O lado negro de Camelot
Barack Obama ganhou a indicação democrata por ser negro ou apesar de ser negro? A discussão é irrelevante a estas alturas. Numa sociedade historicamente segregadora como a americana, passar da Klu Klux Klan para Barack Obama representa bem mais do que flexionar novos vocábulos invulgares. Um negro disputar para valer – e não por partidos nanicos e patéticos – a presidência dos Estados Unidos não é pouca coisa. No mínimo, os americanos sinalizam uma disposição para rever seus conceitos. Em tempos não tão remotos, Obama seria convidado a usar a outra calçada ou a desocupar assentos destinados aos brancos, isso se desse sorte de escapar dos archotes insandecidos.
Barack Obama ganhou a indicação democrata por ser negro ou apesar de ser negro? A discussão é irrelevante a estas alturas. Numa sociedade historicamente segregadora como a americana, passar da Klu Klux Klan para Barack Obama representa bem mais do que flexionar novos vocábulos invulgares. Um negro disputar para valer – e não por partidos nanicos e patéticos – a presidência dos Estados Unidos não é pouca coisa. No mínimo, os americanos sinalizam uma disposição para rever seus conceitos. Em tempos não tão remotos, Obama seria convidado a usar a outra calçada ou a desocupar assentos destinados aos brancos, isso se desse sorte de escapar dos archotes insandecidos.
Em tempos politicamente corretos, um negro com nome árabe soa melhor a ouvidos sedentos de renovação, exauridos de esperança pelo conservadorismo da Era Bush, do que uma loira com pinta de durona e ascendência decididamente anglo-saxônica (pensando bem, “pinta” lembra o análogo masculino de triste memória para Hillary). Mas o essencial não é isso.
A predileção por Obama vai muito além da cor da pele. Há cinco décadas os americanos esperam pela ressurreição de John Fitzgerald Kennedy. Enquanto Bob Kennedy, John-John e membros menos graduados do clã morriam de forma trágica, a América se conformava com os anódinos Lindon Johnson e Gerald Ford, o vigarista Richard Nixon, o canastrão Ronald Reagan e os belicistas Bush Pai e Bush Filho.
Bill Clinton interrompeu esta série de inexpressivos e perigosos, foi um dos melhores presidentes americanos de todos os tempos, mas, inserido num sistema reacionário, acabou entrando para a história mais em função de um caso com uma estagiária do pelo belo governo, caso, diga-se, realçado muito mais pela imprensa e por promotores de segunda linha em busca de notoriedade do que pelo povo, que pouco se importou com o episódio.
Obama não é JFK, para o bem e para o mal. Não possui o indiscreto charme da burguesia kennediana, tampouco parece afeito à devassidão dos subsolos da Casa Branca naquele início dos anos 60, muito bem retratados em O Lado Negro de Camelot, de Seymour Hersh, um dos maiores jornalistas da história. Obama só é o lado negro na cor da pele, mas está longe de freqüentar a corte de Camelot. Para o bem e para o mal.
Crédito da foto
Comitê Barack Obama
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