Sejamos mais humanos
As redes sociais deram voz a todos, o que é ótimo, mas também levaram ao paroxismo as possibilidades do efeito-manada e se transformaram em cenário ideal para manifestações de histeria coletiva.
A xenofobia é um sentimento feio, além de injusto e, sobretudo, burro. Ainda mais em um país tão fortemente miscigenado, construído com a energia de imigrantes das mais variadas paragens. Incontáveis são também os exemplos de pessoas que aqui aportaram à margem dos grandes processos migratórios, vindas de diversas terras, e daqui fizeram seu lar, não apenas construíram famílias e criaram seus filhos, como contribuíram para tornar o Brasil melhor com a força de seu trabalho e de seu caráter, incluindo muitos e maravilhosos médicos.
Nem é necessário reforçar o argumento com a tese da globalização, pois se trata de algo histórico, que antecede em muito este mundo hoje - felizmente - de poucas fronteiras (ao menos na aparência). Tanto quanto, por óbvio, não vale a apena perder tempo comentando a irracionalidade, ou mera estupidez, de quem hostiliza os médicos cubanos com toda a carga de sordidez que a xenofobia em si carrega.
Igualmente absurda é a onda de ataques aos médicos brasileiros, em sua grande maioria profissionais honestos, éticos e competentes, convertidos por conveniência nos vilões de um sistema de saúde por demais precário, em que eles, muitas vezes, conseguem fazer bem mais do que se imaginaria possível diante de tanta incompetência e desvios de quem deveria dotar tal sistema das condições mínimas para o bom exercício profissional.
Os argumentos de quem é a favor e de quem é contra a vinda de médicos estrangeiros - venham eles de Cuba, da Espanha, da China ou da Lapônia - devem ser examinados com bom senso, pois em ambos os casos há pessoas de bom senso utilizando argumentos de bom senso, embora, também em ambos os casos, suas vozes sejam lastimavelmente sufocadas por outras, as histéricas, que preferem tentar impor sua posição no grito e na agressão.
É claro que há razões de cunho político - como sempre, de ambos os lados - no bate-boca em que se transformou a questão, não sejamos ingênuos. Mas esta é outra discussão. Nada justifica o espírito belicoso do qual tantas pessoas parecem se sentir "obrigadas" a partilhar para serem aceitas por determinados grupos, para firmarem uma posição politicamente correta ou, ao contrário, uma posição politicamente incorreta, embora a maioria seja mesmo formada apenas por tolos querendo aparecer. Gente que por vezes transforma nosso cotidiano ato de dar uma olhada no que rola no FB num exercício de depressão.
Parece difícil, mas é simples e básico: sejamos mais educados, menos preconceituosos (em todas as direções), sejamos mais humanos, como bons humanos costumam ser os melhores profissionais, venham de onde vierem.
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