(Meu texto na coluna de Augusto Nunes em 7 de dezembro de 2017)
A ESPINHA FLEXÍVEL DE EVO MORALES
Uma canção de Walter Franco lançada no final dos anos 70, convertida em hino de uma geração a um só tempo revolucionária e adepta do conceito de “paz e amor”, dava a receita de uma vida boa e politicamente correta: “Tudo é uma questão de manter a mente quieta, a espinha ereta e o coração tranquilo”. Tornou-se o mantra de milhares de jovens. Evo Morales, ídolo de esquerdistas adolescentes tardios, reafirmou que o quesito “espinha ereta” só vale quando conveniente. Dos primeiros a qualificar como golpe o impeachment de Dilma Rousseff e, portanto, a rotular como golpista o presidente Michel Temer, Evo não se sentiu desconfortável ao fazer salamaleques a Temer durante encontro em Brasília.
O índio de laboratório com cara de Zacharias dos Trapalhões e indumentária que mescla Beatles e Mao Tsé-Tung, postou em redes sociais, à época da saída do poste de Lula, coisas como “sentimos la misma indignación que usted y su pueblo frente al golpe congresal y judicial” ou “con su proceso injusto pretenden contener la rebelión de su pueblo y expulsar a pobres, negros y mujeres del poder”, sempre tratando a atropeladora do raciocínio lógico com um carinhoso “irmã”. As bravatas estenderam-se a um chamado do embaixador para consultas.
Nesta terça-feira, Evo Morales encontrou-se com Michel Temer em Brasília e escreveu em seu Twitter: “Honrado de visitar Brasil, fui recibido por el hermano presidente Michel Temer”. Espinha ereta é isso aí. “A Bolívia precisa do Brasil”, afirmou, reconhecendo o óbvio. O Brasil compra em torno de 20% das exportações daquele país. Candidato a um quarto mandato, Evo Morales sabe, bem além do palavrório ideológico, que precisa e muito do vizinho maior. Depois de espernear, chantagear, ameaçar e roubar de forma consentida o Brasil na Era Lula – não há outro nome para a expropriação das refinarias da Petrobras –, ao menos tem agora o bom senso de entender que os tempos são outros. Quanto a manter a espinha ereta, isso é para os fracos.
(Foto de Beto Barata/PR)
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