terça-feira, 26 de agosto de 2008

BRASIL


O texto a seguir já foi publicado no site coletiva.net. Decidi republicá-lo aqui por duas razões. A primeira é o escândalo do reitor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Ulysses Fagundes Neto, que se demitiu ontem em função das acusações de uso do cartão corporativo em causa própria. Entre os gastos indevidos figura a compra de um aparelho de barbear e de uma escova de cabelos por R$ 300 em Miami.

A segunda razão é contribuir para que o recente escândalo dos cartões corporativos não seja esquecido. Alguém foi punido? Algo mudou? A farra continua? O assunto é repetitivo? Paciência, a roubalheira também.




Porque a farra é agora


Mesmo os corruptos têm de se modernizar. Por que carregar dinheiro na cueca se é muito mais fácil, moderno e impune sacar o cartão corporativo? Bandidos sempre sacaram: armas brancas, prosaicas pistolas ou modernos fuzis de uso militar. Por que a bandidagem que chafurda nos pântanos do Planalto teria pudores em sacar o cartão? Cartão corporativo: não circule no lodo sem ele.

O episódio Valdomiro “Só Quero Um Por Cento” Diniz, aquele que assessorava o Zé Dirceu que era o braço direito do Lula que não sabia de nada, escancarou uma verdade que todo homem decente aprende no berço: não existe meio corrupto. Do mimo para o servidor público apressar um alvará a prodigiosos assaltos aos cofres públicos, corrupção é corrupção. O meio corrupto é tão ficcional quanto a ligeiramente grávida.

O que os eventos perpetrados no lamaçal da República evidenciam é tão somente a pequenez dos contraventores. Se vão prevaricar, que o façam com alguma “catiguria”, como ensinou a Bebel da deliciosa Camila Pitanga. Tungar o bolso do cidadão para comprar rosquinhas é um tanto demais.

Depois dos larápios federais com algum espírito de grandeza – ao menos andavam de Land Rover – chegou a vez da chinelagem. Trata-se de uma espécie de bolsa-família dos corruptos. Já não se estende um discreto envelope por baixo da mesa, passa-se o cartão. Certas coisas na vida de um corrupto chinelão não têm preço. Para todas as outras existe o cartão corporativo.

Como nunca antes na história desse País, a malversação do erário tornou-se política de Estado. Governos infestados de corruptos não são novidade nos flexíveis trópicos. O que espanta é a desfaçatez. Simulações, fachadas e álibis converteram-se em peças de museu. É tudo à luz do dia mesmo. Como diz a velha frase sobre amores clandestinos em hora imprópria, antes à tarde do que nunca. Porque a farra é agora.



.

Nenhum comentário: