terça-feira, 23 de setembro de 2008

Palpiteiros irresponsáveis

Debochar da quebra de instituições como o Lheman Brothers ou o Merril Lynch é algo a que o metalúrgico Lula pode se dar o luxo, mas o chefe de Estado Lula deveria estudar melhor as falas. Zoar com o risco de derrocada do sistema financeiro internacional é tão inadequado quanto comemorar a derrubada das Torres Gêmeas por considerá-la uma justa vingança dos povos oprimidos contra o grande satã e acreditar, ingenuamente, que a barbárie atingira somente os Estados Unidos.

De fato, bancos de investimentos como o Lheman e o Lynch se especializaram em – entre uma e outra operação nem sempre cristalina – dar palpites sobre o cofre alheio. Ancorados na suposta solidez da maior economia do mundo, julgaram-se à vontade para determinar, por exemplo, se e quando nações emergentes como o Brasil deveriam merecer a confiança da comunidade internacional. Oráculos das finanças globais, descuidaram do próprio caixa, como um prestigiado gerente de banco que não consegue administrar as contas pessoais.

A queda das bolsas de valores em todo o mundo ainda carrega reflexos dos atos perpetrados pelo bando de Osama Bin Laden naquele 11 de setembro. A solidez econômica americana começou a ruir junto com as torres. Com a fuga dos investidores estrangeiros e a natural retração do mercado – em tempos de medo o consumo é substituído pela poupança – o governo de George W. Bush viu a economia estagnar. Para evitar que a recessão se ampliasse, injetou dinheiro grosso no mercado, concedendo uma espécie de bolsa-consumo a praticamente todos os cidadãos economicamente ativos, ao mesmo tempo em que afrouxava as regras do crédito imobiliário.

Animados pelo ingresso de novos consumidores neste mercado milionário, os bancos venderam imóveis para quem não tinha capacidade de pagar. Pensaram no curto prazo, no aquecimento imediato dos negócios, confiando nas próprias tradições. Além disso, promoveram a securitização da dívida, que, em bom português, significa transformar créditos imobiliários em títulos e repassá-los para o mercado, inclusive internacional. Quando os recém-chegados ao clube da casa própria não conseguiram mais honrar as hipotecas, iniciou-se o efeito-dominó.

Os Lhemans e Lynchs da vida foram irresponsáveis e naufragaram na própria soberba, nisso o presidente Lula tem razão. Talvez Bush, além de fazer vistas grossas enquanto a situação se agravava, tenha mesmo demorado a entrar em ação – o que não é nenhuma novidade, no caso dele – e quem sabe até, em outras circunstâncias, se pudesse dizer bem feito para eles. Mas, numa economia globalizada, ao se assistir com certo prazer à agonia alheia pode se estar desdenhando do próprio risco de morte. No mundo de hoje doenças financeiras são sempre epidêmicas.


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