segunda-feira, 23 de junho de 2008

O arraial da impunidade

Convencidos de que têm cumprido seu dever e de que a pauta do País não inclui qualquer problema urgente, nossos parlamentares decidiram se dar ao luxo de acrescentar mais um item à extensa lista de feriadões nacionais. Trata-se do feriadão junino. Ao contrário do que ocorre no Brasil, no calendário legislativo esta semana é dedicada a festas, não a trabalho. Em vez de cafezinho, quentão.

A inconveniente iniciativa é uma espécie de aquecimento para o que vem por aí. De 10 a 17 de julho haverá o recesso formal e, em seguida, as campanhas eleitorais esvaziarão outra vez nossas torres gêmeas.

Na Câmara dos Deputados ao menos os folgazões passarão algum constrangimento. O presidente da casa, Arlindo Chinaglia, avisou que as sessões e comissões terão funcionamento normal nesta semana, ao menos oficialmente, pois será difícil obter quorum.

No Senado os gazeteiros, sempre inclinados a acreditar que o povo esquecerá tudo até a próxima visita às urnas, podem cair na farra tranqüilos. Seu presidente, Garibaldi Alves Filho, decretou “recesso branco” e liberou a turma para se divertir à beça, expressão que Alves por certo aprovaria.

“Não pega bem se alguém deixar de aparecer nas festas”, declarou o presidente do Senado com o tradicional e desanimado semblante daquele tio que costuma aparecer sem convite no almoço de domingo e que, entre um cochilo e outro, conta sempre as mesmas piadas. “Como bom nordestino”, argumentou, entende a importância das festas para o povo da região.

Alguém deveria informar ao dinâmico senador que o povo por certo prefere ver seus representantes resolvendo os problemas do País e não dançando a quadrilha, ainda que este seja um tema familiar a alguns deles.

Enquanto o brasileiro comum trabalha duro para pagar impostos excessivos e, se sobrar alguma coisa, comprar os serviços que o Estado não consegue suprir, os congressistas se entregam à folia fora de hora. Deve ser hilário assistir à performance de certos políticos na pescaria ou na dança em volta da fogueira. Dispostos a amealhar preciosos votos, eles só não topam participar da brincadeira da cadeia. Vai que alguém leve a sério. Vadiagem é crime.


Crédito da foto:
Jane de Araújo - Agência Senado

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