quinta-feira, 9 de abril de 2009

J O R N A L I S M O

A inocência esquartejada

O texto a seguir saiu na edição de outubro da revista Brasileiros. Já faz tempo, mas a qualidade e o impacto que provoca justificam sempre sua reprodução. A reportagem foi realizada a quatro mãos por Augusto Nunes e sua filha Branca Nunes (em foto de João Bittar publicada na revista).

"Acho que você precisa saber disso", ouviu o delegado de Ribeirão Pires assim que atendeu o celular. Itamar Martins reconheceu a voz do delegado de plantão. Estranhou o tom aflito. Duas da madrugada, viu no relógio do criado-mudo. Associou o horário tardio ao sotaque da angústia e ficou em guarda. Um policial não interrompe o sono de outro, sobretudo na madrugada de um sábado, para tratar de miudezas. Nem se perturba por pouco. Alguma coisa grave devia ter acontecido. Acontecera: "Uns garis encontraram pedaços de dois corpos no caminhão do lixo". Não dormiria direito no fim de semana, conformou-se, já mudando de roupa e ansioso por cruzar no limite da velocidade os 17,5 quilômetros que separam a casa onde mora em Santo André da delegacia de Ribeirão Pires. As frases seguintes preveniram que não se livraria de visitas da insônia em muitas outras madrugadas. "Os sacos foram recolhidos no fim da noite, numa rua da Vila Aurora."(Itamar lembrou que aqueles meninos moravam lá.) "Parecem pedaços de crianças." (São aqueles meninos, soprou-lhe o instinto aguçado no convívio com a face escura.)

Continua em
http://www.revistabrasileiros.com.br/edicoes/15/textos/313/


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