus hábitos alimentares, não tentei
doutrinar ninguém, muito menos passei a dar discursos desagradáveis diante de
apreciadores de picanha malpassada. Tenho opiniões firmes a respeito disso,
como costumo ter a respeito de tudo, apenas não as saio declarando aos berros.
Justo seria esperar que, ao menos, deixassem-me em paz com minha opção, certo?
Errado. Há quem não possa perder uma mísera oportunidade. Seja pela necessidade
patológica de tentar ser engraçado sempre – o que nem o psicopata Coringa, do
Batman, consegue –, seja por arrogância mesmo.
Dizem que três coisas não se devem discutir: futebol,
política e religião. ” (Leia a continuação clicando no link abaixo).
O PERIGO DA HISTÓRIA ÚNICA
Esta palestra da escritora nigeriana Chimamanda Adichie foi realizada em 2009 em Oxford, no Reino Unido (publiquei aqui no blog em 2010), mas sempre vale a pena rever e refletir sobre os riscos de se relativizar - por ingenuidade ou cinismo - a história, as culturas e as gentes ao se enxergar o mundo a partir de uma única visão, de relatos de um único campo, por definição, parciais, por óbvio, humanamente contaminados, estereotipados e imprecisos. Serve para tudo, em qualquer tempo ou lugar.
Esta palestra da escritora nigeriana Chimamanda Adichie foi realizada em 2009 em Oxford, no Reino Unido (publiquei aqui no blog em 2010), mas sempre vale a pena rever e refletir sobre os riscos de se relativizar - por ingenuidade ou cinismo - a história, as culturas e as gentes ao se enxergar o mundo a partir de uma única visão, de relatos de um único campo, por definição, parciais, por óbvio, humanamente contaminados, estereotipados e imprecisos. Serve para tudo, em qualquer tempo ou lugar.
NEURÓTICOS AO MAR
Eu trocara de carro havia cerca de um ano quando o emprestei para um colega de trabalho resolver algum problema rápido. Ele retornou em menos de meia hora, devolveu-me as chaves e os documentos e disse: "Você sabia que a buzina não está funcionando?" Eu o cumprimentei por descobrir tão rapidamente algo que eu não percebera em tanto tempo. Sempre lembro disso quando os motoristas começam a descarregar suas frustrações e neuroses na buzina, por certo esperançosos de que isso abra o mar de carros à sua frente tal qual Moisés diante do Mar Vermelho.
quarta-feira, 1 de outubro de 2014
GRANDES NOMES DA PROPAGANDA
David Ogilvy, o Rei da Madison
David Ogilvy, o Rei da Madison
Em
memorando datado de 7 de setembro de 1982, David Ogilvy listou para seus
colaboradores dez regras básicas da boa escrita:
“Quanto
melhor você escrever, mais subirá na Ogilvy & Mather. Pessoas que pensam
bem, escrevem bem. Pessoas confusas escrevem memorandos, cartas e discursos
confusos.
Escrever
bem não é um dom natural. Tem de se aprender a escrever bem. Aqui estão 10
pistas:
1.
Leia o livro sobre escrita de Roman e Raphaelson. Leia três vezes. (a versão
mais recente é mais fácil de encontrar e mais barata).
2.
Escreva do jeito que você fala. Naturalmente.
3.
Use palavras curtas, frases curtas e parágrafos curtos.
4.
Nunca use jargões como reconceitualizar ou desmassificar. São características
de um burro pretensioso.
5.
Nunca escreva mais do que duas páginas sobre qualquer assunto.
6.
Verifique suas citações.
7.
Nunca envie uma carta ou memorando no dia em que os escrever. Leia-os em voz
alta na manhã seguinte – e edite-os.
8.
Se é algo importante, peça a um colega para melhorá-lo.
9.
Antes de enviar sua carta ou memorando, certifique-se de que está bem claro o
que você quer que o destinatário faça.
10.
Se você quer ação, não escreva. Vá e diga diretamente à pessoa o que você quer.
David.”
David
MacKenzie Ogilvy percorria rotineiramente as ruas de Nova York rumo à Madison
Avenue com o justo orgulho dos homens que ajudam a definir sua época. O porte
altivo, as vestes de impecável elegância, o indefectível cachimbo e o semblante
revelador das raízes britânicas compunham um personagem no qual cabia sob
medida o apelido de Rei da Madison, morada das maiores agências de publicidade
do mundo. Ainda não sabia que entraria para a história como “o pai da
propaganda”, mas o que já conquistara não era pouca coisa, e isso ele sabia muito
bem.
Reza a lenda que certa vez, ao caminhar
pela Madison, deparou-se com um pedinte de cujo pescoço pendia uma placa com a
sintética afirmação: “Eu sou cego”. Ao lado do desafortunado cidadão jazia um
copo destinado a acolher eventuais esmolas, o qual estava vazio. Ogilvy retirou
a placa do pescoço do surpreso mendicante, acrescentou algo à inscrição e a
recolocou no lugar. Mesmo sem entender o que se passava, o cego logo começou a
ouvir o incessante tilintar das moedas. Quando passou de volta por ali, ao
final de expediente, Ogilvy abriu um largo sorriso ao observar que o copo agora
se encontrava cheio de donativos, por certo fruto do apelo que ele agregara ao
cartaz: “É primavera e eu sou cego.”
O gesto viria a ser emulado por gerações
de publicitários decididos a doar instantes de sua criatividade e capacidade de
comunicação para pequenas grandes causas cotidianas. Ainda hoje, e agora com
direito a postagens no YouTube e nas redes sociais, a prática persiste. Ditar
comportamentos, estabelecer parâmetros, inspirar atitudes são prerrogativas de
poucos, sobretudo em um universo tão competitivo quanto o das grandes agências.
É legítimo dizer que depois dele o modo de se fazer propaganda nunca mais foi o
mesmo.
Nascido em West
Horsley, um vilarejo semi-rural localizado no distrito de Guildford, no coração
da Inglaterra, e que ainda hoje contabiliza menos de três mil almas, David veio
ao mundo em 23 de junho de 1911, por insondável coincidência nos mesmos dia e
mês em que haviam nascido seu pai e seu avô. Depois de estudar em Edimburgo, na
Escócia, e na inglesa Oxford, sem ter concluído um curso superior, conseguiu
seu primeiro emprego em Paris, como cozinheiro do Hotel Majestic. De volta à
Inglaterra, tornou-se vendedor de fogões da Aga Cookers. Além de alcançar um
desempenho extraordinário na função, mostrou seu lado inquieto e criativo ao
redigir, em 1935, um guia de vendas que a revista Fortune classificou como “possivelmente o melhor manual de vendas
já escrito.” (Leia a continuação clicando no link abaixo).
sábado, 27 de setembro de 2014
GRANDES NOMES
Norman Mailer, o best-seller provocador
Primeiro, leiam o início de Os Nus e os Mortos:
“Lá dentro o ar está impregnado de vapor. Mesmo agora alguém está utilizando o único chuveiro de água doce, o qual vem sendo disputado desde o embarque das tropas. O soldado passa pelos jogos de dados nos chuveiros de água salgada, que ninguém usa, e acocora-se nas tábuas úmidas e rachadas da latrina. Não trouxe cigarros e fila de um sujeito sentado ali perto. Enquanto fuma, observa o piso negro molhado, coberto de guimbas, e ouve a água correr na caixa da privada.”
Norman Mailer, o best-seller provocador
Primeiro, leiam o início de Os Nus e os Mortos:
“Ninguém podia dormir. Quando amanhecesse, as embarcações de assalto
seriam
lançadas ao mar, e uma primeira vaga de soldados transporia a
rebentação e atacaria a praia de Anopopei. No navio, no comboio
inteiro, predominava a certeza de que dentro de
poucas horas alguns deles estariam mortos.
“Um soldado estendido ao comprido no beliche, os olhos fechados, continua
inteiramente desperto. Em torno de si, como o sussurro da rebentação, escuta os
murmúrios dos homens em seus cochilos intermitentes. – Não farei, não farei –
grita alguém no meio de um sonho. O soldado abre os olhos. Esquadrinha
lentamente o porão e seu olhar se perde no emaranhado das marcas, dos corpos
nus e do equipamento bamboleante. Conclui que precisa ir à latrina. Praguejando,
contorce-se todo até conseguir sentar-se, as pernas penduradas para fora
do beliche, e apóia as costas arqueadas no cano de ferro da maça de cima.
Suspira, apanha os sapatos que amarrou a um pilar e calça-os vagarosamente. Seu
beliche é o quarto numa fila de cinco. Desce inseguro na semi-obscuridade,
receando pisar algum dos companheiros que ocupam as maças de baixo. No soalho,
envereda por um labirinto de sacos e mochilas, tropeça uma vez num fuzil e
avança para a porta do tabique. Atravessa outro alojamento, cujo corredor
também está atravancado, e afinal chega à latrina.
“Lá dentro o ar está impregnado de vapor. Mesmo agora alguém está utilizando o único chuveiro de água doce, o qual vem sendo disputado desde o embarque das tropas. O soldado passa pelos jogos de dados nos chuveiros de água salgada, que ninguém usa, e acocora-se nas tábuas úmidas e rachadas da latrina. Não trouxe cigarros e fila de um sujeito sentado ali perto. Enquanto fuma, observa o piso negro molhado, coberto de guimbas, e ouve a água correr na caixa da privada.”
Com apenas 25 anos de idade, Norman
Mailer publicou, em 1948, Os Nus e os
Mortos (The Naked and the Dead),
um portentoso relato jornalístico tecido a partir de suas experiências na
Segunda Guerra Mundial. A obra tornou-se estrondoso sucesso de público e
crítica, deu início a uma trajetória de sucesso e começou a inscrevê-lo na
galeria dos grandes do new journalism,
ao lado de nomes como Truman Capote, Gay Talese, John Hersey e Tom Wolfe.
Norman Kingsley Mailer nasceu em Long
Branch, Nova Jersey, em 31 de Janeiro de 1923, e morreu em Nova York em 10 de
novembro de 2007, aos 84 anos. Filho de imigrantes judeus de classe média, aos
16 anos ingressou na faculdade de engenharia aeronáutica em Harvard, curso ao
qual daria seguimento na Sorbonne, em Paris. A despeito de cursar um ofício
técnico em duas das maiores universidades do mundo, antes de se graduar
combateu na Segunda Guerra em fronts nas Filipinas e no Japão. A acurada
percepção do que ocorria à sua volta, a sensibilidade para perceber seus tons e
meio-tons e o talento inato para a arte de contar histórias o levaram a
escrever Os Nus e os Mortos, cuja
aclamação, aliada à confessada paixão, fez o mundo perder um engenheiro, quem
sabe brilhante, e ganhar um nome de primeiríssima linha não apenas no
jornalismo e na literatura, mas na cultura pop americana de modo mais
abrangente.
Forjada a partir de uma obra
inaugural extraordinária, equiparada a grandes títulos na literatura de seu
país, a carreira de Mailer como escritor tinha tudo para deslanchar sem passar
por aqueles estágios intermediários de incertezas e fracassos aos quais mesmo
os grandes estão sujeitos. Entretanto, o reconhecimento de seu talento precoce
não lhe garantiu a escalada direto ao topo. Ainda que a fama lhe tenha aberto
muitas portas, inclusive a de roteirista em Hollywood, nos tempos seguintes
acumulou rejeições das editoras e, mesmo o que conseguia publicar, acabava
naufragando.
A lenda em torno de seu nome, no
entanto, continuaria a ser talhada, não apenas no cinema. Embora Hollywood
jamais pudesse ser desprezada – ontem e sempre –, trava-se de uma indústria de
peso no entretenimento global e, de certa forma, e em boa parte de seu escopo,
de viés quase oficialista, quase chapa-branca no cenário da cultura americana,
sobretudo sob o jugo do Macarthismo, naqueles paranóicos anos do auge da Guerra
Fria. De temperamento inquieto e dotado de severa mordacidade, Mailer tornou-se
um polemista respeitado, e temido, por meio de artigos na publicação alternativa
The Village Voice, que ajudou a
fundar, e nos quais tecia críticas tão corrosivas quanto verdadeiras ao establishment da América. (Leia a continuação clicando no link abaixo).
sexta-feira, 29 de agosto de 2014
GRANDES NOMES DA PROPAGANDA
Francesc Petit, o P da DPZ
Francesc Petit, o P da DPZ
A Espanha foi palco de um golpe de Estado, em 1923,
liderado pelo general Miguel Primo de Rivera e com as bênçãos do rei Afonso
III. A crise mundial provocada pela quebra da Bolsa de Valores de Nova York,
ocorrida em 1929, fragilizou os detentores do poder e o rei retirou o apoio ao
ditador. Dois anos mais tarde, com a vitória de socialistas, nacionalistas e
republicanos nas principais cidades, Afonso III foi para o exílio. Os
conservadores voltaram ao poder em 1933 e, em outubro no ano seguinte, eclodiu
uma revolta nas regiões da Catalunha e das Astúrias, em seguida debelada pelo
governo. Em 1935, derrotados nas urnas, os conservadores, apoiados pelo
Exército e pela Igreja, planejaram novo golpe. Começou então a Guerra Civil
Espanhola, que em três anos deixou saldo de 350 mil mortos. O conflito acabou
em 1939 com a vitória dos militares e a instalação de uma ditadura fascista comandada
pelo general Francisco Franco. Com a oposição sufocada, Franco ficou no poder
até sua morte, em 1975, quando o rei Juan Carlos I – que recentemente abdicou
em favor do filho, Felipe VI – tornou-se chefe de Estado. Um parlamento eleito
democraticamente aprovou a nova Constituição e a Espanha passou a ser governada
de fato por um primeiro-ministro. O atual é o conservador Mariano Rajoy.
Francesc Petit Reig nasceu em
Barcelona, na Catalunha, em 1934, ano da rebelião, e cresceu no contexto da
Guerra Civil Espanhola, que arrasou o país, e, na sequência, da Segunda Guerra
Mundial. Desde cedo começou a aprender o ofício do pai e, aos 10 anos, já o
ajudava em sua pequena serralheria. Eram tempos duros, de miséria quase
absoluta, em que faltavam itens básicos, até mesmo água, para a maioria da
população, e de violentíssima repressão. O pai de Francesc em duas ocasiões
esteve a ponto de ser fuzilado, tendo sido arrastado de casa no meio da noite
na frente da impotente família, enquanto os soldados quebravam tudo dentro da
residência. Ele mesmo, ainda adolescente, voltava para casa com um pão dentro
da mochila quando foi ameaçado de prisão porque acharam que o pão era produto
de roubo ou contrabando.
Passado o conflito
na Europa, em 1946, aos 12 anos, o menino começou a correr de bicicleta, uma
das paixões que o acompanhariam por toda a vida. Acordava às 4h para treinar e
chegou a ser bicampeão catalão e campeão espanhol. Também naquela época passou a
estudar artes. No final da década, a família decidiu procurar novos ares em
busca de oportunidades. Como a mãe do garoto era natural de Honduras, aquele
foi o país escolhido. As passagens já estavam compradas quando um amigo médico,
que viajara ao Brasil para participar de um congresso, jantou na casa deles e
falou muitas coisas boas a respeito de São Paulo. Empolgado com as palavras do
amigo, o pai de Francesc foi à agência de viagens e trocou as passagens: o
destino da família seria o Brasil, onde desembarcaram em 1952. Os pais jamais
haveriam de se adaptar totalmente à nova terra, mas, para o menino, que já
partiu da Espanha tendo se iniciado no ramo da propaganda, foi mais fácil e
definiu seu futuro. Francesc Petit estudara pintura na Escola de Belas-Artes de
Barcelona, entre 1945 a 1951, e no Studio de Joaquim Girbau de arte e
propaganda. Em 1947, trabalhou na Gráfica Secx & Barral como retocador de
fotolito. (Leia a continuação clicando no link abaixo).
Reflexões de uma madrugada fria
Cândido, uma das obras mais conhecidas de Voltaire, publicada em 1759, tem um personagem chamado Pangloss, para o qual o mundo era perfeito, pois tudo de mal que ocorresse seria apenas parte do caminho rumo a um bem maior. Neste clássico conto filosófico, Voltaire utilizou Pangloss como instrumento de crítica a certo tipo de otimista que vive em um universo fantasioso e se recusa a enxergar a realidade. Mesmo sofrendo com doenças, miséria, sacrifícios de toda sorte, agressão física e emocional, prisão, exílio, até mesmo suplícios, o personagem não deixava de acreditar que tudo se encaminhava do melhor modo possível. Uma espécie de Pollyana em versão radical.
Faça o download gratuito do conto em:
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/cv000009.pdf
Cândido, uma das obras mais conhecidas de Voltaire, publicada em 1759, tem um personagem chamado Pangloss, para o qual o mundo era perfeito, pois tudo de mal que ocorresse seria apenas parte do caminho rumo a um bem maior. Neste clássico conto filosófico, Voltaire utilizou Pangloss como instrumento de crítica a certo tipo de otimista que vive em um universo fantasioso e se recusa a enxergar a realidade. Mesmo sofrendo com doenças, miséria, sacrifícios de toda sorte, agressão física e emocional, prisão, exílio, até mesmo suplícios, o personagem não deixava de acreditar que tudo se encaminhava do melhor modo possível. Uma espécie de Pollyana em versão radical.
Faça o download gratuito do conto em:
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/cv000009.pdf
sexta-feira, 22 de agosto de 2014
GRANDES NOMES DA PROPAGANDA
Bill Bernbach, o criador do "pense pequeno"
Bill Bernbach, o criador do "pense pequeno"
Vamos voltar um pouco no tempo. Estamos na
Madison Ave., morada das grandes agências de propaganda, em Manhattan, Nova
York, Estados Unidos. Corre o ano de 1959, portanto, uma década e meia depois
da Segunda Guerra Mundial e com a Guerra Fria chegando ao ápice. A DDB, sigla
que reúne os nomes de seus fundadores, Doyle, Dane e Bernbach, encontra-se
diante de um desafio e tanto: bolar a campanha de lançamento de um novo carro.
Dito assim, parece até barbada, afinal, estamos no país do automóvel. Então,
vamos complicar este jogo: o veículo é estrangeiro. Pior do que isso, vem da
Alemanha, terra de Adolf Hitler. Aliás, foi criado em 1938 a pedido do próprio
Führer. Mas, como a Segunda Guerra já ficou para trás, a destruição e as mortes
em larga escala ocorreram na Europa e os EUA venceram o conflito, talvez isso
não seja um problema tão grave assim. Vamos complicar mais um pouco: o carro é
feio, de formas ovaladas, pouco potente e, crime imperdoável na terra dos
carrões, é pequeno. Bem, talvez bastasse o apelo do baixo consumo de
combustível, da economia de dólares e dos recursos naturais do planeta. Em
1959? Agora que já entendemos o contexto e as complexidades, será mais fácil
compreender em sua magnitude as qualidades do homem ao qual este texto é dedicado.
No final dos ’50, a intensa disputa
geopolítica com a União Soviética e o orgulho por ter acabado com o terror do
Terceiro Reich reforçavam nos americanos a atitude de pensar grande. O tamanho
e a potência dos carros não eram frutos do acaso, antes refletiam sua época.
Diante do desafio de lançar o pequeno estrangeiro feioso, pensar a propaganda de
modo convencional não funcionaria, era preciso quebrar paradigmas. Foi aí que
entrou o toque de gênio de Bill Bernbach. Na contramão do pensamento dominante,
e arriscando o prestígio da agência, ousou como só os grandes ousam: “Pense
pequeno” foi o mote da campanha que apresentou aos americanos o Beetle
(Besouro), que no Brasil se eternizaria como Fusca. (Leia a continuação clicando no link abaixo).
quinta-feira, 10 de julho de 2014
GRANDES NOMES
Gay Talese, o ícone
Primeiro, leiam o início de Frank Sinatra Está Resfriado:
Gay Talese, o ícone
Primeiro, leiam o início de Frank Sinatra Está Resfriado:
“Frank Sinatra, segurando um copo de bourbon
numa mão e um cigarro na outra, estava num canto escuro do balcão entre duas
loiras atraentes, mas já um tanto passadas, que esperavam ouvir alguma palavra
dele. Mas ele não dizia nada; passara boa parte da noite calado; só que agora,
naquele clube particular em Beverly Hills, parecia ainda mais distante,
fitando, através da fumaça e da meia-luz, um largo salão depois do balcão, onde
dezenas de jovens casais se espremiam em volta de pequenas mesas ou dançavam no
meio da pista ao som trepidante do folkrock que vinha do estéreo. As duas
loiras sabiam, como também sabiam os quatro amigos de Sinatra que estavam por
perto, que não era uma boa ideia forçar uma conversa com ele quando ele
mergulhava num silêncio soturno, uma disposição nada rara em Sinatra naquela
primeira semana de novembro, um mês antes de seu quinquagésimo aniversário.
“Sinatra estava fazendo um filme que agora o
aborrecia e não via a hora de terminá-lo; estava cansado de toda a falação da
imprensa sobre seu namoro com Mia Farrow, então com vinte anos, que aliás não
deu as caras naquela noite; ele estava furioso com um documentário da rede de
televisão CBS sobre a vida dele, que iria ao ar dentro de duas semanas e que,
segundo se dizia, invadia a sua privacidade e chegava a especular sobre suas
ligações com os chefes da máfia; estava preocupado com sua atuação num especial
da NBC intitulado Sinatra – um Homem e sua Música, no qual ele teria de cantar
dezoito canções com uma voz que, naquela ocasião, poucas noites antes do início
das gravações, estava debilitada, dolorida e insegura. Sinatra estava doente.
Padecia de uma doença tão comum que a maioria das pessoas a consideram banal. Mas
quando acontece com Sinatra, ela o mergulha num estado de angústia, de profunda
depressão, pânico e até fúria. Frank Sinatra está resfriado.
“Sinatra resfriado é Picasso sem tinta, Ferrari sem
combustível – só que pior. Porque um resfriado comum despoja Sinatra de uma joia
que não dá para pôr no seguro – a voz dele –, mina as bases de sua confiança e
afeta não apenas seu estado psicológico, mas parece provocar também uma espécie
de contaminação psicossomática que alcança dezenas de pessoas que trabalham para
ele, bebem com ele, gostam dele, pessoas cujo bem-estar e estabilidade dependem
dele. Um Sinatra resfriado pode, em pequena escala, emitir vibrações que
interferem na indústria do entretenimento e mais além, da mesma forma que a
súbita doença de um presidente dos Estados Unidos pode abalar a economia do
país.”
Gay
Talese, segurando um cálice de borgonha californiano numa mão e um garfo com um
pedaço do volumoso bife na outra, estava sentado à iluminada mesa absorto em um
calhamaço de papel, e Harold Hayes, editor da Esquire, em Nova York, esperava ouvir alguma palavra dele. Mas ele ainda
não tinha algo a dizer; passara boa parte da manhã calado, lendo matérias sobre
Frank Sinatra; só que agora, naquele luxuoso hotel em Beverly Hills, parecia
ainda mais concentrado, ocasionalmente fitando, através da fumaça e da luz
tênue, a caprichada decoração do Beverly Wilshire, sem imaginar que o hotel,
instalado num prédio histórico no Wilshire Boulevard, pertinho da Rodeo Drive,
viria a ser eternizado pelo filme Pretty
Woman, e que Julia Roberts desfilaria seu imenso sorriso pelos halls e
corredores que ele acabara de trilhar naquele Inverno de 1965.
Talese
estava fazendo um trabalho que lhe agradava e não via a hora de ficar frente a
frente com The Voice, o que deveria ocorrer naquela tarde, e voltar para casa
com a missão cumprida; mas, então, o telefone tocou, o escritório do cantor
cancelando a entrevista, Sinatra andava aborrecido com as manchetes ligando-o à
máfia e, além, do mais, estava resfriado. Caso ele se sentisse melhor, e caso
também o jornalista se comprometesse a submeter seu texto ao escritório antes
de publicá-lo, bem, caso tudo isso, talvez fosse possível remarcar a entrevista
para dali a uns dias. Calmamente, sem mergulhar em um estado genuíno de
angústia, tampouco fúria, Talese explicou de forma polida que não podia
contrariar o direito de seu editor de ser o primeiro a julgar seu trabalho,
desejou melhoras e perguntou se poderia ligar dentro de alguns dias, no que
recebeu concordância, mas nada de promessas.
Talese
sem uma entrevista confirmada não era Picasso sem tinta ou Ferrari sem
combustível. Porque isso não o despojava de uma joia que não dá para pôr no
seguro – o talento para contar histórias –, não minava as bases de sua
confiança nem afetava seu estado psicológico. Quem sabe fosse até melhor. Enquanto
aguardava, começou a entrevistar dezenas de pessoas, entre músicos, produtores
musicais, executivos de estúdios e de gravadoras, ex e atuais integrantes do
staff do cantor, empregados de seus variados empreendimentos – iam de imobiliária
a fábrica de componentes de mísseis –, sem usar gravador para não inibir os
interlocutores, pois um “repórter é um sedutor
que conquista seus personagens como um vendedor convence a clientela”, sequer
anotando, na maior parte do tempo, apenas registrando fragmentos de conversa
enquanto a pessoa ia ao banheiro ou coisa assim, ou registrando os diálogos
somente depois, no hotel. (Leia a continuação clicando no link abaixo).
quarta-feira, 2 de julho de 2014
GRANDES NOMES
John Hersey, o patriarca do new journalism
John Hersey, o patriarca do new journalism
Primeiro, leiam o início de Hiroshima:
“No dia 6 de agosto de 1945,
precisamente às oito e quinze da manhã, hora do Japão, quando a bomba atômica
explodiu sobre Hiroshima, a srta. Toshiko Sasaki, funcionária da Fundição de
Estanho do Leste da Ásia, acabava de sentar-se a sua mesa, no departamento de
pessoal da fábrica, e voltava a cabeça para falar com sua colega da
escrivaninha ao lado. Nesse exato momento o dr. Masakazu Fujii se acomodava
para ler o Asahi de Osaka no terraço de seu hospital particular, suspenso sobre
um dos sete rios deltaicos que cortam Hiroshima; a sra. Hatsuyo Nakamura, viúva
de um alfaiate, observava, da janela de sua cozinha, a demolição da casa
vizinha, situada num local que a defesa aérea reservara às faixas de contenção
de incêndios; o padre Wühelm Kleinsorge, jesuíta alemão, lia a Stimmen der
Zeit, revista da Companhia de Jesus, deitado num catre, no terceiro e último
andar da casa da missão de sua ordem; o dr. Terufumi Sasaki, jovem cirurgião,
caminhava por um dos corredores do grande e moderno hospital da Cruz Vermelha
local, levando uma amostra de sangue para realizar um teste de Wassermann e o
reverendo Kiyoshi Tanimoto, pastor da Igreja Metodista de Hiroshima, parava na
porta de um ricaço de Koi, bairro oeste da cidade, para descarregar um carinho
de mão cheio de coisas que resolvera transferir para ali por temer o maciço
ataque dos B-29, que a população aguardava. Uma centena de milhares de pessoas foi
morta pela bomba atômica, e essas seis são algumas das que sobreviveram. Ainda
se perguntam por que estão vivas, quando tantos morreram. Cada uma delas
atribui sua sobrevivência ao acaso ou a um ato da própria vontade – um passo
dado a tempo, uma decisão de entrar em casa, o fato de tomar um bonde e não
outro. Agora cada uma delas sabe que no ato de sobreviver viveu uma dúzia de
vidas e viu mais mortes do que jamais teria imaginado ver. Na época não sabiam
nada disso.”
Um ano depois da hecatombe nuclear, a prestigiada
revista The New Yorker enviou um
repórter a Hiroshima. Embora ainda
jovem, John Richard Hersey era um veterano correspondente de guerra. Nascido em
Tienstin, na China, em 17 de julho de 1914, na alvorada da Primeira Guerra Mundial, filho dos missionários americanos Roscoe e Grace Baird Hersey, mudou-se com a família
para os Estados Unidos aos dez anos de idade. Frequentou a Universidade de Yale
e fez pós-graduação em Cambridge. Em 1937, aos 23, arranjou emprego na Time. Na Segunda Guerra Mundial esteve
no front na Europa e na Ásia – cobriu a célebre batalha de Guadalcanal –, de
onde mandava reportagens para a Time,
a Life e a New Yorker. Naquele Verão (no Hemisfério Norte) de 1945, quando
completava 32 anos, Hersey foi escalado para realizar um trabalho que
revolucionaria não apenas sua vida e a da publicação, mas a história do
jornalismo.
Hersey
reconstituiu o instante da tragédia e seus desdobramentos nos tempos seguintes a
partir dos depoimentos de seis sobreviventes. Ao examinar os originais, Harold
Ross, o fundador da revista, e William Shawn, o editor, viram-se diante de um
material esplendoroso. Hersey não apenas retratara com maestria o
holocausto nuclear de Hiroshima e contara o drama daquela gente com incrível
requinte de detalhes. Ele fora muito além.
Ao
contrário dos rebuscados textos jornalísticos de então, na maioria permeados de
adjetivação, floreios e rococós, o artigo de Hersey primava pela objetividade e
pela prosa escorreita, na qual os substantivos reinavam absolutos sobre
escassos adjetivos, e com pouca interferência do autor. Ele não tentou forçar a
barra para tornar a narrativa dramática, e sim deixou os personagens contarem a
história. Isso mais do que bastava para emocionar. Os editores não tiveram
dúvidas de que estavam diante de um trabalho jornalístico portentoso e
inovador, não só na linguagem, mas também na forma. Hersey aliara a
objetividade jornalística aos conceitos da narrativa literária como ninguém
jamais o fizera. (Leia a continuação clicando no link abaixo).
quinta-feira, 26 de junho de 2014
Sobre mordidas e outros atos no futebol
Uma mordida, quando dada por um
humano adulto é, sem dúvida, um ato irracional, merecedor de punição, não há discussão
quanto a isso. As reações a tal ato, contudo, também estão sendo um tanto irracionais. Se você estiver andando na rua, passeando num shopping, participando de alguma
atividade social e, de repente, levar uma mordida, ok, é caso de chamar não só a
polícia, mas o hospício, quem sabe a carrocinha. No entanto, seria igualmente
grave e estranho se, em vez disso, você levasse um pontapé na canela, uma
cusparada no olho, uma cotovelada no nariz, um soco no estômago, um safanão nas
costas, uma “tesoura” nas pernas, e tudo isso é comum no futebol. E, por vezes,
com uma violência capaz de tirar o adversário da disputa, impedi-lo de exercer
seu ofício por meses devido a uma lesão grave ou, em situações mais extremas,
incapacitá-lo para sempre.
Sim, pode até ser novidade para quem não assiste a
futebol durante quatro anos e vira torcedor apaixonado e especialista em época
de Copa, mas tudo isso é corriqueiro no futebol. Deveria ser? Não, não deveria, mas
é, inclusive na Copa. Mesmo quem mal
sabe o formato da bola tem o direito de comentar a Copa, mas poderia ir mais devagar em suas conclusões e emitir opiniões um pouco menos contundentes
sobre tudo que cerca aquilo que afinal de contas, surpresa!, é um torneio de
futebol!
Aplicar a Suárez pena sumária de
nove partidas de suspensão, eliminá-lo desta Copa, provavelmente da próxima
Copa América e o afastar do futebol por quatro meses, não é uma “medida
exemplar” como comemoram de forma efusiva os que, encerrada a Copa, esquecerão
que o futebol existe. Trata-se de um exagero, de um abuso da FIFA. Ansiosa por
agradar ao público, já revoltado com seus desmandos, lucros exorbitantes e suspeitas
de corrupção por todo lado - e, ainda por cima, insuflado por imagens manipuladas para tornar o fato mais chocante, de brincadeira ou não -, a entidade fez de Luisito o bode expiatório. Em
linguagem de futebol, a FIFA jogou para a torcida.
Quem é mesmo do ramo sabe que
estão – a FIFA e os torcedores bissextos – fazendo estardalhaço demais em torno
de algo que sim, é incomum, condenável, doentio, patético e etc, mas que está
longe de ser excepcional no futebol. Quebrar o nariz do adversário com uma
cotovelada é menos grave? Entrar com tudo na canela alheia sabendo que pode
quebrá-la e tirar do colega de profissão seu instrumento de trabalho é menos
grave? Cusparada na cara é menos grave? Soco, a mais explícita das agressões, é
menos grave? Pontapé no peito é menos grave? (na foto, o holandês Nigel de Jong agride o espanhol Xabi Alonso, que precisou de atendimento médico, na Copa de 2010). Tratamento psicológico para todos?
Talvez, além do papel dos
especialistas ocasionais e do abuso de poder que sempre caracterizou a FIFA, que
agora precisava fazer jogo de cena, a explicação para tamanha indignação seja
de cunho psicológico. De fato, chutar, socar, empurrar, cuspir, tudo isso é mais aceito
socialmente do que morder, pois morder remete o homem a seu estado mais primal.
O medo irracional do humano de se sentir menos civilizado, mais próximo de seu “eu”
primitivo, leva-o a reagir de forma desproporcional. As fantasias em torno do
vampirismo talvez contribuam de alguma forma para mexer com os mecanismos da
mente nestas horas. Psicólogos podem analisar isso com mais propriedade.
A maioria da população mundial alimenta-se
de animais, portanto, não apenas morde carne, mas a mastiga e engole. Ah, mas
não é humana! Sim, claro, é só um aspecto a mais a se considerar. Se bem que, às
vezes, morde-se carne humana também, levemente, e por uma boa causa, mas aí o
papo fica profundo demais. Seja como for, o barulho em torno
do assunto é demasiado, as indignações são, na maioria, teatrais e, a punição,
excessiva. Hipócritas se locupletam, socialites de arenas fazem um brinde e o
Uruguai perde suas eventuais chances nesta Copa. Abuso padrão FIFA.
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