

Carlos Minc, cujo sobrenome-sigla parece torná-lo mais próximo de um cargo no Ministério da Cultura, ao menos não deverá enfrentar problemas de falta de diálogo com os pares. O ex-guerrilheiro refere-se à Dilma e ao Lula assim mesmo, pelo prenome, com a intimidade somente permitida a velhos companheiros, dando a entender que terá livre acesso aos gabinetes palacianos de primeiríssimo escalão. Tampouco deixará de ser ouvido, com sua voz de bom timbre, pausas bem colocadas acentuadas pelo sotaque carioca, a capacidade de mirar a câmera e falar de modo coloquial, meio que dispensando o entrevistador, e o apreço por tiradas cômicas e declarações polêmicas.
A primeira frase de impacto pronunciada por Minc ao ser indicado para o cargo soou emblemática: “O Rio de Janeiro eu conheço muito bem, mas o Brasil eu conheço muito mal”, disse o homem encarregado, entre outras coisas, de salvar a Amazônia. Talvez não seja afinal um problema, uma vez que dificilmente um potencial candidato ao cargo conhecesse a Floresta melhor do que Marina, e isso não representou qualquer avanço. De todo modo, o novo ministro terá de mostrar ao mundo que tem bem mais do que uma boa voz, figurinos espalhafatosos e cabelos à espera de uma tesoura. Marina era um ícone, uma garantia de que o Brasil mantinha no comando da pasta do Meio Ambiente – ou ao menos simulava fazê-lo – alguém de fato engajado na defesa da Floresta, disposta a desagradar interesses poderosos do capitalismo. Minc, para o bem e para o mal, é apenas um ministro.
A notícia da queda de Marina na imprensa internacional foi em muitos casos acompanhada de textos editorializados cujo conteúdo acende bem mais do que a luz amarela. O britânico The Independent, depois de se referir a ela como “anjo da guarda da Amazônia” e à sua saída como um “duro golpe para o Planeta”, falou com clareza o que muitas autoridades, ONGs e ativistas europeus e americanos pensam: “Esta parte do Brasil é muito importante para deixar para os brasileiros”.

Minc reagiu: “Os brasileiros também deveriam ser consultados sobre o patrimônio ameaçado dos Estados Unidos”, replicou, além de sugerir que Paris e Nova York poderiam ser internacionalizadas. Nacionalistas, ecologistas, patriotas, antiimperialistas e militantes de variadas espécies vibraram com a pronta e debochada resposta. Minc deu seu show, como parece ser de seu perfil. O problema é que o assunto é sério demais para se brincar. O NYT e o Independent não expressaram a opinião apenas do autor do texto, mas um pensamento corrente no mundo há bastante tempo. Bravatas ficam bem no You Tube, mas podem se tornar perigosas. Ao recorrer a elas, Minc manda o recado de que não se pode levar a sério tais pretensões.
Ao contrário, ministro, deve-se levar a sério, sim. Eles não são de brincadeira, o mundo inteiro sabe disso. Os países invadidos sob pretextos esdrúxulos, os povos subjugados e os territórios tomados por interesses bem menores do que a Amazônia são provas de que é melhor não dar muita risada. Mas isto é irrelevante, no fundo. Mais do que a soberania nacional vale a vida no Planeta. Se fosse para resolver o problema ambiental, unir os povos da Terra e proteger todas as espécies animais e vegetais, que viessem os ianques, mas sabemos que a civilização se move pela cobiça.

16,5 milhões de habitantes
12% da população do país
Densidade demográfica de 3,2 habitantes/km²
Maior bacia de água doce do Planeta
Mais de 200 espécies diferentes de árvores por hectare
1.400 tipos de peixes
1.300 espécies de pássaros
Mais de 300 espécies de mamíferos
Maior fonte natural no mundo para produtos farmacêuticos e bioquímicos
1/3 das Florestas tropicais do Planeta (US$ 1,7 trilhão em reservas de madeiras de lei)
Mais de 30% da biodiversidade da Terra
Jazidas de metais nobres estimadas em US$ 1,6 trilhão
Último espaço inexplorado agriculturável do Planeta (pode aumentar em 80% a produção do País)
(FONTE: SIVAM)
Decididamente, não se pode brincar com tudo isso. É simplesmente a vida do Planeta que está em jogo. O Plano Amazônia Sustentável (PAS) é o principal embate hoje entre ambientalistas e fazendeiros, usineiros, madeireiros e outros. Marina caiu pela intransigência na manutenção de certos paradigmas, pela falta de autoridade dentro do governo, pela intromissão de pares mais bem posicionados no Planalto, entre outras coisas.

São detalhes de um jogo complicado, com desmatamento permanente para a extração clandestina de madeira, queimadas para plantio, limpeza de terreno para aterrissagem de narcotraficantes, mas também de extensas áreas entregues a um punhado de índios que não precisam cumprir a lei do homem branco, embora se beneficiem dela, do drama de milhões de pessoas que precisam garantir a subsistência, enfim, e ainda vêm os americanos e ingleses propor a jurisdição internacional da área e a confusão só aumenta.
A humanidade hoje sabe como se desenvolver sem agredir o ambiente. Milhares de empresas ao redor do mundo, nas florestas ou fora delas, ganham muito dinheiro preservando, ou mesmo com a própria preservação. Temos idéias, recursos, tecnologia. Falta o de sempre: bom senso, responsabilidade, seriedade, honestidade, ética. Mas aí já é pedir demais.
Créditos das fotos:
Amazônia - Divulgação MMA
Marina Silva com o presidente Lula - Divulgação MMA
Al Gore - Divulgação Al Gore
Amazônia - Jefferson Rudy/Divulgação MMA
Carlos Minc - Ignácio Ferreira/Divulgação
2 comentários:
Salve, Eliziário!
Não acompanhei a demissão da Marina. Gostei da tua análise. Parabéns. Um Sucesso com o blog, e sempre.
Abraço
(... !!! ??? ;;; ,,, )
Opa!!! Eliziariuuuuuu... que surpresa agradável encontrar o início do teu Blog! Adorei!
Ali em cima é o título do post. (Todos os Pontos para Ti)!!! ehehehe É isso aí. Os assuntos estão muito bem escritos. Soube escolher bem. O entretenimento bacana e os assuntos mais graves e críticos como a questão do meio ambiente!
Parabéns, amigo! =D
Aquele Abraço
Postar um comentário