terça-feira, 26 de setembro de 2017

  PUBLICADO EM VEJA.COM  
(Meu texto na coluna de Augusto Nunes em 27 de setembro de 2017)


O PT AINDA TENTA NEGAR O INEGÁVEL

Antonio Palocci resolveu dizer a verdade não por ser um homem bom, um pecador arrependido em busca de redenção. Começou a falar o que sabia como o sujeito que decide aprender a rezar quando o avião está caindo. Membro graduado da quadrilha que assaltou os cofres federais, só se arrependeu porque foi pego. E também porque a poucos homens, como a viva alma muito viva, é concedida cara de pau o bastante para negar o inegável e seguir fingindo nada saber sobre aquilo que todo mundo sabe que ele fez e mandou fazer.


O fato de não haver mocinhos nesta história não diminui o impacto das declarações do ex-ministro na carta endereçada ao PT. Além de reforçar as acusações contra Lula, chama a atenção o fato de que, pela primeira vez, um integrante do bando que chafurdava no Planalto faz os questionamentos que os brasileiros decentes há muito vêm fazendo. “Até quando vamos fingir acreditar na autoproclamação do ‘homem mais honesto do país’ enquanto os presentes, os sítios, os apartamentos e até o prédio do Instituto (!!) são atribuídos a Dona Marisa?”, pergunta o homem que já atribuiu crimes a um caseiro para tentar esconder suas peraltices.

O ex-ministro, que se dirigiu a Gleisi Hoffmann como “senhora presidente”, com e, como qualquer pessoa normal faria, disse não entender outro aspecto que o Brasil que presta também sempre apontou: “Enquanto os fatos me eram imputados e me mantive calado não se cogitava minha expulsão. Ao contrário, era enaltecido por um palavrório vazio”, escreveu o falsamente perplexo Palocci. “Agora que resolvi mudar minha linha de defesa e falar a verdade, me vejo diante de um tribunal inquisitorial dentro do próprio PT. Qual o critério do partido?”, pergunta, simulando não compreender o que só não esteve claro desde sempre para quem não quem nunca quis enxergar.

Evidentemente, Palocci não está surpreso com coisa alguma, é só mais um tentando bancar a vestal que foi parar no bordel e nunca desconfiou do que se passava lá dentro. De todo modo, é a primeira vez que um integrante de alto escalão do PT fala a linguagem do Brasil real em tempos de Lava Jato, o que não é pouca coisa. “Afinal, somos um partido político sob a liderança de pessoas de carne e osso ou somos uma seita guiada por uma pretensa divindade?” Você sabe a resposta, Palocci, sempre soube, e só agora finge ter aberto os olhos na tentativa de pegar uma cana mais branda. Mesmo assim, ajuda a garantir que Lula não perca a pole position na fila do camburão. E quem sabe o ex-ministro resolva contar o resto, pois ainda há muito lixo pesado a ser varrido.

(Foto: reprodução de TV)

Nenhum comentário: