Zélia Garcia
Éramos todos muito jovens quando a conheci, nos anos 80, na redação do jornal Zero Hora. Os traços delicados, a pele morena, os cabelos radicalmente negros, a voz suave e algo rouca cujo tom eu jamais a veria elevar, formavam um conjunto que tornava Zélia Garcia uma mulher de todo modo interessante, mas havia mais: a delicadeza dos gestos, a educação refinada, os modos elegantes, a discrição sobre a vida pessoal, o charme natural reforçado por um guarda-roupa de bom gosto, com ênfase em cores escuras, em especial o preto, concediam a ela uma aura especial.
Aos poucos nos aproximamos, mas foi quando troquei o Esporte pelo Segundo Caderno, no final daquela década, que o caminho de Zélia Garcia e o meu se cruzaram em definitivo. Eu era editor assistente e ela repórter especializada em moda, beleza, estilo e comportamento, assuntos sobre os quais viria a escrever para as maiores revistas nacionais do segmento, como Vogue, Marie Claire e Elle. Na primeira vez em que peguei um texto dela para editar, uma matéria sobre beleza para a contracapa da Revista ZH, chamei-a e perguntei se gostaria de me ajudar. Zélia, de acordo com os usos e costumes das redações de então, entregara o material e dera o assunto por encerrado, uma vez que os repórteres não costumavam ser convidados a participar da edição.