sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

A noite de Natal

Em 2003, quando minhas filhas mais novas estavam com 5 e 3 anos, certa vez, tendo esgotado meu repertório de histórias de ninar, resolvi escrever um conto infantil de Natal exclusivo para elas. Agora o encontrei ao organizar arquivos antigos. Quem sabe possa ser útil a algum pai com repertório esgotado.


Na noite de Natal Papai Noel sempre aparece, isso todo mundo sabe. O que ninguém sabia até agora é que houve uma vez em que ele quase não apareceu. Ou será que não foi bem assim?

As crianças estavam prontas, haviam colocado roupa nova e esperavam com ansiedade pela chegada do velhinho de barba branca que traz presentes e gosta de dizer hou-hou-hou-hou. Ninguém sabe por que ele diz isso, mas não importa. Enquanto mamãe preparava a comida, suas duas filhinhas, Lísia e Milla, olhavam pela janela a todo instante. Elas mal podiam esperar. Logo Papai Noel chegaria carregado de presentes. Elas suavam bastante. Fazia calor, mas o motivo principal do suor era o nervosismo pela espera.
Hora após hora elas grudaram seus rostinhos delicados na vidraça, observaram o pisca-piscar dos arranjos de luz e o alvoroço das pessoas, muitas chegando às casas vizinhas para a ceia, muitas deixando as casas vizinhas para cear em outro lugar, o som estridente das buzinas e o estouro dos fogos de artifício a desenhar formas coloridas no céu. Tudo muito lindo, mas onde estava Papai Noel? Para entendermos direito esta história é necessário voltarmos no tempo. Na casa das meninas, era aquele mesmo dia. Em certo lugar, cuja passagem de tempo era diferente, uns dez dias antes.
A noite avançava rapidamente em direção ao dia e Papai Noel trabalhava duro. Faltava pouco tempo para a noite mais esperada do ano, em especial pelas crianças, e havia muito que fazer. A cada vez aumentavam as crianças e os pedidos. Embora estivesse velhinho e o clima não ajudasse, pois era inverno rigoroso no Pólo Norte, Papai Noel, ou Papaiel, como o chamavam seus ajudantes duendes e as crianças pequenas que ainda não sabiam falar direito, sempre encontrava forças o bastante para fazer mais e mais. Era difícil atender a todos, mas ele bem que tentava. Ele trabalhava com afinco quando um esquilo começou a observá-lo pela janela. Douglas, este era o nome do esquilo, sentia fome e frio e, quando viu o fogo ardendo na lareira e as nozes, castanhas e avelãs, seus pratos prediletos, bem torradinhos num pote de ferro ao pé do fogo, decidiu que merecia se aquecer e comer aquelas delícias.
            Papai Noel estava concentrado demais no trabalho para prestar atenção a um simples esquilo. Depois de terminar mais uma pilha de brinquedos, ouviu alguém, ou algo, batendo à porta. Largou as ferramentas e foi ver quem era, ou o que era. Abriu a porta, recebendo no rosto um golpe de vento e neve, mas nada havia ali. Olhou para um lado e para o outro, e depois para o bosque à sua frente. Caminhou até a entrada do bosque e, enquanto fazia isso, Douglas entrou correndo e se escondeu num canto escuro próximo à lareira. Ali estaria aquecido e esperaria pelo momento certo de abocanhar algumas especiarias. Os ajudantes estavam tão concentrados que nem perceberam. Papaiel desistiu de encontrar alguém na noite gelada, fechou a porta e voltou aos seus afazeres.
Passaram-se alguns minutos e Douglas julgava ter conseguido seu objetivo quando Papai Noel, sem parar de fabricar os brinquedos e sem sequer virar o rosto na direção do aconchegante cantinho, falou com sua voz forte e gentil:
– Sirva-se logo, Douglas, do contrário as guloseimas vão torrar demais e o gosto já não será tão bom.
 Douglas, que se julgava muito esperto, saltou de susto e ficou à mostra. Papai Noel continuou:
– E chegue mais perto do fogo. Você estava quase congelando lá fora. Deveria ter vindo mais cedo.
Embora estivesse cada vez mais surpreso, a oferta era irresistível. Uma vez descoberto, não havia mais razão para adiar o esperado momento de se aquecer de verdade e matar a fome. O velhinho continuava manejando seus instrumentos com habilidade, formando em poucos minutos novas pilhas de brinquedos, enquanto os duendes ajudantes tentavam acompanhar seu ritmo.
Depois de se deliciar com muitas avelãs e umas poucas nozes, Douglas pensou em como gostaria de saber falar para agradecer e, principalmente, para fazer algumas perguntas.
– Mas você pode. – disse Papaiel.
Douglas olhou-o com desconfiança. O que ele queria dizer com aquilo?
– Você pode falar, ora. Não é o bastante?
O assustado esquilo entendia cada vez menos. Ele não era igual aos outros, isso compreendera desde pequeno, se é que algum dia possa ter sido chamado de pequeno. Douglas era bem maior do que um esquilo normal. A força não o ajudava muito na hora de encontrar comida, e precisava sempre comer mais do que os outros. Tanto que havia sido expulso de sua aldeia. Não havia nozes e avelãs que dessem conta de seu gigantesco apetite. Mas tamanho era uma coisa. Daí a poder falar...
– Mas pode, acredite em mim. – afirmou Papaiel, e Douglas agora teve certeza de que ele conseguia ler seus pensamentos.
Sem saber o que fazer, o esquilão preferiu esperar. Precisava saber mais sobre a situação antes de testar as cordas vocais.
– Você não acha que entrou aqui porque me enganou, acha? Eu o esperava. Na verdade, o fiz vir até aqui. Mas creio que já é hora de você receber algumas explicações.
Douglas concordou com um aceno de cabeça. Não estava certo se sairia voz humana caso tentasse. Papai Noel largou as ferramentas, caminhou até um sofá próximo à lareira, sentou-se e sinalizou para que ele fizesse o mesmo. Pelo jeito, a coisa era séria. E era. Papaiel começou a explicar a situação.
– Tudo começou no Natal passado. Uma menina ficou zangada comigo porque eu lhe dei a boneca errada, sabe, isso não deveria acontecer, na verdade nunca havia acontecido antes, mas aconteceu e, embora muito pequena, ela ficou furiosa. Ajoelhou-se, chorou muito e, enquanto batia com as mãos no chão, disse que nunca mais queria me ver. Todos sabem que não mereço isso, mas ela era de fato muito pequena e não sabia.
– E daí? Era só uma menina mimada. – disse Douglas, que deu um pulo no sofá ao perceber que havia falado.
– Aí é que está o problema. Aconteceu então algo muito raro. Justamente enquanto a menina falava, os Anjos do Natal fizeram Coro. Geralmente só fazem o Coro para coisas boas.
– E daí? – perguntou de novo Douglas, tentando se acostumar ao dom da fala.
– Bem, uma vez que eles fizeram o Coro o pedido da menina se tornou realidade.
– Como assim?
– Eu nunca mais poderei vê-la, e isto significa não ver qualquer criança do mundo, pois eu não poderia deixar apenas uma de lado, o que quer dizer que o Natal para mim, e para todas as crianças, acabou. A menos que...
– A menos que o quê? – por ter acabado de receber a capacidade de se comunicar com os humanos, Douglas estava ansioso.
– A menos que o encantamento possa ser desfeito. – explicou Papai Noel.
– E pode?
– Sim, se acharmos a avelã dourada em tempo.
– Avelã dourada?
– Sim. Só ela, quando aberta, libera uma substância mágica capaz de desfazer o encanto. É uma longa história.
 Noel começou a contá-la. Douglas prestava muita atenção a cada palavra.
– Tudo aconteceu há muito tempo. Um homem bondoso e solitário passava a maior parte de seus dias contando histórias para divertir as crianças. Sempre que sobrava um tempinho, estudava o que podia sobre os Anjos. De tanto aprender, com o tempo até conseguiu conversar com alguns, ficaram amigos e eles lhe deram um saquinho dourado de presente. Dentro havia um pó também dourado com poderes para desfazer um Coro dos Anjos. Conforme lhe explicaram, somente uma pessoa tão generosa e honesta como ele mereceria receber tal dádiva. O Coro dos Anjos pode ser muito bom, se for cantado junto com bons pensamentos, pois tem o poder de realizar desejos. Mas às vezes, por uma armadilha do destino, o Coro coincide com um mau pensamento e ele também se realiza. Somente a substância dourada pode desfazer o feito.
O esquilão ainda não entendia onde se encaixava naquela história.
– E o que eu tenho a ver com isso?
O velhinho não respondeu. Apenas continuou seu relato.
– Um dia este homem tão bondoso foi perseguido por uma feiticeira muito má, que odiava ver as pessoas felizes e não o perdoava por fazer as crianças sorrirem. Por isso, lançou-lhe um feitiço. Enquanto ainda conseguia raciocinar, ele escondeu a substância dentro de uma avelã. Por causa de seu conteúdo mágico, a própria fruta adquiriu uma cor dourada. A partir daí, nunca mais se ouviu falar do homem e de seu precioso troféu. E é aí que você entra.
– Eu?
– Sim, você. Quem melhor para procurar uma avelã do que um esquilo? Você é o maior e o mais esperto de todos, por isso preciso de sua ajuda. E é bom começar logo, pois o tempo é curto.
            – Tenho escolha?
            – Você não quer ajudar?
            – É claro que eu quero, mas acabei de chegar, as guloseimas estão uma delícia e a lareira mais ainda. E nem sei onde procurar a tal avelã dourada.
            – Trate de aproveitar o fogo e as guloseimas. Você parte ao amanhecer. Conversaremos mais no café da manhã.
            Douglas não conseguiria dormir, pensando no que o aguardava no dia seguinte, mas tentou esquecer o assunto por aquela noite e aproveitar a hospitalidade do velhinho. Além do mais, Papai Noel já voltara ao trabalho.
            No outro dia, o esquilão acordou cedo. Havia dormido bastante, estava bem alimentado e aquecido. Mesmo assim foi catar algumas nozes no pote de ferro. Não estava com fome, mas não sabia quando comeria assim de novo.
            – Não se preocupe, você não ficará sem comida pelo longo caminho. – Papaiel o observava com um largo sorriso e lhe estendia uma bolsa.
            – O que é isso?
            – Uma bolsa mágica.
            – Ela está vazia. De que me serve uma bolsa vazia?
            – Ela apenas parece vazia. No entanto, toda vez que você sentir fome, basta colocar a mão aí dentro e encontrará muitas coisas deliciosas.
            – Se você tem poder para fazer isso, e para fabricar brinquedos para todas as crianças do mundo, por que não vai você mesmo atrás da avelã dourada e sua substância mágica?
            – Não posso fazer tudo. Até meus poderes têm limites. Além do mais, se eu for não acabarei os brinquedos em tempo. Aqui, como estamos num lugar mágico, sob as regras de um tempo mágico, ainda faltam muitos dias, mas lá, onde todas as crianças me esperam, já é véspera de Natal.
            – E por que não pede a algum de seus duendes?
            – Já lhe disse, você é o mais qualificado para a missão. Não me pergunte mais nada. Na hora, você saberá o que fazer. Confie em mim. Eu confio em você. As crianças de todo o mundo confiam em você. Agora vá. Siga seu instinto e tudo dará certo. Você encontrará apenas dias claros. Quando o céu escurecer de maneira estranha, o tempo estará se esgotando. Aí você terá de voltar.
            – E se eu não estiver com a avelã dourada?
            – Ainda assim você terá de voltar.
            Ao dizer isso, Papaiel apontou a porta. O esquilão fez uma reverência com os braços e a ajuda da cauda e saiu para o dia gelado. Sequer sabia por onde começar. Tudo que sabia era que tinha de encontrar uma avelã dourada e liberar a substância armazenada em seu interior.

             Enquanto isso, do outro lado do mundo, Lísia e Milla continuavam com os rostinhos colados na vidraça a observar o movimento da rua e olhar para o céu sem parar, na esperança de, a qualquer momento, avistar um trenó voador, conforme as histórias que papai e mamãe sempre lhes contavam. Elas se preocupavam com a solidão dele, voando sozinho naquele trenó, apesar da companhia das renas mágicas.
Mamãe continuava na cozinha. Elas não entendiam bem para que passar tantas horas à frente de um fogão se a comida era o que menos importava naquela noite. Isso caso Papaiel aparecesse. Os olhinhos lacrimejavam ao pensar na possibilidade de ele não aparecer. Em seguida se iluminavam outra vez. Não, ele nunca falhara, e não seria naquela noite que as desapontaria.
           
            O esquilo Douglas caminhava havia algumas horas quando encontrou uma menina chorando, recostada a uma árvore. Ela lhe explicou que dissera que nunca mais queria ver Papai Noel, mas que estava arrependida e não sabia o que fazer. Douglas já ia perguntar como ela fora parar ali no bosque encantado, quando ela simplesmente desapareceu diante de seus olhos. Mas, ao observar melhor a árvore, ele notou um buraco próximo às raízes, do qual saíam algumas avelãs. Depois de certificar-se de que não havia outro esquilo por perto, examinou uma a uma, mas nenhuma delas exibia a cor dourada descrita por Papai Noel.
            Douglas prosseguiu em sua jornada. Dias se passaram sem que encontrasse qualquer coisa digna de atenção. Não sabia calcular direito, mas, mesmo naquele mundo de tempo mágico, já deveria estar próximo da véspera de Natal.
            Ao longo do caminho, em mais de uma ocasião Douglas pressentiu estar bem próximo de seu objetivo, mas no fim só encontrava avelãs comuns. Às vezes perdia tempo comendo algumas até se lembrar da bolsa mágica, que sempre lhe daria o alimento necessário.
            Chegou então a uma aldeia que parecia abandonada.  As casas deviam estar vazias, pois ali só havia silêncio. Nenhuma voz humana, sequer ruídos de animais. Apenas o barulho do vento interrompia a solidão do lugar. Douglas estava exausto depois de tantos dias de busca. Como a contagem do tempo era diferente, nem um dia normal se passara, mas o cansaço era o mesmo dos vários dias do mundo real, no qual as menininhas aguardavam com os rostinhos colados à vidraça.
            Douglas teve medo. Um lugar abandonado ganha aspecto fantasmagórico. Preferiu caminhar até o início do bosque, já fora da aldeia, onde encontrou uma árvore larga o bastante para que se recostasse a ela e tirasse um bom cochilo. Acordou bem depois, não sabia o quanto, mas tinha a impressão de que perdera preciosas horas dormindo enquanto o Natal estava ameaçado. Sentiu-se um irresponsável, mas resolveu que a melhor maneira de compensar isso era sair dali o mais rapidamente possível e partir em busca da avelã dourada.
Viu então um enorme buraco naquela árvore, bem maior do que qualquer outro que já tivesse visto. Aproximou-se devagar e espiou lá dentro. Não tinha esquilo ou qualquer outro animal morando ali havia muito tempo, a julgar pela poeira e as teias de aranha que cobriam o estoque de avelãs. A exemplo de tudo o mais naquela aldeia, fosse quem fosse o morador daquela toca, tinha se mandado junto com os outros habitantes. Era hora de ele ir embora também. Antes, como estava com muita fome e esquecera outra vez a bolsa mágica, comeu quantas avelãs pôde, retirando a grossa camada de pó de cada uma antes de levá-las à boca. Depois, colocou a única que sobrou dentro da bolsa e avançou bosque adentro.
Caminhou por pouco tempo até começar a sentir enjôo, tontura e dor no estômago. O mal-estar era terrível, mas mais terrível ainda era a idéia de desistir da jornada e decepcionar todas as crianças do mundo. Antes de desmaiar, pensou ter visto um vulto entre as sombras das árvores e ter ouvido uma voz sinistra dizer algo como “seja quem for, não há com o que me preocupar, pois ninguém sobreviveria àquele veneno”. Concluiu que deveria ser alucinação, pois agora também ardia em febre. Logo acabou desmaiando.

Despertou sentindo uma mão a lhe acariciar a cabeça e um jarro despejando água em sua boca. A água tinha um gosto diferente. Não era ruim, só não parecia água. Tentou abrir os olhos, mas ainda estava muito fraco. Quando conseguiu abri-los, enxergou um vulto que lhe pareceu familiar. Fechou os olhos e, quando tornou a abri-los, já não havia ninguém ali. Seu mal-estar, no entanto, era pequeno agora e ele teve ânimo suficiente para se levantar e tentar caminhar.
            Como se num passe de mágica, o céu, até então claro e sem nuvens, fechou-se e escureceu totalmente. De imediato, Douglas se lembrou da conversa com Papai Noel:

“Quando o céu escurecer de maneira estranha, o tempo estará se esgotando. Aí você terá de voltar.”
            “E se eu não estiver com a avelã dourada?”
            “Ainda assim você deverá voltar.”
           
A aparência do céu não deixava dúvidas de que o momento chegara. Ele havia fracassado, e era melhor não causar mais desilusão a Papai Noel se recusando a retornar.
            A viagem de volta foi rápida. Afinal, ele não precisou procurar por nada. Apesar disso, pareceu durar uma eternidade, tamanho era o sentimento de culpa do esquilão. Ao chegar à porta da casa de Papai Noel, parou por um instante pensando no que iria dizer e ouviu uma voz conhecida vindo lá de dentro:
            – Entre, meu rapaz. Eu já sei de tudo mesmo.
            A porta abriu-se sozinha e Douglas entrou devagar. Tinha mais vergonha do que medo. Sabia que o velhinho não lhe faria mal, pois não fazia mal a ninguém. Sentiu-se ainda mais constrangido quando Papai Noel lhe apontou a lareira e o sofá.
            – Você deve estar cansado e gelado.
            Ele respondeu que sim com um leve aceno de cabeça.
            – Dê-me a bolsa e descanse à vontade.
            Douglas ficou comovido. Havia falhado e era tratado com tamanha gentileza e compreensão. Alcançou a bolsa a Papai Noel, que parecia tranqüilo e feliz. O velhinho abriu a bolsa mágica, tirou de dentro a avelã coberta de poeira e teia de aranha que Douglas guardara antes de passar mal e da qual nem se lembrava mais. Jogou a bolsa em cima do sofá, e em seguida ela desapareceu. Colocou então a avelã na palma da mão e soprou-a com delicadeza. As partículas de pó se espalharam pela casa e aos poucos caíram sobre o tapete. Quando parou de observá-las, viu que Papai Noel sorria e tinha na mão uma avelã dourada.
            Então ele conseguira. Mesmo sem o saber, ele conseguira. Saiu de perto da lareira e se aproximou da avelã, que ainda repousava na mão do velhinho. Papai Noel abriu-a, deixando sair uma nuvem de pequenos pontos brilhantes e dourados. Mais do que se espalhar pela sala como o pó fizera momentos antes, as partículas pareciam espalhar-se pelo mundo todo. Douglas estava encantando olhando para aquela maravilha.
            Quando a nuvem se dissipou, tudo parecia mais verdadeiro, e ao mesmo tempo mais colorido, mais mágico. Papai Noel caminhou pela sala e fez sinal para que ele o seguisse. Douglas não entendeu até estarem em frente a um grande espelho de moldura dourada. Nele, Douglas viu o Papai Noel e, ao seu lado, em vez de um esquilão, havia um homem. Mesmo com o choque provocado por aquela visão, raciocinou o suficiente para concluir que não era mais um esquilo. Em pouco tempo a memória voltou e ele se lembrou de tudo. Da aldeia, das histórias que contava para as crianças, da substância mágica, da feiticeira, da maldição.
– Exato. – disse Papai Noel, adivinhando mais uma vez seus pensamentos. – Ao liberar a substância da avelã dourada, o feitiço se quebrou e você voltou a ser o que era antes, um homem bom e generoso.
            – Então você sempre soube?
            – Sou um homem bem informado. E você precisava enfrentar seu destino. Devo dizer que se saiu muito bem
            – O que aconteceu lá na floresta?
– As avelãs estavam podres. Exceto a dourada, é claro, que continha o antídoto capaz de remover a maldição.
– Mas o Natal estava mesmo ameaçado ou você inventou tudo isso só para me testar?
– Você faz perguntas demais, meu caro. Aproveite sua nova situação e brinde comigo. Ah, e pode me chamar de Papaiel.

Mesmo cansadas de tanto esperar, e diante dos apelos da mãe para que saíssem um pouco da janela e comessem um docinho, Lísia e Milla não desistiam. Papaiel jamais as decepcionara. Foi quando a mãe as chamava mais uma vez que elas viram um brilho especial surgir lá longe no céu. Em seu trenó voador, Papaiel sorria e gritava seu tradicional hou-hou-hou-hou enquanto acenava para as crianças. Desta vez, no entanto, parecia haver alguém ao lado dele.


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