Vendeta tropical
O presidente Lula foi dormir feliz no Japão. A operação Satiagraha (expressão celebrizada por Mahatma Gandhi e que significa “resistência pacífica e silenciosa”) da Polícia Federal deflagrada nesta manhã envolveu 300 agentes, 24 mandatos de prisão e 56 ordens de busca e apreensão, e levou para a cadeia, entre outros, o especulador Naji Nahas, o ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta e o banqueiro Daniel Dantas. Tudo normal. Tudo merecido. Nahas é velho conhecido no submundo das altas finanças e o ex-pupilo de Paulo Maluf igualmente dispensa apresentações, mas foi o encarceramento de Dantas que fez Lula adormecer contente.
Membro graduado do clube dos capitalistas ferozes, Dantas há muito é figurinha carimbada em operações empresariais obscuras, negociatas e farras com dinheiro suspeito em paraísos fiscais. Capaz de transitar com invulgar desenvoltura nos bastidores dos grandes negócios, Dantas ganha inimigos com a mesma velocidade com que fecha contratos milionários. Um destes inimigos é o presidente Lula.
À frente de um grupo de investidores, Dantas, dono do Grupo Opportunity detinha o controle da Brasil Telecom quando lhe sussurraram, durante a campanha presidencial de 2002, que o presidente da Oi (“simples assim”) Telemar, Carlos Jereissati, teria fechado acordo com o PT. Jereissati contribuiria com uma bolada para a campanha de Lula que, uma vez eleito, daria um jeito de arrancar a BR Telecom das mãos de Dantas e atirá-la nos braços do dono da Telemar (e da rede de shoppings Iguatemi, entre outros empreendimentos).
Dantas contra-atacou oferecendo outra bolada, que teria sido repassada por meio de Delúbio Soares e Antônio Palocci. Tentou com um considerável mimo de US$ 2 milhões enternecer o coração do poder. Não adiantou. Lula lá, o Citigroup, maior investidor do fundo controlador da Brasil Telecom foi pressionado por representantes do governo brasileiro a tirar Dantas do comando.
Jereissati ganhou o que queria, junto com seu sócio, Sérgio Andrade, da empreiteira Andrade Gutierrez, amigo de Lula. A Telemar injetou R$ 15 milhões na inexpressiva Gamecorp, de Fábio Luís da Silva, o Lulinha, filho do presidente Lula, cujo governo tratou de alterar a lei para permitir a realização do negócio envolvendo a Telemar e a Brasil Telecom. Simples assim. Lula, é claro, não sabia de nada disso. Como não sabia do mensalão, cujas investigações – que até agora não pegaram seus principais protagonistas – acabam de levar Dantas para a cadeia.
Um comentário:
Bob Fernandes está voando baixo no Terra Magazine. Bonito de ver... :)
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