Todas as notícias que merecem ser vividas
Tudo acerca do New York Times, historicamente o melhor jornal do mundo, reveste-se de ancestralidade. Seu lema, o norte da redação, “todas as
notícias que merecem ser publicadas”, tem inspirado gerações de jornalistas.
Difícil criar mote mais emblemático, e por certo é presunçoso tentar, mas um dia imaginei um jornal dotado de uma bússola precisa como a do Times,
embora com foco em outro modo de entender o que é importante no mundo. Isso foi bem antes da explosão da internet e da aparente sentença de morte dos
jornais impressos. E, convenhamos, certas coisas só emplacam no papel, ainda
que solte tinta, cheire mal e esteja destinado a embrulhar peixes no dia
seguinte.
Neste despretensioso exercício, como todo presunçoso, não fui
original, apenas pensei em adaptar o slogan do NYT a um modo de enxergar a vida do homem comum
por meio de lentes um tanto quanto hedonistas: “Todas as notícias que merecem
ser vividas”. Os jornais se ocupavam mais, e seguem se ocupando, dos assuntos
considerados importantes, e bem menos daqueles que poderíamos classificar como “interessantes”.
Todo jornalista que se preza sabe disso, bem como sabe que as chamadas
informações “macro” são inescapáveis. A morte do líder do Talibã, a previsível
quebradeira do castelo de cartas trucadas de Eike Batista ou um tiroteio no
aeroporto de LA são importantes porque, queiramos ou não, o mundo é um só, a economia
e a política, internas e externas, inevitavelmente se interligam, e mesmo informações
de face remota e árida poderão impactar nossa vida em algum tempo, e irão.
Meios de comunicação convencionais descobriram, há apenas uns 20 anos, por aí, e muito tardiamente, que a vida do “leitor
comum” passava ao largo de 90% do conteúdo que publicavam todos os dias. O
esforço para recuperar o tempo perdido tem, a partir de então, produzido prodígios
patéticos, incontáveis chavões e algumas simples tolices. Desde que as redações
descobriram a pólvora de que a morte de um jovem deveria ser abordada não pelo que
aconteceu, mas pelo que deixou de acontecer, a expressão “vida interrompida” é
utilizada à exaustão. É só um exemplo. O bafo na nuca emitido pela internet e,
concedamos, pelo “clamor das ruas”, acuaram os produtores de notícias. A
informação tornou-se propriedade de todos e, portanto, de nenhum. Conceitualmente, ótimo. Mas, é óbvio, a
qualidade, a profundidade e a seriedade dos noticiosos virtuais é, de modo
geral, lastimável, para dizer o mínimo, mas aí já se trata de outra e longa discussão.
Voltando à presunção, “todas as
notícias que merecem ser vividas” é muito mais do que ampliar os espaços de
cultura, lazer, gastronomia e etc. Isso qualquer um faz. Sintonizar-se aos tempos
atuais, ao “leitor comum” sem afetações ou excessos que beiram o infantil é um
desafio e tanto. Ninguém tem a fórmula, a julgar pelas publicações tolinhas que
pululam por aí sob uma fachada de seriedade e consistência que não se sustenta,
considerando-se seu declínio cada vez mais acelerado. É claro que eu não conheço o
ingrediente mágico, apenas tive um pensamento presunçoso.
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