segunda-feira, 15 de setembro de 2008

GENTE


Paixão e obra de Beto Silveira

O Beto é que se pode chamar de figura ímpar sem medo de exagerar. Conheci-o em meados dos anos 80. Ele trabalhava havia muitos anos na Rede Globo como responsável pela preparação dos novos atores. Quando veio a Porto Alegre para ministrar um curso de atuação em televisão, fui encarregado de entrevistá-lo para a Revista da TV do jornal Zero Hora. Ele concordou em conversar comigo apenas se eu fizesse o curso. Tentei declinar, saía tarde do jornal e etc, mas ele insistiu, disse que havia o curso noturno e que deixaria minhas gravações para o final da noite. Então, tive de encarar.

Dotado de talento extraordinário e carisma invulgar, Beto acabou me ensinando muita coisa. Lá pela metade do curso ele me concedeu a entrevista regada a muito chope num bar chamado A Moenda, no bairro Menino Deus em Porto Alegre, que não sei se ainda existe. Apesar das dificuldades de horários e do cansaço (na época eu trabalhava em dois empregos), acabei me saindo bem. Ao final do curso, o Beto escolheu, entre dezenas de alunos dos três turnos, duas pessoas a quem considerou especialmente talentosas e entregou uma ficha de cadastro para o elenco da Globo. Eu fui um dos escolhidos. Não sei se teria dado em algo, mas me arrependo de minha covardia em não tentar. Julgava-me compromissado demais com uma série de coisas, e isso com vinte e poucos anos, enfim.

A amizade dura até hoje. Já passei férias na casa dele, quando ele morava no Rio, já freqüentamos bastante a casa um do outro quando eu morava em São Paulo, onde ele mantém um curso de preparação de atores de grande sucesso.

Em 1997, quando eu estava em Brasília, ele me mandou os originais de um livro para que eu desse uns palpites. O tempo passou, o livro saiu primeiro em Portugal e agora, finalmente, Assim no Palco Como na Vida acaba de ser lançado no Brasil pela Editora Totalidade. Trata-se de uma aula magistral de interpretação, com pitadas de Stanislavski e Eugênio Kusnet, de quem o Beto foi aprendiz, mas, acima de tudo, é uma aula de vida, de visceralidade, de tesão por estar neste planeta cercado de gente por todos os lados.


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